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G. Ciências Humanas - 5. História - 8. História Regional do Brasil

O TOCANTINS NO DISCURSO DA LITERATURA REGIONALISTA

Lucialine Duarte Silva 1
Ana Elisete Motter 1
(1. Universidade Federal do Tocantins)
INTRODUÇÃO:

As identidades são construtos complexos, originados de vários discursos que, veiculados em determinadas formações discursivas, procuram legitimar-se. Esses discursos instituem representações de uma sociedade, tendo em vista que os mesmos constroem comunidades imagéticas e sujeitos sociais, atribuindo papéis definidos aos mesmos. O discurso que analisamos neste trabalho, o da Academia de Letras de Araguaína e Norte do Tocantins – ACALANTO, tem características regionalistas, ou seja, é um discurso que exalta uma região, destacando suas diferenças como forma de contribuir para a construção de uma identidade regional, pois como refere Bourdieu (1989): “ o discurso regionalista é um discurso performático que tem em vista impor como legítima uma nova definição das fronteiras e dar a conhecer e fazer conhecer a região assim delimitada. “ (1989:119).      

METODOLOGIA:

Este trabalho busca evidenciar, através da analise do discurso da literatura regionalista, alguns esforços desse mesmo discurso para a construção da identidade regional tocantinense, tendo como corpus documental as obras da Academia de Letras de Araguaína e Norte do Tocantins ACALANTO. Para tanto, contamos com oito obras da ACALANTO, a saber: Um grito em defesa da família (1997) e Poemas: aos jovens com carinho (s/d), de Ângelo Bruno; A cor escura: poemas e contos tocantinenses (s/d), de autoria de Josué Luz; Encontros na praça (s/d); Imguinorapulis (s/d)  de Jauro Gurgel; Silêncio Prudente (2000) e Antologia de memórias: um passeio pelo tempo (2004), de autoria de Pe. Remígio Corazza; e Achados Poéticos: uma antologia dos poetas da ACALANTO (2003), de Mirian Deboni.Em nossa analise destacamos, nas obras dos membros da ACALANTO, as categorias identiárias tocantinenses com base no critério da incidência quantitativa, ou seja, o critério da repetição, pois, acreditamos que, através da regularidade com que certos enunciados são emitidos, há toda uma esteriotipação que é subjetivada por quem é esteritipado. Além da incidência quantitativa, laçamos mão de algumas ferramentas da chamada análise de discurs, que busca interrogar as formas como são construídas as condições de existência dos discursos. 

RESULTADOS:

Como resultado da análise do discurso da literatura regionalista dos membros da ACALANTO, podemos afirmar que esse discurso constrói uma representação do sujeito e da sociedade tocantinense, bem como do que é o Tocantins. Nessa representação, o sujeito tocantinense é caracterizado por ser um sujeito simples, hospitaleiro, que é supersticioso e  tem uma sabedoria popular que lhe vale em muitas ocasiões, desenvolvendo uma medicina popular. È também identificado por seu forte sentimento religioso, que revela o caráter conservador e tradicional da sociedade regional em foco, que tem algumas de suas relações moldadas pela religião, que condena o aborto, adultério, sexo antes do casamento e que imprime a esse sujeito um sentimento de subserviência, pois acredita que todo sofrimento será amenizado apenas por obra da fé. Essa sociedade, ainda é retratada, pela desvalorização da cultura e pela falta de consciência de preservação da memória. A região desse sujeito, o norte do Tocantins, é representado por esse discurso, como uma região que foi usada para contribuir na campanha de autonomia do Estado do Tocantins e que, após a efetivação da autonomia, teve suas esperanças de comportar a sede político-administrativa do novo Estado abortadas. Acreditamos que esse discurso, em função desse fato e como forma de valorizar a região, busca enaltecer as qualidades do norte do Tocantins, através do enaltecimento do seu desenvolvimento econômico, suas belezas e riquezas naturais.    

CONCLUSÕES:

Nesse contexto, a região norte do Tocantins é “dita”, por esse discurso, como sendo um pólo referencial para todo o Estado, é a região impulsionadora do desenvolvimento econômico do Tocantins. Tudo indica, que essas dizibilidades enltecedoras, referentes à região em pauta, têm relação com o fato da mesma ter sido preterida, no momento da autonomia do Estado. Pois, na época, os enunciados de várias instituições discursivas, propagavam as esperanças da cidade de Araguaína (pólo administrativo da região norte do Tocantins), tornar-se sede político-administrativa do novo Estado. No entanto, Palmas foi construída na região mais central do Estado, despertando um sentimento de exclusão na populção da região norte-tocantinense. Assim, o discurso da ACALANTO enaltece as qualidades da região norte do Tocantins como forma de dae a esta uma maior visibilidade nos cenários estadual e nacional. Esse discurso veicula, também, imagens sobre o sujeito e a sociedade dessa região, procurando definir os lugares sociais que, tanto os sujeitos regionais como a própria região norte-tocantinense, ocupam no cenário estadual. Pois, essa imagens veiculadas, nos enunciados em pauta, procuram forjar uma identidade para a região e os sujeitos nela inseridos.                 

 

Instituição de fomento: PIBIC/UFT
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: IDENTIDADE; DISCURSO REGIONALISTA; LITERATURA.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006