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G. Ciências Humanas - 5. História - 2. História do Brasil
O DECLÍNIO DO NORDESTE BRASILEIRO NA VISÃO DA ELITE AGRÁRIA: DIAGNÓSTICOS FORMULADOS NO CONGRESSO AGRÍCOLA DO RECIFE - 1878
Giselle Rodrigues 1
Lupércio Antonio Pereira 1
José Flávio Pereira 1
(1. Universidade Estadual de Maringá)
INTRODUÇÃO:

No decurso do período colonial o Nordeste brasileiro dinamizou as atividades agrário-exportadoras do país com as produções de açúcar, algodão e tabaco. Tal dinâmica produtiva começou a apresentar mudanças logo após as primeiras décadas do século XIX, quando se tornou evidente que o eixo principal da economia agrária brasileira estava sendo transferido para o Centro-Sul, com a expansão do Café. A partir de então, a economia nordestina entrou num processo de declínio relativo que se arrastou pelo século XX. No terceiro quartel do século XIX, essa situação de atonia econômica deu margem a muita discussão entre a elite nordestina. Um dos momentos privilegiados dessa discussão foi o Congresso Agrícola do Recife, realizado em outubro de 1878. Fizemos um estudo dos anais desse Congresso para levantar os diagnósticos da crise formulados pelos congressistas. O objetivo do estudo era identificar dados que pudessem iluminar a compreensão do processo de estagnação econômica sofrida por aquela região na segunda metade do século XIX, considerando que esta tema é muito importante para o enriquecimento da História das Idéias no Brasil.

METODOLOGIA:

Nossa pesquisa comportou análises nos planos: textual (cada diagnóstico possui uma dimensão interna, uma estrutura e uma lógica própria) e intertextual (no sentido do diálogo entre a fonte com obras bibliográficas e documentos de época), visto que cada pensamento apresentado pela elite agrária carrega uma razão específica, sendo sua inteligibilidade completada por meio do confronto com outros discursos contemporâneos e, também, nas suas inter-relações com as grandes questões sociais, políticas, econômicas, culturais e doutrinarias que aparecem no estudo da bibliografia e documentos concernentes. Desse modo, primeiramente mapeamos os sintomas da crise nordestina expressados nos discursos proferidos pelos participantes do encontro. Depois disso, realizamos a análise crítica desses diagnósticos, o que exigiu a leitura de obras da historiografia pertinentes ao tema e de outras fontes documentais contemporâneas que pudessem contribuir para a elucidação das questões discutidas pelos congressistas.

RESULTADOS:

Após essa análise, pudemos constatar a existência de grandes divergências entre os contemporâneos nordestinos a respeito dos remédios que poderiam fomentar o desenvolvimento da região. Havia divergência sobre quase todos os grandes temas discutidos no Congresso: a saber: trabalho livre, trabalho escravo, educação, tráfico interprovincial de escravos, imigração, colonização, relação entre estagnação econômica e a organização política, organização do crédito, tecnologia, papel do Estado, imposto territorial, utilização da mão-de-obra livre nacional, combate à ociosidade e vadiagem, estrutura fundiária, relações entre credores e devedores, crédito hipotecário, etc. Notamos, por outro lado, que estas divergências só diminuíam quando o tema discutido era a necessidade da ajuda financeira do Estado para a região sair da crise. Foi possível constatar, também, uma atitude quase generalizada de resistência às inovações (sociais, culturais, tecnológicas e de gestão financeira) oriundas da Segunda Revolução Industrial.

 

CONCLUSÕES:

A incompatibilidade de pensamentos revelados nos diagnósticos feitos pela elite agrária no Congresso mostra um momento de tensão e desarranjo econômico, social, etc, enfrentado pela sociedade nordestina, na segunda metade do século XIX. Refletimos que tal desarranjo não foi provocado, exclusivamente, pela incipiente tecnologia agrícola, pela falta de recursos financeiros (créditos agrícolas e moedas de tesouro), bem como pela carência de mão-de-obra escrava ou livre. Entendemos, assim, que o declínio econômico foi gerado, também, pela própria atitude do proprietário agrário frente aos novos paradigmas educacionais provenientes da Segunda Revolução Industrial. Isto revela a persistência de rotineiras práticas no interior da indústria agrícola, como a repulsa de imigrantes defendida por alguns congressistas. Ainda assim, existiram, surpreendentemente, discursos críticos que responsabilizava parcialmente o fazendeiro pela crise. Em discursos como o Sr. Antonio Coelho Rodrigues, criticava-se o comodismo, a preguiça, a rotina, a falta de espírito empreendedor, os hábitos de dissipação e até mesmo o “direito” ao calote como traços culturais e comportamentais de boa parte da elite agrária nordestina, que tudo esperava do governo e quase nada fazia por iniciativa própria para enfrentar a crise. Face a estes elementos, concluir-se-á que a causa profunda do declínio econômico do Nordeste foi a dificuldade demonstrada por boa parte de sua elite agrária de adaptar-se com presteza às inovações (sociais, culturais, tecnológicas, doutrinarias e de métodos de gestão financeira) advindas da Segunda Revolução Industrial.

Instituição de fomento: PIBIC/CNPq
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: Nordeste; Congresso-Agrícola; Declínio-Econômico.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006