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G. Ciências Humanas - 9. Sociologia - 6. Sociologia Urbana
O PERFIL SOCIOECONÔMICO E CULTURAL DOS BOLSISTAS DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA UFSJ: OS EFEITOS DO CAPITAL CULTURAL NA DISTRIBUIÇÃO DOS PRIVILÉGIOS
Cibelle Cristina Lopes e Silva 1
Écio Antônio Portes 1, 2
(1. Universidade Federal de São João del-Rei - UFSJ ; 2. Prof. Dr.)
INTRODUÇÃO:

Este trabalho se propõe a investigar a relação existente entre a posse de capital cultural e a obtenção de privilégios por parte dos universitários da Universidade Federal de São João del-Rei. A possibilidade estatística de um estudante de graduação adquirir uma BIC na UFSJ é de 1.8%. Neste sentido, entendemos que a  BIC - Bolsa de Iniciação Científica - é um privilégio. Assim constatando, estabelecemos como população alvo de nossa pesquisa, os bolsistas de Iniciação Científica que foram contemplados especificamente no processo de AGO/2004 a JUL/2005 no espaço da UFSJ. A hipótese de pesquisa que orienta esse trabalho é a de que a parte visível e aceita como natural na distribuição dos privilégios, denominada aqui de mérito, oculta uma série de práticas e disposições sociais constitutivas das trajetórias dos diferentes sujeitos sociais, que não podem ser percebidas somente na expressão materializada na nota do histórico escolar ou mesmo na manifestação simbólica dos sujeitos expressa na “vontade de trabalhar com pesquisa” que se associam. São essas práticas e essas disposições sociais a serem investigadas que favorecem o jogo da distribuição dos privilégios entre os universitários. Dentro dessa perspectiva, identificamos quais são as disposições que atuam na distribuição das bolsas de iniciação científica na UFSJ.

METODOLOGIA:

A metodologia utilizada baseou-se na reconstrução da trajetória escolar dos bolsistas através de questionários contendo variáveis que puderam revelar a posse ou a construção de capital cultural, tais como o grau de escolaridade, a ocupação, a renda familiar, o local de moradia, as posses materiais dos pais  ou responsáveis dentre outras variáveis e variáveis que se ocupam em demonstrar, dos próprios estudantes,  a sua trajetória de socialização e escolarização até à entrada no ensino superior, como fizeram Whitaker e Fiamenge (1999). Os questionários foram aplicados de Janeiro a Abril de 2005. O local de aplicação, quando não determinado pelo bolsista, foi a sala de reuniões do Departamento de Ciências da Educação – DECED/UFSJ, para oferecer maior privacidade ao entrevistado. No nosso caso, considerando o número de bolsistas, 60 ao todo, tornou-se prudente a investigação das trajetórias escolares dos bolsistas, efetuada através de análise do histórico escolar de cada um deles. Reconstruímos a trajetória escolar dos estudantes investigando três gerações.

RESULTADOS:

Podemos afirmar que a distribuição dos privilégios universitários (no nosso caso a bolsa de iniciação científica), para 50% dos casos, obedece às determinações do capital cultural, com forte ênfase para a sua vertente transformada: o capital escolar. Os dados mostraram que o peso do capital cultural escolar na construção das trajetórias é facilmente reconhecido e identificado. Por outro lado, os dados mostram também a dificuldade de se reconstruir o capital cultural dos diferentes sujeitos sociais via questionário. Mesmo assim esses dados nos permitem dizer que a construção de instrumentos de aferição do capital cultural deve levar em conta o contexto histórico de produção das trajetórias, a mobilidade geográfica dos sujeitos no decorrer de sua existência, a presença de instâncias culturais consideradas como elementos importantes de aferição do capital cultural e o valor que essas instâncias representam para as diferentes sociedades e, se quisermos, para as diferentes comunidades.

CONCLUSÕES:

Se por um lado o capital cultural atua fortemente para um grupo significativo de bolsistas de iniciação científica da UFSJ, por outro ele não é suficientemente capaz de explicar como a outra parte desses bolsistas pôde adquirir as bolsas de iniciação científica. Essa constatação nos leva a crer que existe uma margem significativa de indeterminação na distribuição dos privilégios. Esta “indeterminação”, demanda outras formas de investigação para ser detectada.

Instituição de fomento: Universidade Federal de São João del-Rei
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: Sociologia da educação; capital cultural; benefícios universitários.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006