O quadro vocálico do PB proposto por Câmara Jr.(1970) prevê, em sílabas pretônicas, uma neutralização entre as vogais médias abertas e fechadas, em favor dessa última, de tal forma, que nessa posição o quadro vocálico do PB sofre uma redução das sete vogais que ocorrem em posição tônica, para cinco.

No entanto, um estudo piloto realizado com informantes de Vitória da Conquista-BA mostrou que as vogais médias abertas, além de aparecerem em posição tônica, como defende Câmara Jr., acontecem também em posição pretônica.

O levantamento realizado mostra que na fala de sujeitos nativos de Vitória da Conquista em algumas situações não acontece a neutralização entre as vogais médias em posição pretônica. Tal constatação evidencia que as vogais médias abertas cujas ocorrências estão condicionadas à tonicidade silábica em outras comunidades lingüísticas, não têm sua ocorrência restrita à sílaba tônica na fala de sujeitos nativos de Vitória da Conquista.

 Assim, este trabalho tem como objetivo investigar, a partir do contraste do quadro vocálico proposto por Câmara Jr. (1970), o grau de abertura das vogais médias de sílaba pretônica que ocorrem na fala de sujeitos nativos da cidade de Vitória da Conquista. Busca-se investigar que contexto(s) está (ão) adjacentes às sílabas pretônicas que favorecem a ocorrência das vogais médias abertas nessa comunidade.

 

Para a realização da pesquisa, foi montado um corpus que possui na sílaba pretônica vogais médias.

Foi elaborada uma entrevista cujas perguntas, que tinham palavras do corpus levantado, levariam a respostas com palavras desse corpus. As gravações das entrevistas foram feitas com cinco informantes de Vitória da Conquista com faixa etária de 20 a 25 anos, sendo duas mulheres e três homem, que não tinham conhecimento do real motivo da entrevista, evitando, assim, qualquer tipo de influência. As entrevistas tiveram duração aproximada de 30 minutos cada informante. As gravações foram realizadas com o gravador Olympus Digital Wave Player.

Além das entrevistas realizadas com cinco informantes, obtivemos dados com o telejornal da região de Vitória da Conquista. As gravações foram feitas em três seções.

Inicialmente foram realizadas transcrições ortográficas das entrevistas realizadas e das gravações dos telejornais.

Em seguida, com base nas realizações orais dos informantes foram realizadas transcrições fonéticas das palavras que possuíam na sílaba pretônica vogais médias abertas, e para fins de contraste, foram também realizadas transcrições fonéticas das vogais médias realizadas fechadas e análise de possíveis fatores que estivessem propiciando a realização das mesmas, tais como, a estrutura silábica, a proximidade do acento tônico e a qualidade vocálica da vogal núcleo da sílaba imediatamente seguinte.

Foram encontradas as seguintes proporções para cada um dos informantes avaliados: 66,7%, 62,6%, 53%, 57,6% e 69,6, o que evidencia que a realização dessa vogal em posição pretônica se dá em mais de 50% das vezes.

 Por ser a estrutura silábica importante para uma língua, foi investigada a relação entre estrutura silábica e a ocorrência de vogal média aberta em posição pretônica. As análises mostram que a estrutura silábica não é um fator que condicione ou iniba a realização dessa vogal nessa posição.

Assim, foram encontradas realizações das vogais médias abertas em sílaba aberta (CV), como em sílaba fechada (CVC).

Foi investigada também a relação entre a realização da vogal média aberta em sílaba pretônica e a proximidade do acento tônico. Foram observadas ocorrências em que a vogal média aberta em sílaba pretônica aparece próxima ao acento tônico, bem como distante do mesmo.

A qualidade vocálica da vogal núcleo da sílaba seguinte foi um outro fator analisado. No entanto, foi verificado que a vogal média pretônica tende a assimilar o traço de abertura da vogal seguinte quando essa vogal é uma vogal média. Não foi encontrado nos dados analisados nenhum caso, em que a vogal média em posição pretônica fosse realizada aberta e a vogal da sílaba seguinte fechada ou vice versa.

Esses dados acenam para a possibilidade de estar havendo, nessa comunidade lingüística, uma harmonia vocálica para as vogais médias em posição pretônica.

 

Os resultados encontrados mostram que não ocorre neutralização das vogais médias em sílaba pretônica na fala de sujeitos nativos de Vitória da Conquista, ou seja, há ocorrência das vogais médias abertas em sílaba pretônica, diferentemente do que propõe Câmara Jr. (1970).

Os dados apresentados permitem também concluir que a realização dessas vogais em posição pretônica não é condicionada pelos ambientes fonéticos investigados: estrutura silábica, proximidade do acento tônico, e de uma certa maneira, pela qualidade da vogal imediatamente seguinte à sílaba pretônica, já que têm-se vogais médias abertas próximas as vogais altas e baixa.

Percebe-se, entretanto, que quando a vogal posterior à sílaba pretônica é uma vogal média, algumas restrições são observadas, e parece ocorrer nesse dialeto harmonia vocálica: quando a vogal da sílaba imediatamente seguinte à pretônica é média fechada, a vogal da pretônica também será média fechada, caso seja média aberta, a média da pretônica também será média aberta.

Apesar dessa forte evidência, não se pode afirmar categoricamente a ocorrência dessa harmonia vocálica. Um novo corpus deverá ser levantado e novas gravações deverão ser feitas objetivando investigar pontualmente a harmonia vocálica. Além disso, é necessário investigar, por meio de modelos fonológicos mais recentes, a realização das vogais médias abertas em posição pretônica para endossar ou não a hipótese de harmonia vocálica.

Instituição de fomento: Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC/UESB)

Trabalho de Iniciação Científica