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D. Ciências da Saúde - 2. Medicina - 3. Clínica Médica

QUANTIFICAÇÃO DA FIBROSE INTERSTICIAL RENAL EM INDIVÍDUOS HIPERTENSOS AUTOPSIADOS

Fabiano Bichuette Custodio 1
Juliana Regina Dias 1
Vicente de Paula Antunes Teixeira 1
Marlene Antônia dos Reis 1
(1. Disciplina de Patologia Geral. Universidade Federal do Triângulo Mineiro-UFTM)
INTRODUÇÃO:

A Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) é uma doença silenciosa, altamente prevalente (25% da população mundial) e de elevado custo médico-social, principalmente por sua estreita relação com as doenças cárdio-vasculares. Os principais danos causados pela HAS são as lesões em órgãos alvo, como coração, cérebro e rins. A lesão renal causada pela HAS, a nefroesclerose hipertensiva, é a 2ª principal causa de doença renal terminal (DRT). A nefroesclerose maligna (NM) é conhecida causa de DRT. Contudo, estabelecer a nefroesclerose benigna (NB), causada pela HAS essencial, como etiologia isolada da DRT é ainda controverso.  O dano renal provocado pela HAS não se deve apenas à lesão isquêmica: fatores como hipertensão e esclerose glomerular, stress oxidativo, síntese de fatores inflamatórios (principalmente o TGF-β) e hiperativação do sistema renina angiotensina são fundamentais na patogênese da lesão, podendo essa evoluir para fibrose tubulointersticial renal, marcador de gravidade e mau prognóstico. Ao se quantificar a fibrose intersticial renal de indivíduos hipertensos autopsiados, buscou-se caracterizar a intensidade do comprometimento renal na vigência de HAS essencial.

METODOLOGIA:

Através do Arquivo de Autópsias da Disciplina de Patologia Geral da UFTM, entre 1985 e 2004, foram selecionados indivíduos com achados característicos de HAS, sendo obrigatória presença de, no mínimo, cardiopatia hipertensiva (CH) e nefroesclerose, podendo essa ser NB ou NM. O diagnóstico de nefroesclerose hipertensiva foi confirmado macro e microscopicamente. Foram excluídos os indivíduos com nefropatias primárias (pielonefrite, nefrolitíase, rins policísticos, glomerulonefrite) ou secundárias (Diabetes mellitus, Lupus, Hepatite). Para estudo do parênquima renal e quantificação da fibrose intersticial, foram analisadas lâminas do pólo médio do rim direito desses indivíduos (previamente confeccionadas na época da autopsia), sendo essas lâminas coradas pelo Pícro-Sírius (específica para colágeno, principal componente da fibrose) e analisadas sob luz-polarizada. A morfometria foi feita através do programa KS da Carl-Zeiss, em que a área de fibrose foi medida e seu valor expresso em porcentagem em relação à área total de parênquima renal analisado. Foram analisados 50 campos em cada lâmina,(número definido pelo método da média acumulada) escolhidos ao acaso, visando assim representar todo parênquima renal.

RESULTADOS:
Foram selecionados 41 casos; predominou o sexo masculino (n=28; 68,3%) e a raça branca (n=22; 53,6%). A idade média foi 59,04 anos. Todos os indivíduos apresentaram CH e NB, não havendo casos de NM. Onze casos (26,82%) apresentavam quadro de doença hipertensiva grave (DHG), marcada por intensa redução da luz do ventrículo esquerdo, perda da distinção córtico-medular renal e hemorragia cerebral parenquimatosa. Ao se quantificar a fibrose intersticial renal, observou-se que em 17 casos (41,46%) a fibrose média foi maior que 20% (média de 22,4%), caracterizando assim lesão renal moderada a intensa; em 16 casos (39,02%), a média da fibrose ficou entre 15 e 20% (média de 16,75%).Não houve correlação com a idade. A fibrose intersticial renal foi mais intensa nos indivíduos da raça negra, sendo que dos 19 indivíduos de raça negra analisados, 10 apresentavam fibrose renal superior a 20%. Ao se correlacionar a porcentagem de fibrose com a relação peso renal/ peso corporal, obteve-se um valor negativo (s:-0,298) tendendo para significativo (p=0,058). Na associação entre fibrose renal e causas de morte, viu-se que as causas cardiovasculares correspondiam a uma fibrose média de 19,86%, enquanto as causas digestivas e infecciosas correspondiam a 16,942% e 16,397%, respectivamente (f=3,256 e p=0,049). Os indivíduos que apresentavam DHG tiveram uma fibrose média de 21,22% enquanto os demais apresentaram 16,95% de fibrose (t=3,475 e p=0,001).
CONCLUSÕES:

Conclui-se que a Nefroesclerose Benigna cursa com importantes lesões renais, visto a expressiva porcentagem de fibrose intersticial encontrada nesses indivíduos. Nesse estudo, a fibrose renal mostrou-se intimamente ligada à perda de parênquima renal funcionante (representada pela redução do peso renal), às doenças cardiovasculares e à gravidade da hipertensão arterial. Portanto a fibrose intersticial renal apresentou-se como um ótimo marcador do impacto renal e global da HAS. A lesão renal causada pela HAS mostrou direta associação com maior risco cardiovascular. A Hipertensão Arterial é importante causa de doença renal terminal, contudo a Nefroesclerose Maligna é um processo cada vez menos comum. Assim, a Nefroesclerose Benigna (fruto da HAS essencial, que abrange a imensa maioria dos hipertensos) deve ser encarada, diferentemente do que se pensa, como um importante processo lesivo para o rim, mostrando ser uma entidade não tão “benigna” assim.

Instituição de fomento: CNPq FAPEMIG FUNEPU
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: Hipertensão Arterial Sistêmica; Nefroesclerose Hipertensiva; Fibrose Intersticial Renal.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006