IMPRIMIR VOLTAR
G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 6. Psicologia do Desenvolvimento Humano
MERGULHANDO NAS MÚLTIPLAS NOÇÕES SOBRE CORPOREIDADE: UMA REVISÃO CRÍTICA DA LITERATURA CIENTÍFICA
Fabio Scorsolini-Comin 1
Katia de Souza Amorim 1
(1. DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO - UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (FFCLRP-USP))
INTRODUÇÃO:

O presente trabalho emergiu a partir de uma pesquisa, em nível de Iniciação Científica que, dentro da Psicologia do Desenvolvimento, estuda os processos desenvolvimentais de crianças com Paralisia Cerebral em inclusão pré-escolar. O estudo se deu a partir de vídeo-gravações das mesmas no ambiente escolar, em situações em sala de aula, refeitório e ambiente de recreação. Tal estudo tem como pressuposto de base a indissociável relação entre pessoa e ambiente, vendo-os como mutuamente constitutivos, evocando, para tanto, noções como a de corporeidade e de dialogismo. Neste percurso, houve a necessidade de se aprofundar a questão da corporeidade. Assim, concomitante à coleta e análise dos dados da pesquisa, realizou-se um levantamento bibliográfico. O objetivo deste foi verificar como o termo corporeidade tem sido empregado na literatura científica em geral e, particularmente, na Psicologia,.tanto nacional e internacional, verificando como esse termo tem sido empregado , como ele tem sido usado em estudos empíricos, quais os sentidos que lhe são atribuídos, seus pressupostos, dentre outros. O intuito da revisão foi compreender se e como a noção de corporeidade poderia vir a contribuir para estudos empíricos, como o que originou tal levantamento.

METODOLOGIA:
As buscas foram feitas nas bases de dados LILACS, SCIELO, PSYCINFO e MEDLINE, a fim de propiciar a análise de produções científicas neste tema com o maior alcance possível. O levantamento compreendeu o período de 1970 a 2005. Tal período de abrangência objetivou traçar um perfil das publicações ao longo dos últimos trinta anos, buscando resgatar um grande volume de trabalhos produzidos a respeito do tema ou utilizando-se dessa noção. Como critérios de inclusão, destacamos artigos publicados apenas em periódicos indexados; trabalhos nos idiomas inglês, espanhol e português; trabalhos empíricos, teóricos e de revisão acerca do tema. Nesta revisão, foram excluídos livros, capítulos de livro, teses, dissertações; ainda trabalhos distantes do tema (ligados a patologias, adolescência, sexualidade, promoção de saúde, ortodontia, imagem corporal, personalidade etc); e, ainda, artigos que abordassem a corporeidade em uma perspectiva essencialmente biológica. A pesquisa nos bancos de dados foi feita via acesso restrito, no Centro de Informática da Biblioteca Central da USP – Ribeirão Preto. Os resumos condizentes com os critérios adotados foram selecionados, partindo-se daí para a busca dos trabalhos completos. Encontrou-se 1107 resumos. Destes, em função dos critérios de inclusão/exclusão, somente 11 artigos foram selecionados e recuperados para leitura e análise.
RESULTADOS:

A análise revelou crescente interesse pela noção a partir dos anos 90. No entanto, apesar de se notar uma produção crescente a respeito da ou que se utiliza da noção de corporeidade, o número total de artigos resgatados nos parecem bastante escassos em seu conjunto, ainda mais considerando que não houve uma delimitação ao campo da Psicologia. Em relação aos campos do conhecimento, verificamos que essa noção vem sendo utilizada em diferentes áreas. Dos artigos recuperados, várias foram as áreas, a saber: Psicologia (8 artigos), Medicina (1 artigo), Enfermagem (1 artigo) e Ciências Sociais (1 artigo). Dentro da Psicologia, podemos subdividir os trabalhos de acordo com o campo e/ou a abordagem teórica utilizada, sendo que dois trabalhos se situam na Psicologia do Desenvolvimento, dois na Psicologia Social (Construcionismo Social) e quatro são de orientação psicanalítica (referente a autores como Freud, Winnicott e Reich). No conjunto, verifica-se forte influência dos pressupostos da fenomenologia merleau-pontyana, os estudos apontando à necessidade de ver a pessoa corporificada intrinsecamente conectada ao mundo, rompendo com paradigmas clássicos que dicotomizam o ser humano. Buscando analisar o tipo do artigo, verificamos que 10 são teóricos e 01 traz um estudo clínico. Nenhum deles utiliza-se da noção corporeidade a partir de estudos empíricos ou de forma a substanciá-los.

CONCLUSÕES:

Com o levantamento, constatamos a complexidade do estudo sobre a corporeidade, salientando as múltiplas vozes presentes quando se aborda o tema. As inúmeras noções apontadas se dispõem em construção, simultaneamente contribuindo para constituir todo um novo olhar para o corpo e para o desenvolvimento humano. Outro ponto de destaque é a necessidade de busca por uma clara definição de corporeidade. Os trabalhos recuperados trazem a sua concepção de corporeidade de modo diluído em seus pressupostos de base, deixando subentendida a noção adotada. Com relação aos dualismos, há poucos trabalhos que fazem um exercício empírico de ruptura com as propostas duais, geralmente apontando a necessidade de rompimento, ainda que este esteja distante de ser concretizado na prática, na medida em que nos situamos em uma cultura fortemente influenciada por esta tradição. Destacamos, neste sentido, a dificuldade de se pensar fora do paradigma moderno e, mais ainda, de se trabalhar empiricamente com o novo paradigma, haja vista que nenhum dos estudos trouxe uma abordagem empírico-metodológica para o problema. Concluímos que mais estudos devam ser feitos, notadamente empíricos, levando à construção de uma noção de corporeidade que ofereça suporte a outros trabalhos, além de produzir integradas práticas de atuação em diversos campos. No nosso caso, é a partir desta revisão ou no seu entrelaçamento com ela, que nosso próprio trabalho empírico será retomado e analisado.

Instituição de fomento: Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP)
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: corporeidade; dialogismo; revisão bibliográfica.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006