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F. Ciências Sociais Aplicadas - 5. Arquitetura e Urbanismo - 2. Paisagismo e Projetos de Espaços Livres Urbanos
DIAGNÓSTICO PAISAGÍSTICO DA ALMADA: COMUNIDADE, MEIO AMBIENTE E TRANSFORMAÇÃO DA PAISAGEM.
Mario Tavares Moura Filho 1
(1. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universiadade de São Paulo /FAUUSP)
INTRODUÇÃO:

Elaborou-se um diagnóstico paisagístico da comunidade da Almada, situada no município de Ubatuba, litoral norte do estado de São Paulo. Trata-se de uma área onde forças sociais exógenas alteraram tanto o equilíbrio biofísico quanto o equilíbrio nas relações entre homem e meio ambiente, ali existentes anteriormente. O diagnóstico tem como enfoque principal não apenas os aspectos estéticos e biofísicos da paisagem, mas também seu aspecto antropológico. Buscou-se compreender a paisagem como a expressão material da relação entre homem e meio ambiente, manifestada na organização espacial.

 

O diagnóstico é composto por três partes: primeiramente, fez-se uma análise de aspectos sensorialmente marcantes da paisagem da Almada, aspectos que conferem à paisagem local suas especificidades e singularidades. Em seguida, abarcaram-se questões inerentes a seu ambiente biofísico e à relação que os habitantes mantêm com ele. Ao final elaborou-se um registro da paisagem como a materialização de uma cultura que está em processo de profunda transformação.

 

A pesquisa tem como objetivo não apenas proporcionar uma base a partir da qual o desenvolvimento da paisagem da Almada poderia ser concebido e planejado, mas também destacar a importância de se preservar determinadas configurações espaciais, como forma de preservar uma cultura e valorizar sua história.

METODOLOGIA:

Nas quatro visitas a campo realizadas ao longo da pesquisa desenvolveram-se os seguintes procedimentos: foram observadas as atividades realizadas no cotidiano, os trajetos percorridos, a apropriação dos espaços para trabalho, lazer e moradia. Realizaram-se entrevistas com moradores do local, com o intuito de identificar quais elementos da paisagem fazem parte da memória coletiva, quais deles compõem os mapas mentais que orientam os homens no seu dia-a-dia. Foram elaborados levantamentos métricos, registros fotográficos e desenhos.

 

Atividades extracampo envolveram o processamento e síntese de bases cartográficas, fotos aéreas e bases digitais vetoriais, obtidas através de pesquisa em diversas instituições – como o Instituto Geográfico e Cartográfico (IGC-USP), a Prefeitura Municipal de Ubatuba e o Núcleo Picinguaba do Parque Estadual da Serra do Mar. Houve também a compilação de material coletado em campo e a sobreposição deste em relação às bases obtidas. Finalmente, efetuaram-se leituras de trabalhos relativos ao tema e à região estudada.

RESULTADOS:

Do ponto de vista estético, destacam-se como valores principais as amplas visuais da Baia do Ubatumirim contempladas a partir da estrada que dá acesso à comunidade; a vista do horizonte que “se fecha” para um observador situado na Praia da Almada, e a passagem sobre o rochedo que separa as praias da Almada e do Engenho. Esses valores paisagísticos foram registrados e estudados num âmbito técnico, através de fotografias, levantamentos métricos, mapas, plantas e cortes.

 

No que diz respeito ao ambiente biofísico buscou-se, primeiramente, caracterizá-lo com base nos trabalhos de Aziz Ab’Saber (2001) e no trabalho de Olga Cruz (1972). Posteriormente, analisando informações obtidas em campo, fotos aéreas, relatos de moradores, e trabalhos recentes como o de Natália Hanazaki (1997) e Vânia Marcelino (2002), procurou-se retratar as condições do ambiente biofísico local e da relação entre caiçara e meio ambiente nos dias de hoje.

 

O estudo da paisagem como materialização das transformações culturais exigiu a caracterização daquilo que seria a tradicional espacialidade caiçara. Para isso, foram utilizadas referências como Maria Conceição Vicente de Carvalho (1944), Plácido Cali (2004) e relatos dos próprios caiçaras. Após caracterizá-la, as configurações espaciais que remetem a essa espacialidade foram identificadas na paisagem local e registradas através de fotografias e croquis.
CONCLUSÕES:

A abordagem estética da paisagem local revelou valores paisagísticos marcantes. As situações de abertura e fechamento verificadas na estrada de acesso, o horizonte que se fecha na praia da Almada, a passagem sobre o rochedo, são recortes da paisagem dotados de qualidades estéticas expressivas. Pouco tem de ser feito para que as qualidades estéticas fundamentais da paisagem local sejam preservadas.

 

Da relação entre homem e meio percebeu-se que, se por um lado a redução nas atividades ligadas à agricultura e à pesca poderia ser interpretada como uma melhoria no que diz respeito às condições do ambiente biofísico, por outro, o advento do turismo como atividade econômica compensatória diante do declínio das mesmas, contribui para processos bastante danosos. Atividades pesqueiras estão fortemente ligadas aos escassos valores remanescentes da cultura caiçara. Assim, entende-se que o cerceamento dessas atividades pode acarretar perda de identidade cultural e perda da memória coletiva.

 

O estudo da paisagem como expressão material da cultura permitiu verificar grandes transformações. Foram observados apenas resquícios da cultura tradicional caiçara. A transformação da paisagem, segundo uma cultura urbana de construção espacial, compromete as qualidades paisagísticas do local. Seria importante preservar os fragmentos espaciais que ainda remetem à cultura tradicional caiçara. Eles apresentam importante valor paisagístico e podem contribuir para a preservação da cultura caiçara na Almada.
Instituição de fomento: Conselho Nacional de Tecnologia e Desenvolvimento Científico (CNPq)
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: Paisagem; Litoral; Apropriação do Espaço.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006