Inicialmente tem-se o projeto “Investigação sobre o ensino da língua materna: ponte para formar e ensinar” e dentro desse projeto nasceram vários subprojetos, entre eles este, intitulado: Gêneros discursivos na teoria e na prática pedagógica: Uma investigação junto aos alunos de Letras, que visa investigar como o professor de língua materna em formação, da FURB, desenvolve as práticas pedagógicas quanto aos gêneros do discurso e qual a fundamentação teórica utilizada. Pretende-se, com essa pesquisa, analisar o discurso a respeito da relação teoria e prática pedagógica dos alunos de Letras quanto aos gêneros discursivos; verificar qual a fundamentação teórica que perpassa os relatórios de prática de ensino no que diz respeito aos gêneros discursivos e a concepção de linguagem que norteia a prática pedagógica; analisar as propostas de leitura e produção de textos que se apresentam nos relatórios de prática de ensino.

Inicialmente, realizou-se a leitura dos relatórios e montou-se uma tabela dividida em: título do relatório, concepção de linguagem, concepção de língua, concepção de gramática e fundamentação teórica/autores. Dessa maneira foi possível organizar os dados e não se distanciar dos principais objetivos da pesquisa. Em seguida, os dados foram analisados pela pesquisadora e, posteriormente, discutidos coletivamente, em um grupo de pesquisa, a partir da Análise do Discurso - pois são os dizeres dos sujeitos que apontam os resultados da pesquisa. Os sujeitos são os alunos do curso de Letras que realizaram sua Prática de Ensino de 2000 a 2004. Foram selecionados aleatoriamente dois relatórios por cada semestre letivo, perfazendo dez relatórios. Entretanto, os relatórios de 2000 acabaram sendo excluídos da análise, pois não seguiam o modelo dos outros relatórios, contendo o projeto e os planos de aula. Dessa forma, ao final da pesquisa, foram analisados apenas oito relatórios, referentes aos anos de 2001 a 2004. O foco das análises foram os gêneros discursivos, sua compreensão e propostas pedagógicas que foram desenvolvidas junto aos alunos de Ensino Fundamental e/ou Médio. Levou-se em consideração, também, a concepção de linguagem, língua e gramática que permeou o trabalho em sala de aula e a parte destinada à fundamentação teórica.

Pôde-se perceber que os dados predominantes apontam para uma posição de distanciamento entre base teórica e prática pedagógica, pois a teoria embasa-se em Bakhtin e Vygotsky, focando-se no enunciado, mas na prática trabalha-se com unidades menores como: letra, fonema e palavra. Além disso, constatou-se que em alguns casos a teoria não é retirada das obras originais, e, sim, da Proposta Curricular de Santa Catarina ou dos Parâmetros Curriculares Nacionais. Quanto ao trabalho com os gêneros discursivos, notou-se que em alguns relatórios ocorre o uso do "texto como pretexto" (GERALDI, 1985) e tanto o uso de gêneros discursivos quanto de gêneros textuais.

Ao analisar os relatórios, percebeu-se que os alunos passam por um conflito entre o discurso tradicional, de seus professores de Ensino Fundamental e Médio, e o discurso inovador, de seus professores da Universidade, alternando entre as duas posições. Além disso, os alunos ainda precisam seguir as imposições da instituição (escola, Universidade), e esta nem sempre aceita as novas concepções e metodologias. Dessa maneira, apropriam-se de um discurso que nem sempre está ligado às suas concepções. Eles tiveram oportunidade de seguir as teorias nas quais realmente acreditavam durante o curso? Esses mesmos alunos fariam uso da mesma teoria depois de formados e fora da Universidade? Quanto ao trabalho com gêneros, percebe-se que os alunos ainda não possuem um entendimento sobre o que eles realmente são e de que maneira trabalhá-los em sala de aula. Em grande parte dos relatórios, deixou-se o conteúdo dos textos de lado e apenas os aspectos gramaticais foram abordados. As atividades propostas eram, na maioria das vezes, realizadas individualmente e sem espaço para a discussão, apontando novamente a incoerência entre a fundamentação teórica interacionista e a prática tradicional.

Instituição de fomento: FURB - PIPe / Art.170

Trabalho de Iniciação Científica