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D. Ciências da Saúde - 4. Odontologia - 2. Clínica Odontológica
AUTOPERCEPÇÃO DA NECESSIDADE DE TRATAMENTO PROTÉTICO DE PACIENTES DESDENTADOS PARCIAIS NO MOMENTO DA PERDA DENTÁRIA
Marília Galvão Chaves 1
Cláudio Rodrigues Leles 1
Linéia Tavares Teófilo 1
(1. Universidade Federal de Goiás/UFG)
INTRODUÇÃO:

           Um dos aspectos mais relevantes no processo de tomada de decisões por tratamento é a forma pela qual o indivíduo percebe sua condição de saúde bucal. A presença de dor, desconforto, limitação funcional, insatisfação com a aparência, auto-estima, dificuldades de comunicação e relacionamento social estão associados com a percepção subjetiva do paciente com relação à necessidade de tratamento protético. A consideração desses aspectos está intimamente relacionada com o de satisfação do paciente com os resultados do tratamento realizado e o sucesso clínico alcançado (HEFT et al., 2003; NEDEFORS, 1998; OMAR, 2003).

           Nem todas as pessoas com perdas dentárias necessitam de tratamento protético para que percebam seu estado de saúde bucal como satisfatório (ELIAS e SHEIHAM, 1998). A demanda por tratamento não se justifica unicamente pela ausência de dentes, mas também por uma série de aspectos individuais relacionados ao paciente. Dessa forma, fatores como o número e a localização das ausências dentárias, a idade do paciente, presença ou não de restrições funcionais, bem como características sócio–demográficas e culturais são fatores importantes na demanda por tratamento protético e nas decisões associadas ao tratamento (TROVIK; KLOCK; HAUGEJORDEN, 2002; HEFT et al., 2003; OMAR et al.,2003).

            O objetivo deste estudo é avaliar a autopercepção de pacientes submetidos à exodontia em relação a fatores associados à perda dentária, conceitos e expectativas relacionados à prótese dentária e à necessidade percebida de tratamento protético no momento da extração dentária.

 

METODOLOGIA:

A coleta de dados para avaliação da autopercepção de pacientes quanto à necessidade de tratamento protético foi realizada no momento da(s) exodontia(s), previamente à intervenção. Foi estabelecida uma amostra de conveniência, constituída por todos os pacientes eletivos da Clínica de Cirurgia do Curso de Graduação da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Goiás (FO/UFG), que foram arrolados consecutivamente de acordo com os critérios de inclusão, num período determinado de 4 meses. Os pacientes selecionados foram submetidos a um exame clínico específico. Dados relativos à identificação do paciente e caracterização da situação clínica relacionada à condição protética foram coletados em ficha clínica específica. Posteriormente ao exame clínico, um questionário estruturado era administrado pelo pesquisador iniciante em forma de entrevista. As questões utilizadas na entrevista foram elaboradas com base em um instrumento de avaliação previamente proposto por Slade e Spencer em 1993 (Oral Health Impact Profile).

RESULTADOS:

            A amostra total foi constituída por 211 pacientes eletivos da Clínica de Cirurgia da Faculdade de Odontologia da UFG, submetidos a exodontia, tendo sido atendidos no período compreendido entre setembro e dezembro de 2004. A população de estudo incluiu indivíduos de 15 a 82 anos, sendo composta, em sua maioria, por adultos. Mais da metade dos participantes relataram não ter concluído o ensino fundamental.

            No exame clínico realizado previamente à exodontia, foi observado que a maioria dos pacientes (89,6%) possuía espaços desdentados, sendo que 50,2% dos pacientes desdentados parciais apresentavam perdas dentárias exclusivamente na região posterior e 49,2% em ambas as regiões (anterior e posterior). Em 21,7% dos pacientes, foram observadas ausências dentárias na arcada inferior e em 74,1%, em ambas arcadas. Considerando a extensão do maior espaço desdentado e o número dos espaços desdentados, 55% foram classificados como longo e, 86,7% como múltiplos, respectivamente. Foi observada uma média de 10,39 dentes ausentes, sendo que 66,4% dos pacientes apresentavam 5 ou mais dentes perdidos. Apenas 52 pacientes com perdas dentárias (27,5%) tinham ao menos um dos espaços desdentados tratado, sendo que a maioria dos pacientes apresentava espaços desdentados não tratados (72,5%). A prótese removível (total ou parcial) foi a modalidade de tratamento mais utilizada pelos pacientes reabilitados (88,5%). A maior freqüência de reposição protética ocorreu quando envolvia dentes anteriores apenas (15,4%) ou dentes anteriores e posteriores associados (78,9%). Portanto, 94,3% dos pacientes com perdas dentárias tratadas apresentavam reposição de dentes anteriores. De forma semelhante, 96,1% dos pacientes reabilitados utilizavam prótese na arcada superior.

            Foram indicados para exodontia um total de 415 dentes nos 211 pacientes, sendo que a maior parte apresentava localização posterior (70,0%), correspondente a molares e pré-molares. O principal motivo para a perda destes dentes foi a cárie dentária.

A percepção dos pacientes em relação aos prejuízos resultantes das perdas dentárias foi alta, variando de 20,9% a 75,8%, sendo que a maioria dos pacientes considerou importante a colocação imediata de prótese dentária (96,2%), embora 72,5% deles pretendessem a reposição protética imediata. Além disso, 92,4% dos participantes acreditavam que o tratamento protético tem o potencial de resolver os problemas clínicos decorrentes da perda dentária 

 A análise dos conceitos individuais dos pacientes sobre os riscos e benefícios do tratamento protético indicou que 74,4% dos indivíduos relataram que a estética é o maior benefício resultante da colocação de prótese dentária, seguido pela melhora na função mastigatória (64,9%). Em relação aos riscos percebidos, os pacientes expressaram o desconforto (dor) causado aos tecidos moles como o maior fator de risco do tratamento (30,9%), seguido pelo prejuízo aos dentes naturais (29,1%), prejuízo à saúde geral (21,8%), rejeição orgânica ou psicológica (20,0%) e desadaptação da prótese (18,2%).

Em relação à presença de perdas dentárias não tratadas, a grande maioria justificou a não realização do tratamento protético por falta de disponibilidade financeira (82,7%), seguido pela falta de conhecimento da existência de tratamento (20,7%), falta de interesse (9,7%) e de motivação (9,7%).

CONCLUSÕES:

- A freqüência da autopercepção dos pacientes em relação aos prejuízos associados à perda dentária foi alta no momento da exodontia.

- A estética foi o maior benefício percebido em relação ao tratamento protético, enquanto o desconforto foi o maior risco relatado pelos pacientes.

- A demanda por tratamento protético, no período avaliado, foi considerada baixa, sendo justificada, principalmente, pela falta de disponibilidade financeira.

Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: Autopercepção; Tratamento protético; Desdentados parciais.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006