O presente trabalho enfoca as pesquisas geoarqueológicas desenvolvidas em Grão Pará, sul do Estado de Santa Catarina, município que tem sido alvo de estudos arqueológicos desde 2003. A fim de corroborar com as pesquisas em andamento, realizamos o levantamento geológico e geomorfológico do seu ambiente. A pesquisa ofereceu subsídios para entender a utilização deste espaço pelos grupos que habitaram os sítios arqueológicos mapeados por Farias (2005). A partir deles, identificamos as áreas de captação de recursos minerais. Foram conhecidas quais as principais matérias-primas minerais encontradas nos artefatos resgatados nos cinco sítios já mapeados. Enfim, buscamos identificar os espaços escolhidos para os assentamentos e as áreas propícias à captação de recursos minerais, realizando análise em laboratório do material arqueológico e das principais rochas e minerais resgatados nas prospecções realizadas no entorno dos sítios. A pesquisa foi orientada por cartas topográficas, geológicas e hidrográficas, além da verificação in loco das áreas de captação de recursos.

Inicialmente, necessitávamos conhecer o ambiente a ser pesquisado. Por isso, efetuamos o levantamento bibliográfico relacionado aos aspectos físicos do município, identificando, quais os elementos geológicos e geomorfológicos que configuram a área da pesquisa. Após esse levantamento preliminar, efetuamos as saídas de campo, onde delimitamos as áreas propostas para a captação de recursos minerais através de prospecções no entorno dos sítios. A partir daí, identificamos as estruturas geológicas a eles associadas, como afloramentos minerais utilizados na confecção dos artefatos. Produzimos uma série de mapas, adaptados da carta Criciúma CPRM (2000), identificando as principais áreas de captação de recursos minerais, baseados na teoria de Vita Finzi e Higgs (1970), que definem a área de captação como sendo a superfície total de onde procedem os elementos do sítio arqueológico. A partir disso, realizamos um inventário total dos artefatos resgatados nos sítios e os lugares de procedência da sua matéria-prima. Além disso, preparamos uma coleção de referência com as rochas e minerais coletadas.

Durante as prospecções na área delimitada para os sítios SC-GP-01 e SC-GP-02 foram encontrados dois afloramentos minerais: um de sílica, ao lado da estrada Grão Pará - Rio Cachorrinhos e outro de quartzo ao lado do rio Capivaras. Como o material lítico encontrado apresenta-se principalmente em quartzo, supõe-se que seu afloramento forneceu material para a indústria lítica dos dois sítios. Como o do sítio SC-GP-03, não teve sua indústria lítica identificada, a análise ficou restrita à área delimitada. Para os sítios SC-GP-04 e SC-GP-05 delimitamos a mesma área, tendo em vista a proximidade dos dois sítios. A indústria lítica do primeiro apresentou predominância de sílica nos materiais encontrados com 45,4%, o quartzo aparece em 34,5%. Mesmo o afloramento de sílica estando fora da área delimitada, ele foi apontado como local onde a matéria-prima teria sido coletada,cujo deslocamento foi facilitado pelo vale do Rio Braço Esquerdo, bastante acessível geomorfologicamente. A relação com o afloramento de quartzo ao lado do Rio Capivaras também é possível. O Sítio SC-GP-05 apresentou em sua indústria lítica predominância de quartzo, por isso, sua origem foi associada ao afloramento de quartzo encontrado ao lado do Rio Capivaras. A área da pesquisa tem geomorfologia marcada por topografia muito irregular. Entende-se que os vales formados pelos rios da região constituíam verdadeiros "corredores" que facilitariam o deslocamento dos caçadores-coletores na busca de matérias-primas. Esses dados foram transferidos para um mapa, onde destacamos a geologia e a geomorfologia local, bem como a área de localização das jazidas minerais passíveis de captação de recursos.

A pesquisa revelou informações a respeito da indústria lítica e da escolha da matéria-prima pelo artesão, envolvendo desde a tecnologia utilizada no processo de produção, até propostas no sentido de entender a dinâmica que abrangia a coleta dos minerais, a escolha das áreas de captação de matéria-prima e a produção dos artefatos. Para os cinco sítios mapeados no município foi delimitada a área de captação dos recursos minerais dos grupos que ali viviam, com 10 km de raio para os grupos caçadores-coletores, de forma que a energia despendida para chegar até um elemento de interesse do grupo fosse compensada pela qualidade do material coletado. Inferimos, baseados em dados etnográficos e através da pesquisa in loco, que os grupos que habitaram os sítios mapeados retiravam sua matéria-prima de um raio inferior a 10 km (o que equivale a menos de duas horas de caminhada), sendo poucas as matérias-primas importadas do planalto ou do litoral, uma vez que o espaço habitacional lhes proporcionava material de qualidade para a produção de seus artefatos.