O transplante de medula óssea (TMO) é um procedimento que vem sendo utilizado para o tratamento de diversos tipos de neoplasias e doenças hematológicas malignas (aplasias medulares), constituídos por diversas fases potencialmente estressoras para o paciente, assim como para os familiares. O tratamento pode ser subdividido em três momentos: pré-TMO (período de avaliação), TMO (momento da internação) e pós-TMO (saída da enfermaria até a alta ambulatorial). O objetivo do presente estudo é verificar a qualidade de vida e os aspectos de ajustamento psicossocial de pacientes submetidos ao TMO há mais de três anos.

A amostra foi composta por dez pacientes de ambos os sexos, com idades entre 27 e 52 anos, que foram submetidos ao TMO no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, com o tempo de transplante variando de 4 a 9 anos. Os instrumentos aplicados para a coleta de dados consistiram em uma entrevista semi-estruturada, a Escala de Avaliação Funcional da Terapia de Câncer – Transplante de Medula Óssea (FACT-BMT), o Inventário de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp (ISSL), o Questionário Genérico de Avaliação de Qualidade de Vida - Medical Outcomes Study 36 Item Short-Form Health Survey (SF-36), a Escala de Ansiedade e Depressão Hospitalar - Hospital Anxiety and Depression Scale (HAD), complementados por uma consulta aos prontuários médicos. Os instrumentos foram aplicados individualmente, em situação face-a-face, no Ambulatório do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto. As entrevistas foram audiogravadas e posteriormente transcritas na íntegra e literalmente. Os instrumentos aplicados foram analisados de acordo com as recomendações específicas de cada técnica e a entrevista foi analisada qualitativamente, mediante análise de conteúdo categorial.

Os resultados obtidos revelaram que, de um modo geral, os pacientes não apresentaram sintomas de estresse, ansiedade ou depressão indicativos de desajustamento psicossocial. Em relação à qualidade de vida, os aspectos mensurados pelos instrumentos mostraram-se, de um modo geral, preservados. A partir dos relatos das entrevistas, observou-se ainda que o TMO foi responsável por uma mudança na forma desses pacientes encararem a vida, passando a valorizá-la mais.

Assim, conclui-se que decorridos alguns anos do TMO, a qualidade de vida dos pacientes mantém-se preservada e não se observam quadros instalados de psicomorbidades, havendo uma restruturação da vida cotidiana e ressignificação de valores.