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E. Ciências Agrárias - 1. Agronomia - 1. Ciência do Solo

EFICIÊNCIA AGRONÔMICA DE RESÍDUOS INDUSTRIAIS COMO FONTE DE MICRONUTRIENTES NA CULTURA DO MILHO EM SOLOS DE CERRADO

Janne Louize Sousa Santos 1
Huberto José Kliemann 1
Wilson Mozena Leandro 1
(1. Universidade Federal de Goiás)
INTRODUÇÃO:

O pó-de-aciaria, obtido na produção do aço que contém aproximadamente 12% de Zn representa fonte potencial deste nutriente e de micronutrientes para as plantas principalmente para o milho que é uma cultura que apresenta alta sensibilidade à deficiência de zinco, média à de cobre, de ferro, e de manganês e baixa à de boro e de molibdênio. No entanto, o pó-de-aciaria apresenta em sua constituição, alguns metais pesados que possam provocar efeitos negativos em componentes bióticos e abióticos do ambiente, quando é utilizado na agricultura ou disposto de forma inadequada, pois pode resultar na transferência desses metais pesados do solo para as plantas e na sua entrada na cadeia alimentar em teores acima dos aceitáveis (SANTOS et al., 2002). Assim, para comprovar o beneficio agronômico do pó-de-aciaria e que a mesma não acarrete prejuízo ambiental estudos cada vez mais detalhados devem ser desenvolvidos sobre o comportamento destes subprodutos nos solos de cerrados. O trabalho teve como objetivo avaliar a eficiência agronômica de resíduos industriais como fonte de micronutrientes na cultura do milho.

METODOLOGIA:

1 – Amostragem.

O experimento foi conduzidos em condições de campo, num Latossolo Vermelho Distroférrico (Latossolo Vermelho Escuro, textura argilosa), com teores baixos de Zn e baixos valores de saturação por bases na Escola de Agronomia e Engenharia de alimentos - UFG, município de Goiânia – GO. Utilizou-se o delineamento de blocos casualizados, em esquema fatorial 4 x 4, com 4 repetições, sendo quatro doses de calcário e 4 doses e IQF totalizando 64 unidades experimentais.

Cada unidade experimental apresentou uma área total de 25,2 m2 (6,3m x 4,0 m), com 7 linhas de 4 m de comprimento espaçadas de 0,9 m (milho). Foi considerada uma área útil central de 10,8 m2 (4 linhas de 3 metros de comprimento de milho). Os resíduos industriais de metalurgia foram diluídos e enriquecidos com micronutrientes para formar o produto IQF (1,8% de B; 0,6% de Cu; 17,6% de Fe; 0,1% de Mn; 0,1% de Mo e 11,8% de Zn), composição semelhante a do FTE-BR12. Além dos nutrientes apresenta 1,30 % Pb, 0,22 % Cr e 0,080 % de Cd. O solo usado apresentava as seguintes caracteristícas: Argila 51 dag/dm3; M.O. 2,0 dag/cm3; pH em água 5,6; P (Mel) 2,00 mg/dm3; K 96 cmolc/L; Ca 1,40 cmolc/L; Mg 0,35 cmolc/L; CTC 7,00 cmolc/L; V% 28,83 mg/dm3; Cu 6,0 mg/dm3; Fe 39,0 mg/dm3; Mn 23,0 mg/dm3; Zn 2,00 mg/dm3.

Conforme os tratamentos as doses de calcário utilizadas foram: C0 - sem aplicação de calcário; C1 - ½ da dose recomendada para elevar V%=60; C2 - dose recomendada para elevar V%=60 e C3 - 2x a recomendada para elevar V%=60. O calcário empregado foi um dolomítico calcinado com PRNT de 140%. As doses de aplicação do IQF foram: D1 - 0 kg/ha de IQF; D2 – 25 kg/ha de IQF; D3 - 50 kg/ha de IQF e D4 - 100 kg/ha de IQF.

Após a aplicação do calcário (20 dias), foram aplicados os tratamentos. Foi realizada adubação básica conforme a necessidade. O milho plantado apresentava-se no terceiro ano de cultivo na área em rotação com a soja.

2 - Determinação produtividade e fitomassa da planta.

Por ocasião do pendoamento do milho foram coletados dados de inserção da altura da primeira espiga. No período de maturação fisiológica (quando o milho encontrava-se no ponto farináceo) coletou-se 1 m linear de plantas, contando-se o número de plantas. A produtividade de grãos por hectare foi obtida colhendo-se estes na área útil com a umidade corrigida a 13%. Foi obtido o peso da fitomassa verde total. As plantas foram separadas em caule, folha (verdes e senescentes) e espiga. O efeito dos tratamentos foram avaliados pela análise de variância, sendo comparadas por teste tukey a 5%. Posteriormente efetuou-se ajustes de regressão polinomial do segundo grau em função das doses de IQF e calcário aplicados.

3 – Determinação da análise foliar.

Na época do florescimento do milho foram coletadas amostras de folha (abaixo e oposta à espiga – 6 folhas/parcela), as quais, após a lavagem, secagem e trituração, foram analisadas para as variáveis N, P, K, Ca, Mg, S, Cu, Fe, Mn, Zn, Pb, Cr e Cd conforme metodologia de Malavolta et al., (1989).

4 – Determinação da análise de solo.

Foi feita a coleta de amostra na fase de florescimento. Coletou-se amostra em todos os blocos para a profundidade de 0 a 20cm, em dois blocos para a profundidade de 20-40 cm e em um bloco para a profundidade 40 a 60 cm. Os teores de micronutrientes e metais Cr, Cd e Pb fitodisponíveis foram determinados pelo Mehlich 1. Foram coletadas 10 amostras simples de solo por parcela, nas diferentes profundidades, as quais, após a homogeneização e quarteação, foram analisadas no Laboratório de Solos da EA-UFG, conforme metodologia proposta por Defelipo e Ribeiro (1981).

RESULTADOS:

1 - Determinação produtividade e fitomassa da planta.

Verifica-se que a variável produtividade respondeu positivamente aos efeitos da aplicação de calagem tendendo a ser maior com a quantidade de calcário aplicado. Com relação à variável altura de inserção da espiga observou-se variação significativa tanto para as doses de calagem quanto para as doses de IQF. A aplicação de calcário no solo de forma adequado faz com que esse disponibilize as quantidades adequadas de nutrientes que a planta precisa expostos pela adubação. Não houve resposta de produtividade com relação à aplicação de IQF como fonte de Zinco para o milho.

2 – Determinação da análise foliar.

Os teores de Zn, Fe, K, S e N não apresentaram variações significativas com relação à calagem e ao IQF. Com relação aos valores de Ca e Mg houve ocorrência significativa para a aplicação de calcário. Com relação ao IQF houve efeito significativo para o P e o Ca. Para os dois macronutrientes houve diminuição da fitodisponibilidade com os aumentos das doses de IQF. Estes valores podem estar relacionados a maior produtividade e exportação destes nutrientes nos anos anteriores de cultivo da cultura. Apesar de as plantas terem sido analisadas para determinação dos teores totais de Cd, Cr, Pb e Cu não se encontrou valor significativo para estes elementos, pois, as baixas concentrações desses elementos no IQF sejam a razão para a não detecção pelo espectrômetro de absorção atômica. Quanto ao Mn, seu teor se tornou menos disponível com a elevação da quantidade de calagem. A deficiência de Mn ocorre em solos com pH alto.

3– Determinação da fitodisponibilidade de Cd, Cr e P e outros minerais.

As análises de solo não indicaram a presença significativa de Cd, Cr e Pb apesar desses metais estarem presentes na composição química do resíduo. Tais resultados podem ser decorrentes da diluição desses elementos no solo, o baixo teor no resíduo IQF, apresentando resultados relacionados à não detecção desses metais no espectrofotômetro de absorção atômica. Os teores de Cr na camada 0-20 cm e Pb na camada 20-40 cm encontraram-se disponíveis no solo aumentando com a adição de doses crescentes de calagem. O Pb também encontrou correlação significativa para o IQF para a dose M0 e M2. No entanto, o valor dos coeficientes de variação foram baixos, ocorrendo pouca variação nas casas decimais dos valores podendo-se considerar os valores significativos de pouca relevância.

Na profundidade de 0-20 cm do solo o teor de Cu se tornou mais disponível no solo para a quantidade de calagem C2. A disponibilidade de Cu é afetada pelo pH do solo, tendendo a diminuir com a sua elevação. Já em relação ao Zn, houve relação altamente significativa com o aumento da calagem provavelmente devido, ao aumento da disponibilidade de zinco do solo promovido pela maior mineralização da matéria orgânica em função da calagem e revolvimento do solo, maior volume de solo explorado pelo sistema radicular, maior atuação de micorrizas e impurezas presentes no calcário. Nas variáveis analisadas na profundidade de 40-60 cm de profundidades não se encontroaram variações nos tratamentos.

CONCLUSÕES:

A maior resposta na produtividade do milho em relação à testemunha foi obtida no 3o ano após a aplicação do IQF; em torno de 16% de incremento na dose de 50 kg/há; as maiores produtividades em função da calagem foram obtidas nos 2° e 3° anos de cultivo na cultura do milho e a maior dose proporcionou incrementos de 16% na produção; não houve aumento dos teores de metais tóxicos com o uso do fertilizante IQF no solo, nas folhas de milho; e o monitoramento do efeito residual de produtos de baixa solubilidade como o calcário e IQF são necessários para avaliar a sua eficiência agronômica.

Instituição de fomento: Hebert & Hegert Johanssen Recuperadora de Resíduos Ltda
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: Resíduo Industrial ; Zinco; Milho.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006