Se a Bíblia foi uma das principais inspirações para a busca de civilizações perdidas no Egito e no Oriente Próximo, foi por conta da Ilíada de Homero e sua narração da Guerra de Tróia, a busca do alemão Heinrich Schliemann por Tróia. Com muita sorte e bom senso, ele identificou a cidade numa série de campanhas a campo em Hissarlik, oeste da Turquia, entre 1870 e 1880. Não satisfeito com tal proeza, ele também escavou em Micenas e revelou ainda uma proto-histórica e desconhecida civilização. Desde tais descobertas, criou-se uma disciplina denominada “Arqueologia Homérica”. Acreditava-se, então, que a descoberta da civilização micênica seria a chave para desvendar a sociedade descrita nos poemas homéricos, a Ilíada e a Odisséia, uma vez que o poeta teria retratado os tempos micênicos, conhecidos e transmitidos pela tradição oral. Os desencontros nessa disciplina surgiram quando se verificou que muito da época geométrica (900-750 a.C.), isto é, a cultura contemporânea à época de Homero, encontrava-se igualmente registrada nos poemas homéricos. Este estudo teve como objetivo conhecer as descobertas materiais realizadas em Tróia e em Micenas por Schliemann que tiveram alguma relação com os poemas homéricos, e a importância de seu trabalho para a fundação da então denominada Arqueologia Homérica bem como para a história da arqueologia como disciplina. |
Figura controversa dentro dos estudos arqueológicos, Heinrich Schliemann é considerado o fundador da Arqueologia Homérica, isto é, o campo da arqueologia que estuda os achados arqueológicos à luz dos poemas homéricos. Duramente criticado pelos seus contemporâneos e sucessores por ter-se utilizado de métodos hoje condenáveis pela prática arqueológica, ele se insere dentro da história da arqueologia e dos estudos homéricos de maneira ambígua e crucial: ao mesmo tempo que provocou danos irreparáveis aos sítios escavados, ele foi o responsável por trazer à superfície a tão procurada "Tróia de belos cavalos". |