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A. Ciências Exatas e da Terra - 3. Física - 4. Física da Matéria Condensada

TRANSPORTE DIFUSIVO DE UM PACOTE DE SPINS

Marcos Paulo Halal Lombardi 1
José Carlos Egues 2
(1. Depto. de Eng. de Materiais, Aeronáutica e Automobilística (SMM) – EESC – USP; 2. Prof. Dr. / Orientador – Departamento de Física e Informática (FFI) – IFSC – USP)
INTRODUÇÃO:

O recente progresso da nanotecnologia trouxe o desenvolvimento de dispositivos eletrônicos nos quais a mecânica quântica é imprescindível na descrição dos fenômenos físicos envolvidos. Em particular a eletrônica de spin (spintrônica), que cria novas funcionalidades a partir da combinação da carga com o spin do elétron, tem sido agraciada de vultuosa atenção devido à sua potencial aplicação em diversas áreas, entre elas, transporte spin-polarizado, magnetotransporte, e computação quântica. Nosso trabalho investiga um conceito básico e de fundamental importância para a spintrônica: o transporte difusivo.

Em sistemas reais, particularmente naqueles contendo impurezas magnéticas e/ou doadoras, o transporte de partículas ocorre no regime difusivo. Neste regime, portadores colidem com impurezas, defeitos, vibrações da rede, etc. enquanto se deslocam por ação de campos eletromagnéticos aplicados e/ou gradientes de concentração. Em nosso trabalho investigamos o transporte difusivo em um sólido dopado (e.g. n-GaAs) no qual um pacote de spins é injetado localmente via uma ponta ferromagnética de um microscópio de tunelamento. Visamos, nesta pesquisa, constatar teoricamente o arraste (deriva) e a difusão (“esparrame”) do pacote de spins injetado. Para isso estabelecemos um estudo de algumas características dos semicondutores e do esquema experimental adotado (semicondutor situado entre as armaduras de um capacitor) para análise.
METODOLOGIA:

Nossa modelagem consiste no estudo de um sistema de três equações diferenciais parciais acopladas, resolvidas numericamente pelo método das diferenças finitas. A partir desta resolução obtemos a evolução espaço-temporal das incógnitas de nosso sistema: densidade de portadores (elétrons), densidade de corrente de portadores e campo elétrico observados ao longo do semicondutor e do tempo de análise. De maneira mais detalhada, descrevemos as equações:

Equações da continuidade e da corrente: equações hidrodinâmicas que relacionam a densidade de portadores à densidade de corrente de portadores levando em conta a geração de portadores no sistema (ponta ferromagnética) e o campo  elétrico aplicado;

Equação de Poisson: calcula o campo elétrico gerado pela dinâmica eletrônica durante o transporte do pacote de spins.

A resolução numérica consistiu no uso do método das diferenças finitas: foi gerada uma malha sobre o plano posição-tempo e, a partir desta, discretizamos o sistema de equações diferenciais (com diferenças progressivas para derivadas no tempo, e centradas para derivadas no espaço). Embora a análise de estabilidade linear pelo critério de von Neumann revelasse instabilidades numéricas no uso do referido método, uma escolha adequada de uma faixa de parâmetros permitiu convergência na solução numérica pela minimização das instabilidades. A partir desta discretização foram elaborados programas em Fortran e em MATLAB que propagaram numericamente a solução do sistema.
RESULTADOS:

Resolvemos o sistema de equações diferenciais parciais analiticamente para alguns casos limite (e.g. ausência de campo elétrico externo aplicado, geração de portadores nula), com o objetivo de investigar a validade da resolução numérica. Mesmo tendo caráter preliminar, os resultados obtidos numericamente revelam destacadamente os dois fenômenos predominantes na categoria de transporte estudado: o arraste e a difusão do pacote de spins. O primeiro deles diz respeito ao deslocamento que o pacote de elétrons injetado apresenta durante o tempo de análise, ao longo do semicondutor: este deslocamento é devido ao campo elétrico externo aplicado ao semicondutor. Por difusão entende-se o processo de “esparrame” do pacote de spins ao longo do tempo de análise: esse fenômeno se expressa pelo sucessivo “abaixamento” do pacote de spins injetado e pela homogeneização da concentração de portadores, visíveis com o decorrer do tempo. Além disso revelou-se também a pouca expressividade de certos termos da equação da corrente na influência sobre o transporte difusivo: constata-se, pois, a validade do modelo conhecido como drift-diffusion (deriva-difusão, em português) na descrição dos fenômenos envolvidos no transporte difusivo de um pacote de spins. Investigamos também a influência de alguns fatores (como tempo de relaxação e temperatura do semicondutor, por exemplo), no transporte eletrônico.

CONCLUSÕES:
Após simularmos a dinâmica do transporte difusivo de um pacote de spins injetado por uma ponta ferromagnética de um microscópio de tunelamento num semicondutor dopado – a  partir da resolução numérica do sistema de equações diferenciais acopladas (equação da continuidade, equação da corrente, e equação de Poisson) – alcançamos nosso objetivo: apesar da constatação de instabilidade numérica no método numérico utilizado na resolução (método das diferenças finitas), conseguimos contornar a divergência na solução e constatar o arraste e a difusão do pacote de spins no semicondutor. Obtivemos, pois, a evolução espaço-temporal da densidade de corrente de portadores, da densidade eletrônica e do campo elétrico no interior do semicondutor ao longo do tempo de análise; houve ainda maneiras de investigar a influência de determinados fatores (temperatura do sistema, intensidade do campo elétrico externo aplicado, tempo de relaxação característico do material estudado) no transporte eletrônico através do semicondutor. Constatamos, com isso, modificações no comportamento físico do sistema: a difusão revela-se mais expressiva para aumentos de temperatura e/ou do tempo de relaxação; há intensificação do arraste para um aumento do campo elétrico externo aplicado e/ou do tempo de relaxação. Embora preliminares, estes resultados servirão de alicerce para pesquisas futuras, que contarão com a análise do transporte eletrônico dependente do spin.
Instituição de fomento: CNPq/PIBIC: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: spintrônica; transporte de spins; difusão.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006