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H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Lingüística - 5. Teoria e Análise Lingüística

Epistemologia em Análise de Discurso

Celma Oliveira Prado 1
Maria da Conceição Fonseca-Silva 1
(1. Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia / UESB)
INTRODUÇÃO:

Fonseca-Silva (2000; 2003a, 2003b) salienta a importância de se fazer estudos epistemológicos para evitarmos as confusões teórico-metodológicas geradas pelo uso das vulgatas, principalmente nos estudos da linguagem que surgiram a partir dos anos 60 do século XX, década marcada por uma conjuntura intelectual em que diversos estudiosos se propuseram a fazer uma releitura do estruturalismo, principalmente em relação à Lingüística, promovida à ciência-piloto pelo estruturalismo francês. É dentro dessa conjuntura intelectual filosófica e política que nasce o projeto da disciplina Análise de Discurso, iniciada por Pêcheux. É, também, nesse mesmo contexto que nasce o projeto da arqueogenealogia do sujeito, postulado por Foucault, cujos postulados e práticas de leitura foram e continuam sendo, segundo Fonseca-Silva (2003a), fundamentais na prática de análise de discursos e na reconfiguração do quadro teórico da AD. Definir e precisar os postulados do quadro da arqueogenealogia do sujeito e do quadro da AD e os pontos de deriva entre esses dois quadros se faz necessário nessa pesquisa que busca desfazer as confusões teórico-medotológicas decorrentes da não compreensão desses postulados.

METODOLOGIA:

O corpus da pesquisa está sendo constituído de acervo bibliográfico que diz respeito a Michel Foucault, a Michel Pêcheux e a seu grupo, a pesquisadores brasileiros que se filiam ao quadro epistemológico da AD. Foi realizado o levantamento bibliográfico dos escritos publicados (livros, artigos, conferências, palestras, cursos, etc) que compõem a obra de Michel Foucault, de Michel Pêcheux e dos membros do grupo da Escola Francesa de Análise de Discurso e de pesquisadores brasileiros ligados às linhas de pesquisa do grupo da Escola Francesa de Análise de Discurso, tendo como fontes, no Brasil, o acervo bibliográfico particular da coordenadora do projeto, as.Bibliotecas do Instituto dos Estudos da Linguagem (IEL) e do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp; e, na França, o Centre National de Recherche Scientifique (CNRS), a Université Paris-XII, o Centre Michel Foucault e a Société Internationale des Etudes sur Michel Foucault.

Após o levantamento, procedeu-se à catalogação bibliográfica dos escritos, a estudos, análises, discussões e recensões de escritos catalogados. Paralelamente a essas atividades, procedeu-se a estudos, análises, discussões e resenhas de escritos publicados que compõem a obra de Michel Foucault, a estudos, análises, discussões e resenhas de escritos publicados que compõem a obra de Michel Pêcheux e elaboração de textos sobre a questão do enunciado e da interpretação em Foucault em Pêcheux.

RESULTADOS:

Foram feitos o levantamento e a catalogação de 530 escritos. Foram catalogados 323 escritos de Foucault e 32 escritos sobre Foucault e sua obra. Foram catalogados 39 escritos de Pêcheux, 50 de pesquisadores franceses e 86 de pesquisadores brasileiros que estiveram ligados à Escola Francesa de Análise de Discurso.

Também foram feitos estudos e recensão de alguns dos textos e dos livros catalogados, entre os quais destacam-se A arqueologia do saber e A ordem do discurso, de autoria de Foucault; Análise automática do discurso (AAD-69), de Pêcheux; A propósito da análise automática do discurso: atualização e perspectivas, de Pêcheux e Catherine Fuchs; A análise de discurso: três épocas, de Pêcheux; Os fundamentos teóricos da “Análise automática do discurso” de Michel Pêcheux, de Paul Henry; O discurso: estrutura ou acontecimento, de Pêcheux.

Como resultado das questões colocadas sobre enunciado e interpretação em Foucault e Pêcheux, observou-se que: o enunciado postulado por Foucault não é idêntico ou equivalente ao que os gramáticos chamam de frase, ao que os analistas da pragmática chamam de ato de fala ou ao que os lógicos chamam de proposição; frase, ato de fala e proposição podem funcionar como enunciados, desde que se identifique neles uma posição de sujeito; um enunciado, em Pêcheux, é qualquer unidade lingüisticamente descritível; em Foucault, a análise de discurso se coloca fora de qualquer tipo de interpretação e, em Pêcheux, como uma disciplina de interpretação.

CONCLUSÕES:

O levantamento e catalogação consta de 530 escritos (livros, artigos, conferências, cursos, diálogos, debates, entrevistas, prefácios e posfácios, mesas-redondas) publicados em francês e em português, sendo: 323 de Focault e 32 sobre esse pensador e sua obra; 39 de Pêcheux, 50 de pesquisadores franceses e 86 de brasileiros ligados à Escola Francesa de Análise de Discurso.

Dos escritos catalogados, sete livros, cujas recensões estão finalizadas, foram analisados e discutidos.

Quanto à precisão do enunciado e da interpretação, os resultados das análises e discussões indicam que: em Foucault o enunciado não é equivalente à frase, à proposição ou ao ato de fala, é uma função de existência que pertence aos signos, mas não, necessariamente, aos signos lingüísticos e tem uma posição de sujeito. O enunciado em Pêcheux é qualquer unidade lingüisticamente descritível como uma série de pontos de deriva possíveis para a interpretação; em Foucault, a análise de discurso se coloca fora de qualquer interpretação e, em Pêcheux, é uma disciplina de interpretação.

Instituição de fomento: CONSELHO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO E TECNOLÓGICO /CNPq.
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: Análise; Discurso; Epistemologia.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006