A realidade da Odontologia restauradora atual se baseia em princípios filosóficos que resultam em maior conservação de estruturas dentais em associação a maior longevidade. A interação do sistema adesivo ao substrato dentinário é influenciada pela área de dentina intertubular exposta, diâmetro e quantidade de túbulos expostos, extensão dos túbulos secundários e capacidade de umedecimento do sistema adesivo. Vários ensaios mecânicos vêm sendo empregados para caracterizar a resistência adesiva dos sistemas adesivos à dentina. Entretanto, o emprego de dentes humanos em ensaios de adesão é extremamente questionado pela variabilidade e dificuldade de obtenção de dentes hígidos, livres de cárie e má formação e principalmente pela origem duvidosa destes dentes. Os ensaios mecânicos de adesão, principalmente os que envolvem restaurações indiretas requerem longo tempo entre a obtenção das amostras e a execução final do experimento. Sabe-se que ocorre modificação estrutural da dentina após a extração do dente, com reflexo comprovado em ensaio de adesão. Outro aspecto importante na manipulação de órgãos é a necessidade de adequada descontaminação dos espécimes previamente a sua manipulação, com isso têm-se usado diversas soluções na armazenagem de dentes extraídos. Portanto, este trabalho se propõe avaliar o efeito do modo e período de armazenagem de dentes bovinos na resistência adesiva de restaurações indiretas de compósitos, através de ensaios de microtração.

Foram utilizados 90 incisivos bovinos, recém extraídos, livres de trincas. Os dentes foram armazenados em 3 tipos de solução de descontaminação: solução aquosa de timol a 0,2%(T), solução aquosa de formol a 10%(F) e solução aquosa de azida sódica a 0,2% (A) em três períodos de armazenamento: 7 dias (P1), 30 dias (P2) e seis meses (P3), resultando em 9 grupos (n=10). A porção central da coroa teve a dentina superficial exposta pelo desgaste com lixas.  A superfície foi condicionada com ácido fosfórico a 37% por 15 segundos e uma restauração indireta de resina foi fixada empregando sistema adesivo Single Bond e cimento resinoso Rely X (3M-ESPE) sob carga de 500 gramas por 5 minutos. A polimerização foi realizada por 40 segundos em cada face. As amostras foram seccionadas em fatias de 1,2mm de espessura e com uma ponta diamantada #1090 foi confeccionada constricção na linha de união dentina-cimento resinoso, sendo então submetidas à  microtração em máquina de ensaio mecânico (EMIC DL 2000) com velocidade de 0,5 mm/minuto. O padrão de fratura foi analisado em microscopia eletrônica de varredura. Os dados foram analisados empregando análise de variância e Teste de Tukey (p<0,05).

Os valores de resistência adesiva em megapaschals (MPa) foram: TP1- 19,55 ± 4,12; TP2- 18,84 ± 4,81; TP3- 13,90 ± 2,67; FP1- 17,85 ± 4,43; FP2-17,16 ± 4,46; FP3- 12,42 ± 2,47; AT1- 18,07± 3,16; AT2- 17,78 ± 3,16; AT3- 17,00 ± 4,22. Não houve diferença estatisticamente significante (p > 0,05) para o fator tempo, solução de armazenagem e para a interação entre estes dois fatores no período de até um mês. Dentes armazenados em timol ou formol por seis meses apresentaram valores de resistência adesiva significativamente menores que os outros grupos (p < 0,05). A análise do padrão de fratura mostrou variações. Fratura coesiva do cimento resinoso e/ou da resina indireta e fratura adesiva (falha na interface adesiva) foram observadas em todos os grupos.

De acordo com a metodologia empregada e análise dos resultados pode-se concluir que: a armazenagem de dentes bovinos a serem empregados em ensaios de adesão não sofre influência do tempo e da solução no período de até um mês; as soluções a base de formol e timol influenciaram negativamente na adesão quando os dentes foram armazenados por seis meses.