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H. Artes, Letras e Lingüística - 3. Literatura - 4. Literaturas Modernas
A estrutura da metáfora
Rodrigo Sant Ana Brucoli 1
(1. Departamento de Letras Modernas-FFLCH-USP)
INTRODUÇÃO:

Um primeiro olhar ao texto proustiano parece revelar um problema teórico: qual seria o interesse em, ao escrever A la Recherche du Temps Perdu apresentar, por exemplo, várias cenas em muito parecidas? Além disso, é possível acrescentar: qual seria o interesse em apresentar os momentos de memória involuntária, que são ditos a identificação entre o tempo passado e o tempo presente, como pilastra principal sobre a qual o texto proustiano se estrutura? A partir disso é possível constatar como problema, em Proust, por exemplo, o modo como as personagens são concebidas: se o maior foco da Recherche, como podemos encontrar em Le Temps Retrouvé está em identificar o tempo passado ao tempo presente, de modo a apresentar uma experiência extratemporal, como será o olhar do narrador que vê concomitantemente uma experiência do passado e uma experiência do presente? Como será, por exemplo, o olhar deitado a uma personagem ou a um espaço, se ele se encontra, ao mesmo "tempo" no passado e no presente, quando do momento da escritura?  

METODOLOGIA:
Cotejamento do texto proustiano (A la Recherche du Temps Perdu e Contre Saint-Beuve), comparação com o conceito de espaço e tempo, desenvolvidos por Kant e com algumas noções estabelecidas pela Crítica Genética (sobretudo Louis Hay e Philippe Wilemart).
RESULTADOS:

Ao comparar, como proposto na introdução, uma mesma personagem em diferentes momentos da obra, podemos duvidar se tratar da mesma. É o caso, por exemplo, da personagem que se chama Odette de Crécy, e depois ainda será chamada pelos nomes Odette, Mme. Swann e mãe de Gilberte. O texto parece, ao apresentar as personagens, por exemplo, desse modo, propor uma série de estruturas variantes (que serão os "estados" das personagens, ou ainda o modo como são intuídas em diferentes momentos da obra) que deverá ser cristalizada de algum modo. Assim, pela contraposição de dois momentos de percepção de uma mesma personagem (e ressalto que esse é um dos exemplos que poderiam ser citados. São exemplos possíveis os estados de memória involuntária, as visitas a determinados lugares, como as igrejas e catedrais, freqüentes na obra, o ciúme ou a sensação do amor, entre outros) chegamos a um terceiro ponto, que, por assim dizer, será uma espécie de "síntese" desses outros estados primeiros, e que os abarcará ao mesmo tempo em que os transforma.

CONCLUSÕES:

A partir da síntese à qual apontamos nos resultados, pretenderemos chegar a uma possível "estrutura de metáforas", apresentando-a como a justaposição de dois estados diferentes de um mesmo referencial (como, no caso, a personagem Odette de Crécy) que não mais se centrará nesse referencial, mas sim nos seus modos de recepção. Dessa maneira seria impossível, por exemplo, apontar um princípio ou fim último na apresentação desses estados: o texto da Recherche apresentaria uma série de sucessões que, ao seu decorrer, faria perder o referencial primeiro, a noção de fenômeno ou objeto, por exemplo. Desse modo, pela sucessão dessas metáforas (pois não poderemos mais conceber esses estados como estados dos objetos, mas sim como estados de recepção dos objetos, ou ainda como metáforas deles), o texto proustiano se apresentará como seu próprio objeto, pois se concentrará em construir uma catedral (como prefere o texto de Le Temps Retrouvé) composta pela sua própria memória, pela sucessão dos estados por ele recebidos. A noção da experiência extratemporal também parece apontar para essa conclusão, pois porá o alicerce da recepção de algo na justaposição e contraposição entre dois tempos ou dois estados de sucessão diferentes, de modo a impossibilitar um saber positivo qualquer, e possibilitar a convivência simultânea desses dois estados. Essa convivência só será passível de ser fixada por meio da escritura literária.

Instituição de fomento: Pró-Reitoria de Pesquisa e Extensão da Universidade de São Paulo
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: Proust; Literatura Estrangeira Moderna; Crítica Genética.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006