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C. Ciências Biológicas - 14. Zoologia - 2. Comportamento Animal
COMPORTAMENTO SOCIAL DO BUGIO-RUIVO (Alouatta guariba clamitans Cabrera, 1940) EM UM FRAGMENTO DE FLORESTA OMBRÓFILA MISTA.
Rodrigo Fernando Moro-Rios 1, 4
João Marcelo Deliberador Miranda 2, 4
Fernando de Camargo Passos 3, 4
(1. Ciências Biológicas-UFPR; 2. Pós-Graduação em Zoologia-UFPR; 3. Departamento de Zoologia-UFPR; 4. Laboratório de Biodiversidade, Conservação e Ecologia de Animais Silvestres-UFPR)
INTRODUÇÃO:

Apontado como um dos primatas neotropicais com maior grau de folívoria, Alouatta guariba clamitans Cabrera, 1940 adota uma estratégia de minimização de gastos energéticos uma vez que as folhas são alimentos de baixo retorno calórico. Utilizando-se dessa estratégia, os animais do gênero tem como temporalmente privilegiadas as atividades de manutenção (descanso, alimentação e locomoção) em detrimento dos comportamentos mais custosos, ou comportamentos que visam essencialmente a sociabilidade entre os indivíduos. Mesmo assim, as interações sociais afetam diretamente calguns aspectos da sobrevivência dos bugios. Dentre tais aspectos estariam a hierarquia e a reprodução, fortemente influenciados por catação e agonismo. A estrutura dos grupos, a imigração e emigração de indivíduos, por sua vez, são intimamente ligados a estrutura hierárquica, a busca por condições reprodutivas mais adequadas, e por características do desenvolvimento ontogenético dos integrantes de um grupo. Já o desenvolvimento e a sobrevivência de indivíduos imaturos são determinados pelo cuidado parental, pela posição hierárquica dos pais e pelas brincadeiras. O posicionamento diferencial dos animais no espaço também é um indicativo de condição hierárquica intragrupal, com implicações na competição por recursos pontuais, vigilância e freqüência de recebimento de comportamentos afiliativos. Este estudo objetivou a descrição quali-quantitativa dos comportamentos sociais de dois grupos de bugios-ruivos.

METODOLOGIA:

A área de estudo foi um fragmento de 700ha de Floresta Ombrófila Mista inserido na APA Estadual da Escarpa Devoniana, localizada no Distrito do Bugre, Município de Balsa Nova-PR (25°29’S e 49°39’W). O clima da região é Cfb, segundo a classificação de Köpen com temperatura média anual de 18ºC e precipitação de 1600mm em média (dados obtidos na Estação Meteorológica Municipal da Lapa-PR). O terreno é acidentado e sobre ele ocorrem formações florestais secundárias e primárias alteradas pelo corte seletivo de árvores, além de remanescentes de Campos Naturais. O Grupo 1 contava com 7 indivíduos que aparentemente se dividem em dois sub-grupos um deles contendo 1FA, 1 juvenil I e 1 infante e o outro 1MA, 2 juvenis e 1FA. O Grupo 2 teve sua composição variando entre 4 e 5 indivíduos durante o período de estudo e era composto por 1 Macho Adulto (MA), 1 Fêmea Adulta (FA), 1 macho subadulto, 1 juvenil e um infante que teve seu desaparecimento constatado a partir do segundo mês de estudo.

Foi utilizada a metodologia varredura instantânea (Altmann, 1974) com intervalos de dez minutos entre cada observação. A cada varredura foi anotado qual o indivíduo mais próximo do focal bem como o comportamento executado por este. No caso de comportamentos agonísticos e catações foi anotado o direcionamento do comportamento.

RESULTADOS:

Das 55 h de observação, 9,35% do tempo foi dedicado aos comportamentos sociais. O comportamento social mais relevante foi a vocalização (53,42%) realizada na forma de roncos (17,95%), executados exclusivamente por machos adultos (MA’s), latidos (46,15%) executados por adultos e subadultos de ambos os sexos, e outras variadas vocalizações (35,90%). As brincadeiras (21,90%) foram observadas apenas entre indivíduos imaturos irmãos e se subdividiram em lutas (75%) e perseguições (25%). As catações (19,18%) ocorreram primordialmente entre fêmeas adultas (FA’s) e seus filhotes infantes (64,22%) e juvenis (14,28%), tendo sido registradas também entre FA‘s e MA‘s (21,43%). Em todas ocasiões as fêmeas foram as executoras. Comportamentos agonísticos foram raros (2,74%) tendo sido um episódio no qual um juvenil agride uma FA e outro no qual uma FA investe sobre outra pertencente ao outro subgrupo, que deixa a área. Após tal episódio foi constatada a fissão do Grupo 1. Foram observadas três cópulas, todas entre indivíduos adultos e precedidas por sessões de catação iniciadas pelas fêmeas. Posteriormente tais catações foram realizadas de maneira recíproca por parte dos machos. A duração média das cópulas foi de 27 s e os indivíduos envolvidos se posicionavam isoladamente em relação ao restante dos indivíduos do grupo. As FA’s foram os indivíduos mais próximos aos outros em 54,10% dos casos, seguidas pelos infantes (30,30%), juvenis (10,72%) e MA‘s e subadultos (5,44%).

CONCLUSÕES:

Em sua totalidade estes dados reforçam o caráter minimizador de gastos, pois a taxa de realização de comportamentos sociais é baixa e o comportamento executado com maior freqüência é referido como sendo uma adaptação para restrição da perda energética durante conflitos. Episódios de agressividade direta foram raros, resultado de uma estrutura social formada por indivíduos aparentados. A realização de brincadeiras por imaturos tem freqüência acentuada pois estas seriam importantes no desenvolvimento motor. A diferença de idade entre os animais envolvidos nas brincadeiras pode ser um fator importante para a aprendizagem dos indivíduos mais novos com os mais experientes. As FA’s tem predominância na realização de cuidados parentais fazendo com que suas relações com outros indivíduos sejam diminuídas. A relação constante com o infante se reflete nos altos índices de catação realizadas por FA’s em infantes. O posicionamento central da FA seria devido ao fato de que boa parte dos indivíduos serem parte de sua prole. O posicionamento periférico dos MA’s pode ser relacionado à vigilância. Fica reforçada aqui a importância dos comportamentos sociais sobre os aspectos demográficos. O dados que aqui constam podem ajudar no esclarecimento de certos aspectos do conhecimento dos bugios ruivos que podem ser úteis na elaboração de planos para a conservação destes animais.

Instituição de fomento: PIBIC/CNPq; CNPq
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: Comportamento Social; Alouatta; Floresta com Araucária.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006