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H. Artes, Letras e Lingüística - 3. Literatura - 2. Literatura Comparada

INTER-RELAÇÕES CULTURAIS NA REGIÃO FRONTEIRIÇA DO OESTE SUL-MATO-GROSSENSE

Gleiciane Buscioli  1
(1. Departamento de Comunicação e Expressão – Campus de Dourados/UFMS)
INTRODUÇÃO:

A região do extremo oeste brasileiro vem despertando interesses aos estudiosos da cultura, seja brasileiro seja paraguaio, devido às multiplicidades de vozes que constituem a "história" e a constituição identitária dela mesma. Logo, a representação cultural dessa região ganha complexidade e riquezas capazes de sustentar os diversos estudos sobre a influência que o elemento regional fornece à literatura brasileira stricto sensu, uma vez que a literatura se incorpora numa relação estrita com suas origens. As relações inter-culturais da região de entre os estados de MS e MT, e ainda entre os cruzamentos que se mantêm com os países vizinhos, como o Paraguai e a Bolívia, servem de subsídios, ou seja, têm contribuído aos estudos mais recentes da Literatura Comparada, haja vista que a "fronteira", não só no sentindo de limite de um espaço geográfico, é o ponto de intersecção, lugar intervalar, onde se operam as trocas, os "contrabandos culturais". Assim, a prática comparatista visa a elaborar textos escritos e/ou culturais que funda seu método a partir do questionamento da problemática do Outro – almejando a alteridade, a identidade cultural. O trabalho tem como proposta discutir as inter-relações entre literatura e história nas narrativas ficcionais Caraguatá e Guerra entre Irmãos, da escritora sul-mato-grossense Raquel Naveira.

METODOLOGIA:

Este trabalho orienta-se pela revisão da bibliografia teórica sobre o assunto e pela leitura das obras da escritora. Inicialmente, circunscreve-se na descrição de fatos e características presentes em uma determinada região cultural ou área de interesse. Paralelamente, visa, ainda, ao estudo teórico-crítico de obras da literatura que são produzidas nessa região do país. Assim, o corpus que aqui se apresenta, através das obras Caraguatá e Guerra entre Irmãos, da escritora Raquel Naveira, aponta para a relação que estes textos literários mantêm com a questão da identidade cultural; o que leva, obrigatoriamente, a repensar o espaço e o tempo, seja como historiador, seja como estudioso da cultura, salientando-se um viés da Literatura Comparada que, como método de trabalho, interessa-se pela problemática do Outro – a questão da alteridade, da identidade cultural. As contribuições mais recentes da Literatura Comparada, no seu modo de ver os objetos de estudo como ponto de intersecção e intervalar com outras áreas de estudos ganham foro orientador da prática de análise e reflexão. Neste caso, as relações entre história e literatura tornam-se foco de particular interesse. O método comparativista, que se elabora por meio de espaços limiares, cotejando fronteiras de textos escritos e/ou culturais, finda estabelecendo uma proposta a partir dos questionamentos sobre as fontes e/ou objetos de estudo.

RESULTADOS:

Ambígua é a discussão sobre a existência de uma fronteira entre a Literatura e outras práticas discursivas, como a da História, por exemplo. Trata-se mais especificamente de estudos feitos entre literatos e historiadores que buscam determinar as semelhanças e diferenças entre a narrativa ficcional e a narrativa factual, precisamente o que aproxima ou separa ambas as narrativas. Os rótulos história e literatura não são inteiramente da mesma natureza, embora comparando-os descrevem a relação dos textos entre si. A história leva em consideração os textos escritos em um determinado "tempo", já a literatura vale-se do discurso/texto para evidenciar seu "valor", ou seja, a pluralidade constitutiva que pode ser várias vezes evocada na diacronia e na sincronia do tempo. Tais noções são, portanto, de alguma forma "metaliterários. Ao trabalhar os sentidos entre verdade e ficção, nota-se uma profunda relação histórica e cultural com o campo literário, essa sendo importantíssima para as estruturas narrativas na criação e descrição da realidade histórica.Segundo a análise dos textos, é possível observar que a poética de Raquel Naveira realiza um projeto que atende as configurações e noções de "regiões culturais" específicas, pois seus textos tematizam as marcas, episódios, elementos e fatos históricos que, ora se circunscrevem no território de Mato Grosso do Sul – Guerra do Paraguai, ora no reduto Irani – cenário da Guerra do Contestado.

CONCLUSÕES:

A análise aqui apresentada, com o objetivo principal de discutir as inter-relações entre literatura e história em obras representativas do conjunto da literatura sul-mato-grossense, permite-nos assinalar algumas conclusões sobre os fundamentos desta pesquisa. Se não definitivas, uma vez que a matéria literária, especialmente o corpus trabalhado, abre-se para variadas possibilidades de enfoques, essas conclusões indicam uma adequada e mais apropriada compreensão acerca das questões que nos propomos abordar no corpo deste trabalho. Retomando as proposições iniciais deste texto, reconhece-se a profunda vinculação que a obra da escritora Raquel Naveira mantém com o locus de enunciação e com o contexto sociocultural que serviu de base para o seu surgimento. À guisa de conclusão, constata-se o caráter dialógico que a obra da escritora estabelece com o solo da região cultural que a originou, o que pode ser também comprovado pela bibliografia da e sobre a escritora, bem como pela de suporte teórico-crítico aqui referenciada. Nesse sentido, a verificação da bibliografia em referência, neste trabalho, parece justificar sua produção, na medida em que não só o cotejamento das obras da escritora Raquel Naveira, como a utilização das obras de suporte teórico, demonstraram adequação e respostas para os objetivos formulados desde o início do desenvolvimento de nossas reflexões.

Instituição de fomento: CNPq/ UFMS
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: Literatura Regional; Estudos Culturais; Raquel Naveira.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006