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D. Ciências da Saúde - 1. Enfermagem - 5. Enfermagem Pediátrica

O BRINCAR EM SALA DE ESPERA DE UM AMBULATÓRIO INFANTIL: ESTRATÉGIA DE INTERVENÇÃO DA ENFERMAGEM PEDIÁTRICA

Iara Cristina da Silva Pedro  1
Lucila Castanheira Nascimento  2
(1. Aluna do 8º semestre de Graduação/ Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto–USP; 2. Orientador, Professor Doutor/ Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto–USP)
INTRODUÇÃO:

As crianças geralmente sofrem com grandes mudanças de ambiente e a chegada no hospital é, sem dúvida, um momento gerador de estresse e medo. Quer seja por motivo de hospitalização ou atendimento ambulatorial, esta atividade demanda da criança o estabelecimento de novas relações com o outro e consigo próprio, requerendo constantes adaptações. No espaço hospitalar, a criança vivencia concomitantemente as rotinas do serviço de saúde e o seu processo espontâneo de desenvolvimento e, desta forma, esforços precisam ser feitos para que esta experiência não seja traumática ou passível de causar interrupções neste processo. Assim, recursos criativos, como brinquedos, devem ser utilizados tanto para minimizar os efeitos da hospitalização e de outros atendimentos ambulatoriais, quanto para auxiliar a criança a superar adversidades. Pautadas nestes pressupostos, organizamos e implementamos um projeto de intervenção de enfermagem, que utiliza as atividades recreacionais como tecnologia de cuidado com as crianças em sala de espera ambulatorial de um hospital universitário. O objetivo deste estudo foi compreender a experiência da utilização do brincar/brinquedo para a criança e seu acompanhante, após participação das atividades neste projeto. Particularmente enfocamos o brincar no espaço ambulatorial, pois a maioria das investigações publicadas na literatura refere-se ao uso desse recurso em situações de hospitalização da criança.

METODOLOGIA:
Trata-se de um estudo descritivo-exploratório. Participaram da pesquisa 12 crianças, que aguardavam atendimento pediátrico ambulatorial no HCFMRP-USP e os responsáveis que as acompanhavam, sendo que tinham idade maior ou igual a sete anos e já haviam participado do projeto de extensão “O brincar/brinquedo em sala de espera de um ambulatório infantil”, estruturado e implementado por alunos de graduação, desde maio de 2003 neste mesmo local. Na coleta de dados, utilizamos a observação participante durante as brincadeiras, e num próximo encontro, no retorno da criança, realizaram-se entrevistas semi-estruturadas, guiadas por questões norteadoras, tais como “O que você gostaria de me contar sobre o tempo em que você e seu filho ficam aguardando o atendimento no ambulatório do hospital?” e “Você percebe alguma diferença no comportamento do seu filho quando ele brinca no ambulatório antes de vocês serem atendidos?” para os responsáveis e, para as crianças, “O que você gostaria de me dizer sobre o tempo em que passamos juntos no ambulatório antes de você ser atendido(a)?”. Na análise, organizamos sistematicamente os dados e após exaustivas leituras separamos as falas dos sujeitos em grupos, de acordo com as semelhanças encontradas. Após, fizemos a categorização dos dados, separando-os em três temas: tempo de espera: não tem jeito, tem que esperar; aproveitando melhor o tempo de espera e tornando o hospital um espaço agradável; e o brinquedo como mediador das relações.
RESULTADOS:

Os resultados referentes à 1a categoria evidenciaram que o tempo de espera para o atendimento ambulatorial desencadeou situações de difícil manejo para os sujeitos da pesquisa. Na criança, a espera causava ansiedade, impaciência, choro, cansaço, entre outros; desmotivação para retornar ao ambulatório; e desejo de deixar o ambiente. Nos acompanhantes, insatisfação frente ao longo período de espera; necessidade de vigilância constante das crianças; permanência desprazerosa no local; dificuldade de se ausentarem do lugar, inclusive para satisfação de necessidades básicas. Porém, demonstraram que o ambulatório também pode se tornar um espaço agradável, resultado enfocado na 2a categoria. As crianças relataram ter a sensação de que horas passaram como segundos, quando havia as atividades recreacionais, mas caso não ocorressem, a espera representava uma eternidade. Os acompanhantes referiram se sentirem descansados e mais seguros, pois percebiam que seus filhos estavam sendo “cuidados”. Quando não tinham atividades, utilizaram seus próprios meios para driblar a espera: televisão, conversas, crochê, revistas, livros, palavras-cruzadas, brinquedos próprios e walkmans. Na 3a categoria, os acompanhantes perceberam que quando as crianças participam das brincadeiras apresentam-se com disposição diferenciada para iniciar a consulta. Ambos revelaram preferências pelo atendimento prestado por profissionais de saúde que tentam estabelecer relações que vão além do ato do atendimento em si.

CONCLUSÕES:
Na compreensão da experiência de participação no projeto, nas perspectivas da criança e de seu acompanhante, o tempo de espera mostrou-se como importante fator capaz de interferir na qualidade do cuidado oferecido e de contribuir para a desumanização da assistência. Com a intenção de modificar este cenário, o projeto de intervenção de enfermagem que utiliza o brincar como tecnologia de cuidado para as crianças em sala de espera ambulatorial surge como uma tentativa de contribuir para o resgate e fortalecimento do processo de humanização. O brincar pode ser utilizado para auxiliar a criança a ampliar sua capacidade de se relacionar com a realidade exterior, estabelecendo uma ponte entre seu próprio mundo e o do hospital, além de trazer benefícios diretos e indiretos aos acompanhantes e aos profissionais de saúde. Neste sentido, concluímos que esta estratégia mostrou-se válida, pois além de atender às necessidades da criança em situação de atendimento ambulatorial, colaborou na superação das dificuldades que este espaço ofereceu, permitiu uma efetiva comunicação com os profissionais de saúde e transformou o espaço hospitalar em um ambiente prazeroso, contribuindo, assim, para a melhoria da qualidade do cuidado prestado a ela e à sua família.
Instituição de fomento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq.
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: jogos e brinquedos; ambulatório hospitalar; enfermagem pediátrica.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006