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D. Ciências da Saúde - 8. Fisioterapia e Terapia Ocupacional - 1. Fisioterapia e Terapia Ocupacional

ANTROPOMETRIA DO PÉ DE CRIANÇAS OBESAS: ESTUDO DO ARCO LONGITUDINAL MEDIAL POR MEIO DA IMPRESSÃO PLANTAR

Priscila Saraiva Souza 1
Isabel de Camargo Neves Sacco 1
(1. (1) Departamento de Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional - USP)
INTRODUÇÃO:
A obesidade infantil cresce muito no mundo todo e esta patologia leva a alterações posturais, inclusive na estrutura dos pés dessas crianças. Na região sudeste do Brasil, 11,9% das crianças entre 1 e 9 anos de idade são obesas (Abrantes et al, 2002). As implicações da obesidade no aparelho locomotor devem ser melhor compreendidas, já que o pé é uma estrutura que apresenta estabilidade e ao mesmo tempo, flexibilidade, para atenuar o impacto recebido pelo corpo e fornecer a propulsão necessária para as atividades funcionais (Hills et al, 2002; Saibiene & Minetti, 2002). Seu desenvolvimento envolve a formação de arcos plantares, entre eles o arco longitudinal medial (ALM), o principal (Gross, 2000). Crianças apresentam um pé fisiologicamente plano, desenvolvendo seus arcos com a maturação biológica (Volpon, 1994). Crianças obesas podem apresentar um rebaixamento ainda maior do ALM em função da sobrecarga imposta a ele (Napolitano et al, 2000; Van Boerum & Sangeorzan, 2003). O estudo objetivou descrever o desenvolvimento do ALM de crianças obesas da cidade de São Paulo dos 4 aos 10 anos de idade e comparar 5 índices que caracterizam o ALM por grupo etário. Com isso, pretende-se fornecer dados para avaliação do pé infantil, facilitando a definição do ALM rebaixado fisiológico e patológico, além do conhecimento das implicações do excesso de peso na morfologia do pé para contribuir com a prevenção, tratamento e manipulação desta condição.
METODOLOGIA:
A amostra foi composta por 156 crianças obesas de ambos os sexos, voluntárias, entre 4 e 10 anos de idade, pertencentes a escolas das redes pública e privada da cidade de São Paulo. Foram adquiridos dados de massa e estatura das crianças para os cálculos de Índice de Massa Corpórea e as crianças foram consideradas obesas de acordo com a classificação de Cole et al (2000). Em seguida foi coletada a impressão plantar bilateral, utilizando-se um pedígrafo, com a criança em ortostatismo e descarga de peso bilateral. O pedígrafo é composto por duas superfícies retangulares planas e de mesmo tamanho, sendo a inferior rígida, onde se coloca uma cartolina que recebe o registro da impressão e a superfície superior é uma tira de borracha, a qual é pintada com tinta em sua face interna, ficando a mesma em contato com a cartolina quando o indivíduo pisa com um pé sobre a borracha. A partir das impressões foram realizados os cálculos de 5 índices classificatórios do ALM: o Índice de Cavanagh e Rodgers (CR), índice de Staheli, englobando suas duas classificações – IS1: proposta por Staheli et al (1987) e IS2: proposta por Echarri e Forriol (2003), índice de Chipaux-Smirak (ICS) e ângulo alfa de Carke (AA).
RESULTADOS:
Observou-se semelhança estatística entre a classificação do ALM dos pés direito e esquerdo em todas as idades, totalizando uma amostra de 312 impressões plantares. Na comparação entre os grupos de idade para cada índice foram utilizados os testes ANOVA ou ANOVA Kruskal Wallis e observou-se a existência de diferenças estatisticamente significativas para todos os índices, sendo que, os grupos de 4 a 6 anos foram sempre iguais. Para CR, IS e ICS a grande alteração do ALM ocorre dos 8 para os 9 anos e para o AA, há dois momentos de mudanças, dos 6 para os 7 anos e dos 8 para os 9 anos. Em todos os índices observou-se que não há diferença entre os grupos 9 e 10, considerando não haver mudança no ALM nessa faixa etária. Na comparação entre as cinco classificações (CR, IS1, IS2, ICS e AA) por idade, utilizou-se o teste ANOVA de Friedman e observou-se que todos os índices foram diferentes entre si em cada idade, entretanto, a classificação das médias foi semelhante durante o desenvolvimento do pé, principalmente para CR, ICS e AA, sendo que, de uma maneira geral, a classificação IS1 foi a mais discrepante para classificar o ALM nessas crianças e o CR a mais constante. O teste Quiquadrado mostrou que a incidência de ALM baixo foi maior nos grupos de 4 a 8 anos para todos os índices e pôde-se observar que para todos eles houve diferença estatística entre os grupos de 4 a 8 anos e os grupos de 9 a 10 anos. Foi adotado nível de significância inferior a 5% para diferenças significativas.
CONCLUSÕES:

O ALM das crianças obesas sofre as maiores alterações na passagem dos 8 para os 9 anos, isto é, mais tarde do que em crianças não obesas, que apresentam maior alteração dos 5 para os 6 anos. Entretanto, conserva-se a tendência de maturação do arco, como nas crianças não obesas. Esse atraso pode ser em função da sobrecarga imposta sobre estruturas formadoras do arco, como ossos e músculos imaturos ainda, ou mesmo por incapacidade dos índices utilizados para detectar a formação gradual do ALM em um pé com coxim gorduroso maior e mais persistente. Assim como em crianças não obesas, há maior proporção de ALM baixo nas crianças de menor idade, entretanto, essas proporções são maiores nas crianças obesas para todas as idades. Quanto às classificações do ALM, o CR é o mais citado e utilizado, entretanto exige uso de equipamento específico (planímetro) para seu cálculo. O ICS e o AA têm a vantagem de apresentarem, dentro das suas cinco classificações do ALM, três para rebaixamento do arco, fato importante para crianças, principalmente obesas, e desta forma permite maior precisão em sua aferição. O IS é o que merece maior cuidado e restrição em seu uso, pois qualquer uma das duas classificações propostas na literatura (IS1 e IS2) não foi sensível para detectar o desenvolvimento do arco nessas crianças e o IS1 nem mesmo detectou o rebaixamento deste arco.

Instituição de fomento: FAPESP
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: obesidade; infância; arco longitudinal medial.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006