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F. Ciências Sociais Aplicadas - 11. Educação Física e Esportes - 1. Educação Física e Esportes

ANÁLISE DO CRESCIMENTO E DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL NA FAIXA ETÁRIA DA EDUCAÇÃO INFANTIL E DO PRIMEIRO ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL.

Aline Manetta Perticarati 1
Ademir De Marco 1, 2
(1. Facis/Faculdade de Educação Física/Universidade Metodista de Piracicaba-UNIMEP; 2. Prof. Dr. )
INTRODUÇÃO:
 

O homem em toda a sua existência sempre buscou a compreensão acerca de sua própria natureza, e, com a sua evolução, o estudo do desenvolvimento humano vem se tornando cada vez mais atuante. Um aspecto importante dessa evolução é a duração de cada etapa da vida, gestação, infância, adolescência, adultice e velhice com suas mudanças significativas para a sobrevivência humana. O crescimento da criança apresenta o ritmo biológico natural determinado pela evolução filogenética (história evolucionária da espécie) integrado com adaptações ambientais (ontogenética) promovendo a interação entre o biológico e o cultural, tendo como objetivo a sobrevivência da espécie, postulado por MARTUSCELLI(2000).

Guedes(1997) constata que existem vários fatores que têm influência no crescimento físico, composição corporal e desempenho motor e cita que alguns destes fatores são de origem genética, como aspectos raciais ou étnicos, e outros são de origem ambiental, como clima, altitude, posição geográfica. Existem também os aspectos sócio-econômicos que são de grande importância na integração dos fatores ambientais com os genéticos, podendo acontecer com maior ou menor intensidade, dependendo da época em que agem sobre as crianças.

Com base nestas considerações, Matsudo (1993) cita que para analisar dados de uma população deve-se levar em consideração a idade, a raça, a maturação e o nível sócio-econômico.

A Educação Física tem intensificado de maneira positiva os estudos pedagógicos e as investigações científicas em relação ao movimento humano. Isto tem ocorrido não mais sob o prisma unitário do corpo biológico, mas sim entendendo o corpo como uma totalidade que se expressa pelas intenções, gestos e emoções. Assim ao estabelecermos nessa pesquisa, a análise conjunta do crescimento, entendido como um processo físico e biológico, com o desenvolvimento neuromotor, estamos privilegiando essa visão integradora do ser humano, pois não podemos concebê-lo de forma fragmentada.

Portanto, o objeto de estudo que colocamos em evidência é o do “homem em movimento”. Bartolo e De Marco (2002) demonstraram que o espaço da creche é fundamental para que a criança treine e adquira a autonomia para a marcha independente. Ao analisarem crianças nesse ambiente, puderam identificar os espaços e as oportunidades necessárias para que as crianças desenvolvessem essa habilidade. Este estudo evidenciou a necessidade do profissional de Educação Física conhecer detalhadamente as etapas da maturação neurológica e do envolvimento social da criança com seu meio.

O objetivo deste estudo foi avaliar o desenvolvimento motor de crianças de 3 a 7 anos de idade da cidade de Piracicaba, com base nos estudos de Lefèvre(1976) através do Exame Neurológico Evolutivo -ENE. Faz parte do Projeto Mãe que envolve mais dois estudos com a mesma população: análise das habilidades motoras básicas ( GALLAHUE, OZMUN, 2001) e Avaliação do Crescimento (MARCONDES,2002 e LOPEZ, 2002). Assim, foi realizada neste estudo a montagem do ENE bem como sua aplicação e discussão dos resultados para que posteriormente haja a correlação destes dados apresentados com os dos outros estudos e ainda para que sejam detectados possíveis déficits neuromotores, possibilitando a intervenção do profissional de Educação Física e o trabalho em conjunto com a Instituição, na busca pela melhora do desenvolvimento das crianças.

METODOLOGIA:
 

O ENE é constituído de 124 testes que visam os principais itens que podem traduzir o funcionamento evolutivo do SNC de crianças: equilíbrio estático e dinâmico, coordenação apendicular e tronco-membros, diadococinesia, persistência motora, tono muscular, reflexos profundos e cutâneos, alguns aspectos da sensibilidade epicrítica e da fala, lateralidade.

Os materiais indicados por Lefèvre (1976) foram usados corretamente e de forma que fosse interessante para a criança participar desse exame, evitando o desânimo ou desinteresse da mesma.

O prazo para aplicação dos testes tem variação de dois meses anteriores ou posteriores à data de aniversário de cada criança.

O ENE foi aplicado através de uma ficha de observação elaborada a partir da descrição de cada prova e dentro de seus parâmetros, divididas por faixa etária. O teste foi aplicado de modo que se a criança não se enquadrasse nos padrões propostos para sua faixa etária, já seria avaliada pela faixa etária inferior e cumprindo com êxito todas as provas seria avaliada pelas provas da faixa etária superior..

Foram avaliadas 121 crianças de 03 a 07 anos de idade(21 crianças de 3 anos, 27 crianças de 4 anos, 38 crianças de 5 anos, 23 crianças de 6 anos, 12 crianças de 7 anos),

de duas Instituições da cidade de Piracicaba:

1. AMAS – Associação Metodista de Ação Social:

Funciona em período integral e atende um público de classe média – baixa, que tem pouco acesso a centros culturais e de lazer. Nesta instituição a Educação Física não faz parte da Grade Curricular, porém em 2002 foi implantado um projeto de Educação Física de mestrandas da UNIMEP.

2. Creche São Vicente de Paulo

A maior parte das famílias dos alunos habita a região periférica da cidade. O desenvolvimento das Atividades de Educação Física é propiciado pelo convênio com o Curso de Educação Física da Facis/ UNIMEP, através de programas de pesquisa FAP/FAPIC e de extensão FAE/UNIMEP.

RESULTADOS:

Exame do Equilíbrio Estático

No padrão de 5 anos, 52,6% apresentou fracasso neste Exame.

No padrão de 6 anos, 65,2% das crianças obtiveram fracasso.

100% das crianças de 7 anos apresentaram déficit.

Exame do Equilíbrio Dinâmico

76,2% das crianças da Faixa Etária de 3 anos não se enquadrou no padrão.

No padrão de 4 anos, 59,3% obtiveram fracasso,

Das crianças de 5 anos avaliadas 71,1% ficaram abaixo do padrão esperado.

No padrão de 6 anos, 52,2% das crianças apresentaram déficit.

Exame de Coordenação Apendicular:

84,2 % das criançasde de 5 anos apresentou fracasso neste exame.

Nas faixas etárias ( 3, 4, 6, 7 anos) o número de fracassos foi superior a 50%.

Exame de Sensibilidade:

66,7% das crianças de 3 anos de idade não se enquadraram no seu padrão.

96,2% das crianças de 4 anos não se enquadrou no padrão.

Das crianças de 5 anos 89,25% não se enquadrou no padrão.

47,8% das crianças de 6 anos apresentaram fracasso.

Exame de Persistência Motora:

Na Faixa Etária de 4 anos 65,4% das crianças estiveram fora do padrão adequado.

Na faixa etária de 7 anos 75% das crianças não obteve sucesso.

Exame de Lateralidade:

Faixa etária de 3 anos: 50% apresentaram lateralidade homogênea e 50% cruzada; 4 anos:44,44% apresentaram lateralidade homogênea e 55,56% apresentaram lateralidade cruzada; 5 anos: 60,52% apresentaram lateralidade homogênea e 39,48% cruzada; 6 anos: 39,13% apresentaram lateralidade homogênea e 60,87% cruzada, e 7 anos: 50% apresentaram lateralidade homogênea e 50% cruzada.

CONCLUSÕES:
 

Refletimos sobre as reais condições nas quais as crianças da atualidade estão inseridas, no período do desenvolvimento infantil compreendido entre os 3 e 7 anos de idade. Em grande parte dos resultados obtidos nas diversas provas aplicadas, um significativo número de crianças estiveram abaixo do desenvolvimento neurológico esperado para as idades testadas. Uma pequena parte das crianças ficaram concentradas no nível esperado para a idade. Um número muito reduzido de crianças, apresentaram resultados superior ao preconizado para a idade.

Numa análise preliminar destes resultados, pensamos em primeiro lugar nas condições ambientais e nas oportunidades efetivas de estimulação com as quais estas crianças possam ser beneficiadas. Por um lado, trata-se de crianças de igual nível sócio-econômico daquelas examinadas por Lefèvre em 1972, por outro lado necessitamos de análise mais detalhada sobre as vivências motoras das crianças deste estudo, uma vez que as mesmas obtiveram resultados inferiores aos aferidos pelo autor. Assim quando nos referimos no início deste capítulo ao repertório motor diário da criança, perguntamo-nos se a mesma tem a possibilidade de experimentar uma gama variada de atividades motoras e de experiências perceptivas e cognitivas. Este será, portanto, nosso caminho na continuidade desta pesquisa, perseguir as causas que possam nos explicar com clareza os reais motivos do desempenho obtido pelas crianças deste estudo. Fica-nos patente, o papel que a Educação Física pode apresentar nestes objetivos de estimulação e ampliação do repertório motor infantil.


Instituição de fomento: PIBIC
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: desenvolvimento neuromotor; avaliação; exame neurológico.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006