IMPRIMIR VOLTAR
E. Ciências Agrárias - 3. Recursos Florestais e Engenharia Florestal - 4. Conservação da Natureza

DECLIVIDADE VERSUS VEGETAÇÃO NATIVA PAULISTA: A CURVA DO DESMATAMENTO

Clayton Alcarde Alvares 1
Alexandre Marco da Silva 2
(1. Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz", Universidade de São Paulo; 2. Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho", Campus Sorocaba)
INTRODUÇÃO:

Estudos inventariando a cobertura vegetal natural paulista têm sido conduzidos, basicamente, a cada decênio, constatando-se reduções da cobertura original do estado (taxas de desmatamento). A cobertura vegetal primitiva atual (vegetação em sucessão primária) do Estado de São Paulo ainda soma, aproximadamente, 19.000 km2 (7,7 %) de seu território, porém a distribuição desta vegetação residual parece não ser aleatória ao longo do estado, tanto na condição regional (províncias geomorfológicas) quanto no nível da paisagem, incitando uma certa dependência da conservação da vegetação natural em função das características do relevo. É a partir desta hipótese que se desenvolve este trabalho, com o objetivo de responder a seguinte questão: O processo de supressão da vegetação nativa paulista está condicionado à declividade do terreno?

METODOLOGIA:

O estudo foi conduzido utilizando-se um banco de dados compatível com Sistemas de Informações Geográficas referente ao último inventário da vegetação natural do Estado de São Paulo, elaborado pelo Instituto Florestal de São Paulo. A base de dados numéricos de relevo do Estado de São Paulo foi obtida do projeto SRTM (Shuttle Radar Topography Mission) disponibilizados pela Embrapa (CNPM).Todas as operações e marcha de cálculos foram realizadas em softwares de geoprocessamento (Idrisi 3.2, Arc View 3.2). Com o propósito de testar a hipótese sugerida e realizar uma análise ponderada da relação vegetação remanescente e declividade, foi excluído do banco de dados do inventário todo o fragmento mapeado como vegetação secundária, pois entende-se que esta hipótese deva detectar apenas os locais onde ainda não houve supressão da vegetação natural, restando, assim, apenas fragmentos das fitofisionomias mapeadas como sucessão primária. Da mesma forma, destes fragmentos remanescentes, foi subtraído todos os que estavam presentes em unidades de conservação, uma vez que se encontrando nestas áreas protegidas, não estariam sujeitos (vegetação potencial) ao processo de desmatamento. As informações topográficas de altitude foram convertidas em declividade (porcentagem) e posteriormente reclassificadas em classes heterogêneas de declividade (0-3%, 3-8, 8-20, 20-45 e > 45%) e homogêneas, isto é, declividade seqüencial (0% até a máxima observada 164%, compondo-se 165 classes).

RESULTADOS:

Foi quantificada a cobertura de vegetação primária em cada classe de declividade e em seguida aplicaram-se análises de regressões ajustando-se modelos que melhor explicassem a hipótese. A vegetação remanescente ocorrente em relação a área de cada classe de declividade é de, respectivamente, 6,3 %, 3,4 %, 4,8 %, 14,5 % e 20,4 %. Uma análise mais refinada e que detecta a função da declividade como fator de conservação da vegetação natural foi realizada considerando-se a declividade seqüencial em todas as classes de ocorrência. As informações de cobertura vegetal primitiva atual foram quantificadas e pareadas com as classes de declividade seqüencial, onde ajustou-se uma regressão exponencial com ajuste de 93,23 %. Este modelo explica a ocorrência, em porcentagem, de vegetação remanescente em cada classe de declividade do estado, cuja soma é 100 %. Este modelo não traduz a real função da declividade, pois a porcentagem de vegetação deste modelo expressa apenas a área em relação do total remanescente. Deste modo, uma nova análise foi aplicada, agora entre a declividade seqüencial e a quantidade de vegetação, para cada classe de declividade, expressa em porcentagem do total que cada classe poderia ter, isto é, 100 % de vegetação. Estes valores foram determinados pela razão entre a área de vegetação contida em cada classe de declividade e a área correspondente desta classe. A relação entre estes valores traduziu-se num modelo logarítmico com coeficiente de determinação de 91,54 %.

CONCLUSÕES:

A observação em classes de declividade heterogênea permitiu observar que a conservação da vegetação nativa é mais pronunciada em áreas de maior declividade (acima de 20 %), sendo que esta área conservada decresce com o aplainamento do terreno e torna a aumentar sutilmente em áreas de 0-3 % de declividade (áreas de várzeas interioranas e litorâneas, como mangues e restingas). A relação entre a ocorrência da vegetação nativa e a declividade seqüencial traduziu-se num modelo logaritmo o qual foi intitulado de Curva do Desmatamento. O modelo revela uma elevada correlação (altamente significativa) entre a declividade e a conservação da vegetação paulista, a qual é nitidamente condicionada à topografia do terreno.

Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: Curva do Desmatamento; Vegetação Nativa Paulista; Geoprocessamento.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006