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G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 5. Psicologia da Saúde

ACOLHIMENTO DE NOVOS PARTICIPANTES EM GRUPOS DE APOIO PARA PESSOAS PORTADORAS DO HIV: O INÍCIO DO PROCESSO DE MUDANÇA

 

Viviane Silva Pires  1
Emerson Fernando Rasera  1
(1. Instituto de Psicologia da Universidade Federal de Uberlândia/IP-UFU)
INTRODUÇÃO:

A aids ainda constitui um sério desafio a ser enfrentado pelas autoridades públicas e pela comunidade científica brasileira. Apesar de uma relativa estabilização no número de infectados, novas tecnologias de assistência em saúde precisam ser desenvolvidas para o melhor atendimento desta população, na busca de maior qualidade de vida. As terapias grupais têm representado uma modalidade de atendimento psicológico muito utilizada na assistência ao portador do HIV. Os grupos de apoio aberto, desenvolvidos em contextos tradicionais de saúde, ambulatórios especializados e hospitais, parecem apontar uma opção significativa que sintetiza diversas possibilidades de cuidado psicossocial. Contudo, as pesquisas no campo das práticas grupais não acompanharam o crescimento de sua utilização no contexto de saúde. Buscando contribuir com a produção de novos desenvolvimentos teóricos que sustentem tais práticas, o presente trabalho teve como objetivo a compreensão do processo de acolhimento de novos participantes em grupos de apoio aberto para pessoas portadoras do HIV.

METODOLOGIA:

 Os dados analisados nesta pesquisa fazem parte do banco de dados do projeto: “A construção social da mudança em grupos de apoio para pessoas portadoras do HIV”. Foram utilizados dados relativos ao estudo de um grupo de apoio aberto para pessoas portadoras do HIV, no qual foram atendidas 22 pessoas em 31 sessões, ao longo de um ano. Após a seleção daquelas sessões que tiveram a inserção de um ou mais participante(s) novo(s) no grupo, analisamos em profundidade 07 delas. A análise dos dados, baseada em uma perspectiva construcionista social, foi marcada pelas seguintes etapas: 1) Leitura exaustiva da transcrição das sessões escolhidas; 2) Análise seqüencial de todo material transcrito, com resumo e colorização da sessão, objetivando a visualização das seqüências das falas dos participantes e da interação entre eles; 3) Construção do eixo temático e processual, no qual o primeiro diz respeito aos assuntos produzidos nas conversas grupais e o segundo demarca a ação que uma conversa promove entre os participantes; 4) Construção de delimitações temáticos-sequenciais, ou seja, definição de momentos da interação grupal que marcam algumas formas da construção de sentidos e negociações durante a sessão, preservando-se a totalidade dos momentos da sessão; 5) Análise das descrições de si: análise das narrativas sobre si mesmo trazidas pelos participantes.

RESULTADOS:

Por meio da análise das sessões selecionadas, pudemos compreender que: a) há um padrão interacional no processo de realização do contrato grupal, no qual o terapeuta sempre solicita aos participantes antigos que expliquem os objetivos, as regras do funcionamento grupal e a importância do sigilo; b) em geral, os participantes, após falarem das regras e do funcionamento do grupo, convidam o novo participante a revelar sua forma de infecção, a reação da família e do parceiro(a) e as dificuldades no processo de enfrentamento ao descobrir-se portador do HIV; c) os aspectos que facilitaram o acolhimento decorreram do partilhar histórias de vida semelhantes, da abertura para conversarem sobre a doença e sobre como o grupo pode beneficiar seus membros, e do estímulo recebido por antigos participantes que convidaram para participar do grupo; d) as dificuldades de acolhimento ao novo participante pareceram ser devidas ao fato de membros antigos já terem tido contato anterior com o novo participante fora do grupo e, nesta situação, não terem tido um bom convívio e relacionamento, bem como, em situações nas quais o novo participante possuía um estilo de vida marginalizado socialmente; e) muitos novos participantes relataram sair da sessão motivados e fortalecidos para vencer as dificuldades, explicando que no grupo há trocas de experiência e apoio mútuo que ajudam no enfrentamento da doença; f) algumas práticas que objetivavam promover o acolhimento de um participante, às vezes, tiveram o efeito contrário ao pretendido pelos antigos participantes.

CONCLUSÕES:

Considerando os resultados anteriores, é possível identificar aspectos facilitadores, bem como dificultadores, do processo de acolhimento de novos participantes em grupos de apoio aberto para pessoas portadoras do HIV. Contudo, a análise de diferentes momentos das sessões permitiu compreender o acolhimento como um processo de construção social. Trata-se de um processo conversacional que implica a negociação das expectativas dos participantes novos e antigos, bem como do terapeuta e seus objetivos, de forma que seja possível a inclusão de novos assuntos, preocupações e vocabulários que são trazidos pelo novo participantes, bem como as necessidades e contribuições anteriores dos membros antigos. Esta compreensão do processo de acolhimento redimensiona a definição de tais aspectos facilitadores-dificultadores e aponta para a necessidade do terapeuta se colocar de forma aberta e interessada pelas particularidades dos participantes presentes na sessão, em um jogo permanente de construção do grupo e da nova vida de seus participantes.

 

 

Instituição de fomento: PIAIC/UFU
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave:  Psicoterapia de grupo ; Aids ; Processo grupal.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006