Apesar dos avanços verificados nas últimas décadas no Brasil, ainda encontramos uma grande parcela da população sofrendo de problemas bucais por falta de conhecimentos de métodos e práticas preventivas e acesso limitado aos serviços de saúde.

Há menos de 50 anos, a pratica odontológica tinha como principal meta a extração dentária. Nos anos 70, a odontologia curativa restauradora se tornou o padrão de saúde, priorizando a restauração dentária e reforçando um paradigma curativo-restaurador da saúde.

A utilização de Ficha de Avaliação de Risco de Cárie (ARCA) serve como um instrumento didático, que favorece a introdução deste novo paradigma de saúde. A identificação dos indivíduos com maior risco de desenvolvimento da cárie dentária é um importante fator de atenção à saúde bucal da comunidade e indicação de plano de tratamento individual que prioriza a utilização de medidas preventivas que atuem sobre as causas da doença e no desenvolvimento precoce da lesão.

A partir de exame clínico e anamnese, o objetivo deste estudo é, quantificar itens relacionados com a história pregressa da cárie dentária; o número de lesões incipientes existentes, o número de superfícies restauradas, exposição ao flúor e período de tempo relativo à última restauração efetuada, resumindo quantitativamente as informações chamadas preliminares da Ficha ARCA. A ficha foi completada com: (1) informações dietéticas e (2) testes microbiológicos a partir do fluxo salivar

Foram estudados 107 pacientes com faixa etária de 20 a 50 anos, que aguardaram tratamento no setor de triagem da FOL. Os materiais e métodos de obtenção dos dados foram analisados e tabulados no programa EPI-INFO, versão 2002.

Para completar a ficha ARCA é necessária a aplicação de outros três questionários:

• Exposição a métodos preventivos
• Anamnese
• Dieta Cariogênica simplificado

Outra informação integrante diz respeito à aferição do fluxo salivar e contagem de Streptococus Mutans (SM). A coleta da saliva é estimulada por um material biocompatível à mesma (parafilm). O paciente mastiga o parafilm por um período de 5 minutos no qual expectora a saliva acumulada no interior da boca, num cilindro graduado.

Para a análise do SM, o meio de cultura empregado foi o AGAR MITIS SALIVARIUS BACITRACINA, enriquecido com 20% de sacarose e 0,02 mg/ml de Bacitracina, sendo este o principal ingrediente seletivo do SM. Um mililitro (1 ml) de saliva, é pipetada e diluída em um tubo de 9 ml de solução salina de 1:10.000. Após a homogeneização, 1 ml da saliva é repassada para outros tubos de 9 ml de solução salina, determinando uma solução de diluição de 1:100.000 e 1:1.000.000. Com uma pipeta de 0,1ml a solução resultante é colocada em Placas de Petri, incubadas a 37ºC pelo método da chama de vela por um período de 48-72 horas.

Cada paciente examinado assinou um termo de consentimento livre e esclarecido do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Metodista de Piracicaba.

Os resultados que seguem, correspondem aos dados de 90 pacientes.

A ficha ARCA tem a finalidade avaliar o risco de cárie de cada individuo, analisando diversos fatores. O primeiro item está relacionado à quantidade do número de dentes cariados, na qual indica que 10% dos pacientes não possuem dentes cariados com qualquer lesão presentes, nem mesmo apresentam manchas brancas, porém, a grande maioria (90%), apresenta dentes cariados, podendo ou não apresentar alguma lesão presente ou mancha branca.

O próximo ítem mostra que 92% dos entrevistados apresenta 2 ou mais superfícies dentárias obturadas.

No ítem flúor nota-se que 67% dos pacientes apresentam uma exposição insuficiente ao flúor sistêmico e tópico, notando-se ainda que a quantidade de indivíduos que tem uma ótima exposição ao flúor é muito baixa, representando 1% da população estudada.

Sobre a dieta verifica-se que 91% dos entrevistados mantém uma dieta com níveis aceitáveis de ingestão de alimentos cariogênicos. Somente 9% dos entrevistados relatam dieta altamente Cariogênica.

No seguinte ítem, pode-se notar que 62% dos indivíduos apresentam uma alta contagem de S. Mutans (>106/ml).

Quanto ao risco de cárie a maioria apresenta alto risco de cárie (78%), seguido com 22% de risco moderado. Nenhum paciente apresentou risco de Cárie baixo.

Conclui-se que todos os entrevistados possuem um alto ou moderado risco de cárie. Nota-se que os entrevistados de forma geral possuem uma higienização dentária muito precária, restrita somente a uma deficiente escovação dos dentes, sem a utilização de fio dental.

O tratamento curativo-restaurador é parte importante em qualquer programa de atenção odontológica, mas, não parece ser suficiente. O ponto básico é motivar o indivíduo para uma mudança de atitude em relação `a manutenção constante de uma saúde bucal ótima.

A conscientização e a mudança de atitudes para preservação da saúde bucal, ainda que com um pouco mais de trabalho diário no controle de placa bacteriana ou com um pouco menos de "doçura" pela restrição da ingestão de açúcares, são os meios mais eficazes de controle do desenvolvimento da cárie dentária.

Dessa forma, a aplicação da Ficha de Risco de Cárie (Ficha ARCA), auxilia na determinação de risco e pode ser um instrumento importante na elaboração de um plano de tratamento preventivo individualizado, que atenda às necessidades do paciente.

A nível coletivo, a FICHA ARCA pode ser utilizada em estudos epidemiológicos e definir populações de risco para efeito de planejamento de programas de saúde pública.

A ficha ARCA tem grande valor didático e pode ser um importante instrumento de mudança de hábitos e atividades de futuros profissionais.