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G. Ciências Humanas - 4. Geografia - 3. Geografia

A DIMENSÃO TERRITORIAL NA EDUCAÇÃO AMBIENTAL REVELANDO CONCEPÇÕES DE NATUREZA

Wagner Nistardo Lima 1
(1. Departamento de Geografia – PUC/SP)
INTRODUÇÃO:

O estímulo à dúvida que permeou a trajetória deste trabalho partiu da constatação de que determinados lugares apresentam características que os tornam essenciais à prática da educação ambiental (EA). Os lugares em questão são os parques municipais de São Paulo, habitualmente tidos como áreas verdes, "naturais", que são sedes dos Centros de Educação Ambiental (CEAs). Assim, indagamos: qual é a concepção de natureza implícita no ambiental da EA?; o lugar onde são realizadas atividades de EA pode revelar o significado desta concepção?; a dimensão territorial da EA condiciona determinadas concepções de natureza ou, pelo contrário, determinadas concepções de natureza condicionam a dimensão territorial da EA?; ou ambos os processos ocorrem simultaneamente?

Qualquer pessoa fala em natureza, sendo este um termo familiar e usado de forma generalizada. Porém, é um conceito de difícil definição e que pode referir-se aos mais diversos significados a ele empregado, resultado de uma complexidade nem sempre evidente. Evidenciar a complexidade do conceito de natureza relacionando-o à EA por meio de uma leitura geográfica foi o objetivo dessa pesquisa.

A importância deste trabalho revelou-se na possibilidade de trazer à tona as concepções de natureza, de meio ambiente e de EA (e suas eventuais contradições) implícitas no discurso e na prática da EA, e de como essas concepções encontram correspondência com o lugar e a organização territorial da EA.

METODOLOGIA:

Analisamos a concepção de natureza na EA a partir de sua realização em dois lugares considerados distintos. De um lado o Parque do Carmo (sede do CEA-Carmo) e de outro a bacia hidrográfica do rio Aricanduva (área abrangida pelo projeto "Rios Cidadãos"). A diferenciação foi considerada a partir da paisagem, da qual selecionamos como elemento distintivo entre os dois lugares analisados a existência, em maior ou menor quantidade, de áreas verdes. Deste modo, o Parque do Carmo é apresentado como lugar onde a existência significativa de árvores faz com que a paisagem nos leve a considerá-lo como uma área verde. Já no caso da bacia hidrográfica do rio Aricanduva – ainda que nela possam ser observadas áreas que podem ser caracterizadas como verdes – selecionamos aquelas áreas nas quais podemos observar uma paisagem escassa de árvores, "pobre" de áreas verdes. Através dessa abordagem foram aplicados questionários e coletados documentos referentes à EA promovida pelos CEAs, a partir dos quais foram elaboradas análises que buscavam revelar as semelhanças e/ou diferenças nas concepções de EA, de meio ambiente e de natureza considerando-se, a partir da paisagem, a distinção entre os dois lugares – o Parque do Carmo e o projeto "Rios Cidadãos". Ao mesmo tempo, pesquisa bibliográfica sobre EA, conceitos de natureza e categorias de análise da geografia forneceram o embasamento teórico necessário às reflexões, análises e elaboração dos textos.

RESULTADOS:

Realizada em lugares tais como parques, a EA contribui na formação/manutenção de uma idéia de meio ambiente reduzida e associada a árvores/áreas verdes/praças/parques, elementos tidos habitualmente como naturais. Por outro lado, a EA, quando realizada em lugares onde não se observam paisagens predominantemente verdes e "naturais", contribui na superação daquela visão que associa meio ambiente a árvores e a uma idéia restrita de natureza.

Identificamos, na educação ambiental realizada em parques, uma concepção de natureza que expressa a dicotomia sociedade-natureza, cuja expressão territorial revela-se na seleção de parques para sedes dos CEAs e de muitos dos cursos/atividades de EA. Ao mesmo tempo em que uma concepção de natureza, marcada pela separação sociedade-natureza, influencia a escolha de parques para abrigar os CEAs e os lugares apropriados à EA, esses mesmos lugares reforçam a noção de natureza em oposição à sociedade.

Sobre a relação sociedade-natureza analisada a partir da EA promovida no projeto "Rios Cidadãos", verificamos que a noção de natureza não comporta o ser humano, ou apenas o inclui como o "vilão", o destruidor da natureza , e, sendo assim, a concepção da relação entre sociedade e natureza segue a mesma tendência observada na EA realizada em parques, qual seja, a da separação, da dicotomia sociedade-natureza.

CONCLUSÕES:

A paisagem é uma construção social que revela na forma, a partir dela e ultrapassando-a, o conteúdo e a função que lhe é subjacente, concedendo materialidade às práticas sociais. Se as representações simbólicas de natureza e de meio ambiente, através da paisagem, materializam-se, esse processo ocorre necessariamente em algum lugar. E, ao considerar que a paisagem é forma dotada de conteúdo, permeada por ações e contextualizada por um sistema de valores, ou seja, carregada de significação e intencionalidade, a materialização da paisagem num dado lugar também ocorre de acordo com determinadas significações e intencionalidades. Explorando a relação entre o simbólico e o material afirmamos que a dimensão territorial da EA é a expressão geográfica do imaginário coletivo que define as concepções de natureza e de meio ambiente remetendo-as a uma dada materialidade. Esta, carregada de sentido e com sua forma expressa pela paisagem, organiza a educação ambiental em territórios segundo uma lógica que dá materialidade à idéia de natureza e de meio ambiente. E, nesse sentido, o simbólico e o material se (re)definem reciprocamente, num processo de retroalimentação, cuja dimensão territorial e o lugar da educação ambiental podem condicionar as concepções de natureza e de meio ambiente, ou por estas concepções serem condicionadas(os).

Instituição de fomento: Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica – PIBIC/PUCSP.
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: educação ambiental; natureza; território.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006