IMPRIMIR VOLTAR
D. Ciências da Saúde - 4. Odontologia - 6. Odontopediatria

EVENTOS ADVERSOS ASSOCIADOS AO USO DE SEDATIVOS EM ODONTOPEDIATRIA

Sarah Vieira Brasileiro 1
Luciane Ribeiro de Rezende Sucasas da Costa 1
Larissa Marcelino Rabelo 1
(1. Faculdade de Odontologia - Universidade Federal de Goiás)
INTRODUÇÃO:

Para a determinação da segurança de medicamentos empregados na sedação moderada de crianças um dos aspectos que devem ser pesquisados é a ocorrência de eventos adversos possivelmente relacionados aos protocolos medicamentosos. Eventos adversos correspondem a “qualquer ocorrência médica não desejável, que pode estar presente durante um tratamento com um produto farmacêutico, sem necessariamente possui uma relação causal com o tratamento. Todo evento adverso pode ser considerado como uma suspeita de reação adversa a um medicamento” (Cobert e Biron, 2002 apud ANVISA, 2005). Vários trabalhos têm se preocupado em mostrar a eficácia ou a efetividade do uso de sedativos em odontopediatria, porém costumam não enfatizar a ocorrência desses eventos adversos. Isso pode levar o cirurgião-dentista a não esclarecer o paciente e/ou seu responsável adequadamente sobre os problemas que podem acontecer com o uso do medicamento, implicando em questões éticas e na falha de comunicação paciente-profissional. Justifica-se, então, a realização de pesquisa que verifique a ocorrência de eventos adversos em crianças sedadas para tratamento odontológico. Este estudo propôs-se observar a ocorrência de eventos adversos associados ao uso de sedativos em crianças no tratamento odontológico.

METODOLOGIA:

Foram incluídas crianças atendidas no Núcleo de Estudos de Sedação Odontopediátrica (NESO) no período de novembro de 2001 a julho de 2005, de acordo com os seguintes critérios: crianças ASA 1 ou 2, ou seja, conforme a American Society of Anesthesiology, saudáveis ou com leve enfermidade sistêmica; crianças que não cooperassem com o atendimento odontológico sob condicionamento psicológico, resultando em perda da qualidade do trabalho do profissional e estresse para a própria criança; crianças que não apresentassem hipertrofia de adenóides documentada ou ronco noturno. Após o esclarecimento do responsável legal pela criança sobre a pesquisa, e a obtenção do TCLE, o paciente era avaliado por um médico pediatra, que registrava os sinais vitais e o estado geral da criança. Em seguida, administrava-se o medicamento por via oral, segundo os grupos: hidrato de cloral (70, ou 100,0 mg/kg) – máximo 2g. e midazolam (1,0 ou 1,5 mg/kg) – máximo de 20 mg.

Todo o atendimento odontológico foi monitorado, desde a administração do sedativo até a alta da criança, e os dados registrados em ficha de avaliação operatória, permitindo a anotação dos sinais vitais (saturação de oxigênio, freqüência respiratória, freqüência cardíaca e pressão arterial) em intervalos de 15 minutos. Também era reportada a ocorrência de quaisquer eventos não caracterizados à sedação propriamente dita. Cerca de 24 horas após o tratamento, a pesquisadora entrava em contato com o responsável pela criança, por meio de telefonema, questionando-o sobre o comportamento e o estado geral dela nesse período. 

Os dados foram então tabulados conforme as seguintes variáveis: dependente ou resposta: ocorrência de evento adversodicotômica categórica (sim/não), tipo de evento adverso; e independentes: tipo de sedativo empregado (midazolam ou hidrato de cloral), momento de ocorrência do evento adverso (trans ou pós-operatório). As comparações estatísticas foram realizadas pelo teste do qui-quadrado ou pelo teste exato de Fisher, este último nos casos em que havia pequeno número de amostras (programa SPSS). Foi considerada diferença estatisticamente significante o valor de p inferior a 0,05. Além disso, estabeleceu-se a freqüência absoluta e relativa de cada tipo de evento adverso observado.

RESULTADOS:

Os resultados são representados por 103 sessões de atendimento, correspondentes a 43 crianças de 16 a 102 meses (média 42,9 meses, mediana 43 meses), sendo 20 do sexo feminino e 23 do sexo masculino. No grupo do midazolam, 74 sessões foram realizadas, enquanto outros 29 atendimentos foram realizados tendo como sedativo o hidrato de cloral. Observou-se eventos adversos em 70 das 103 sessões (68%), sendo 46 com o midazolam e 24 com o hidrato de cloral, correspondendo a 42 crianças. A análise estatística mostrou diferenças significantes entre ambos sedativos para a ocorrência de eventos adversos (p=0,044). Sendo que o hidrato de cloral foi o medicamento que apresentou maior número de eventos adversos.

CONCLUSÕES:

Observou-se eventos adversos em 68% das sessões registradas (70/103). Os eventos adversos observados foram pouco preocupantes, que nenhum deles trouxe risco grave para a vida do paciente: vômito, soluço, alucinação, irritação, dessaturação de oxigênio, mal-estar, tontura, sono excessivo, náusea. O hidrato de cloral apresentou mais eventos adversos do que o midazolam.

Instituição de fomento: CNPq/UFG
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: odontopediatria; sedação; eventos adversos.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006