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F. Ciências Sociais Aplicadas - 2. Economia - 8. Economias Agrária e dos Recursos Naturais

VALORANDO O ECOTURISMO E AS ATIVIDADES RECREACIONAIS DA ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL SERRA DE SÃO JOSÉ (MG): UMA APLICAÇÃO DOS  MÉTODOS CUSTO DE VIAGEM E DA VALORAÇÃO CONTINGENTE

 

 

Patrícia Fernanda da Silva Pereira  1
Eneida Maria Goddi Campos 2
(1. Acadêmica do Depto. de C. Econômicas da Univ. Fed. de São João del Rei /UFSJ; 2. Profa. Pós doutoranda Adjunta do Depto. de C. Econômicas - DCECO /UFSJ)
INTRODUÇÃO:

O presente trabalho teve como objetivo estimar o valor econômico da APA São José, através das parcelas dos valores de uso direto (VU, qual seja, demanda por ecoturismo e atividades recreacionais), de opção (VO, isto é, uso futuro da APA) e de existência (VE, representando a preservação destituída de qualquer tipo de exploração). Devido ao seu rico patrimônio natural, a Serra de São José, localizada no Estado de Minas Gerais, foi decretada, em 1990, uma Área de Proteção Ambiental (APA), e também um Refúgio de Vida Silvestre (RVS), no ano de 2004. Ambas são unidades de conservação, sendo que a primeira pertence ao grupo das Unidades de Uso Sustentável, enquanto o RVS faz parte do grupo de Unidades de Proteção Integral. Tal ecossistema é composto ao sul por remanescentes da Mata Atlântica, e ao norte, pelas matas de galerias e o cerrado. No topo da mesma encontra-se a vegetação denominada campo rupestre, possuindo também várias espécies de libélulas (cerca de 50% de todas as espécies encontradas em Minas Gerais, e 18%, no Brasil), anfíbios anuros, aves, orquídeas e mamíferos ameaçados de extinção. Constitui-se, também, em um lugar para relaxamento, camping e escaladas. Apesar disso, a APA São José tem sido degradada pela urbanização desordenada, venda ilícita de orquídeas, queimadas, incêndios criminosos e furtos aos turistas. Partiu-se da hipótese de que somatório dos valores de uso direto, de opção e de existência é positivo e representa os benefícios econômicos, sócio-culturais e ambientais gerados pela conservação/ preservação da APA São José, os quais se refletem sobre o bem-estar daqueles que a visitam, a população que habita seu entorno e a sociedade como um todo.

METODOLOGIA:

Usou-se, neste estudo de caso, as técnicas de valoração econômica-ambiental do Custo de Viagem (CV) e da Valoração Contingente (VC). O primeiro procedimento metodológico foi a aplicação de questionários (social survey questionnaire), para o qual determinou-se o tamanho das amostras tanto dos turistas, quanto dos moradores de Tiradentes, um dos municípios que faz parte da APA São José. Após aplicação dos questionários, obteve-se os dados para se estimar as funções de demanda pelo ecoturismo, conservação e preservação da APA. Utilizando o método CV, ajustou-se uma reta de regressão, correlacionando o número de dias de permanência dos turistas, informações socioeconômicas e seus gastos com a viagem e ecoturismo . De posse desta função, bem como dos valores médios do custo de viagem e do número de dias de permanência, calculou-se o excedente do consumidor, obtendo, assim, o valor de uso direto por turista. Tal valor foi multiplicado pelo número de turistas, encontrando-se o valor de uso direto total. Objetivando captar os valores de opção e de existência, utilizou-se a VC. Para tanto, calibrou-se outras duas funções de demanda, relacionando a DAP (disposição a pagar) para conservá-la (VO) e preservá-la (VE), com os dados socioeconômicos dos moradores tiradentinos, encontrando-se as DAPs médias individuais e totais.

RESULTADOS:

Através dos procedimentos metodológicos descritos anteriormente, obteve-se o valor econômico da APA São José referente à área que abrange o município de Tiradentes. Nesta cidade foram entrevistados 88 turistas que praticaram o ecoturismo na APA durante os meses de out./2004 a mar./2005. Destes, 59,09% eram do sexo feminino e 40,91% do sexo masculino, sendo a idade média igual a 35 anos. Em relação à renda familiar, em média, cada respondente recebe 13,58 salários mínimos por mês, o que equivale a R$ 3.530,80, a preços de mar./2005. Dos 88 entrevistados, cerca de 80% possuem pelo menos quinze anos de estudo, sendo que 36,36% são graduados, e 45,45% são pós-graduados. Constatou-se, também, ao calcular o excedente do consumidor, que o valor de uso direto total foi de R$ 740.066,88. Além dos turistas, entrevistou-se 136 moradores de Tiradentes, os quais atribuíram os valores de VO e VE em jan. e fev. de 2005. Verificou-se que 59,56% eram do sexo feminino e 40,44% do sexo masculino, sendo que, em média, cada morador entrevistado tinha 42 anos. Quanto à renda familiar mensal, baseando-se na moda, constatou-se que a maioria dos moradores, 122, recebia 2,5 salários mínimos/ mês. Dos 136 respondentes, mais de 50% dos entrevistados não concluíram o ensino fundamental. Os valores de opção e de existência foram de R$ 131.364,074 e R$ 154.164,40, respectivamente, os quais, somados ao valor de uso direto resultaram em R$ 1.025.595,35, isto é, o valor econômico da APA em 2005.

CONCLUSÕES:

Diante dos resultados apresentados, concluiu-se que a proteção da APA São José gera benefícios econômicos, sócio-culturais e ambientais. Confirmou-se a hipótese inicial, o que justifica a captação/alocação de recursos para conservá-la. Por serem consistentes, estes valores servem de parâmetro para subsidiar políticas públicas de uso sustentável da mesma (uso limitado à capacidade de suporte - carrying capacity), incluindo-se a determinação de multas ou punições por danos ambientais a esta relevante amenidade ambiental; ou para cobrança pelo uso (taxa de admissão), se necessário. As agências de ecoturismo poderão ainda projetar variações da demanda pela APA em relação as alterações de renda e custo de viagem dos turistas, usando a função de demanda estimada.

Instituição de fomento: PIBIC/CNPq
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: unidades de conservação ambiental; custo de viagem; valoração contingente.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006