IMPRIMIR VOLTAR
C. Ciências Biológicas - 14. Zoologia - 2. Comportamento Animal

DISCRIMINAÇÃO DE OPERÁRIAS DE Atta sexdens rubropilosa (HYMENOPTERA: FORMICIDAE) POR FÊMEAS DE Neodohrniphora spp. (DIPTERA: PHORIDAE)

Carlos André Nogueira 1
Marcos Antonio Lima Bragança 1
(1. Laboratório de Entomologia, Curso de Ciências Biológicas / UFT)
INTRODUÇÃO:
A saúva Atta sexdens rubropilosa constitui uma séria praga em sistemas agrícolas e florestais. Esta formiga possui diversos inimigos naturais, entre eles as moscas parasitóides da família Phoridae. Estes parasitóides apresentam um índice de parasitismo relativamente baixo, cerca de 2%, mas sua presença nas trilhas de forrageamento interfere na habilidade desta formiga em coletar recursos alimentares. A saúva Atta sexdens rubropilosa é atacada por várias espécies de forídeos, entre elas Neodohrniphora spp., que ovipositam na parte posterior da cabeça ou abdôme das operárias maiores em suas trilhas de forrageamento. Estudos de campo e de laboratório com muitos Himenópteros parasitóides e alguns dípteros da família Tachinidae mostraram que certas espécies distinguem entre hospedeiros parasitados e não-parasitados usando diferentes sinais. Em relação aos forídeos, Feener & Brown (1993) registraram um superparasitismo de 19% de Neodohrniphora curvinervis em Atta cephalotes e sugeriram que estes dípteros não possuem recursos para discriminar entre hospedeiros parasitados e não-parasitados. Neste estudo foi investigado a recorrência de ataques de fêmeas de Neodohrniphora spp. em operárias de A. sexdens rubropilosa.
METODOLOGIA:
Em um 1º. bioensaio foi avaliada a recorrência de ataques de uma fêmea a operárias já atacadas pela mesma fêmea. A fêmea e 30 operárias foram liberadas em uma cuba de observação. Por 20 min, cada formiga atacada pelo forídeo era retirada da cuba e marcada no gáster. Nos 20 min seguintes, a mosca foi mantida na cuba com 15 das formigas marcadas e 15 não marcadas. Esse procedimento foi repetido 11 vezes, com diferentes moscas e operárias. No 2º. bioensaio foi avaliada a recorrência de ataques a formigas atacadas anteriormente por outras fêmeas do mesmo gênero. O forídeo permaneceu na cuba até atacar 15 formigas, que eram retiradas da cuba e marcadas com tinta. Estas eram recolocadas na cuba, por 20 min, com um segundo forídeo e outras 15 formigas não atacadas para registrar-se o número de ataques. Foram 18 repetições deste bioensaio. Um teste controle foi feito para eliminar possíveis efeitos da tinta e da exaustão do forídeo. Trinta formigas foram colocadas na cuba, 15 marcadas e 15 sem marca, com um forídeo. Por 20 min, as formigas atacadas eram retiradas da cuba. Nos 20 min seguintes, o procedimento era repetido com o mesmo forídeo. Foram feitas 12 repetições. Em um 3º. bioensaio, uma fêmea foi liberada na cuba com 20 operárias que tinham sido atacadas cinco dias antes por outro forídeo do mesmo gênero. Por 20 min, as formigas atacadas eram retiradas da cuba e mantidas em câmara climatizada até a morte. Foram liberadas um total de 14 moscas e 280 formigas.
RESULTADOS:
No primeiro bioensaio a média dos ataques de Neodohrniphora spp. nos 20 min iniciais (19,3 ± 3; média ± desvio padrão) foi maior (t = 6,5; P < 0,0001; n = 11) do que nos 20 min finais (8 ± 3,3). Os forídeos atacaram significativamente (t = 4,41; P = 0,0003; n = 11) mais formigas não-marcadas (6,2 ± 2,7) do que marcadas (1,8 ± 1,4). A tinta não teve influência sobre o número de ataques dos forídeos, pois o teste controle mostrou que Neodohrniphora spp. atacou formigas marcadas (8,9 ± 3,5) e não marcadas (8,3 ± 3,3) indistintamente (t = 0,59; P = 0,56; n = 24). E ainda, os forídeos atacaram menos formigas (F = 6,87; P = 0,012; n = 48) nos 20 min finais (7,4 ± 3,6) do que nos 20 min iniciais (9,7 ± 2,8). Não houve efeito de interação entre os fatores marca de tinta e tempo do forídeo na cuba (F = 0,13; P = 0,72; n = 48). No segundo bioensaio, o número de ataques dos forídeos contra formigas previamente atacadas por outro forídeo (2,6 ± 2) foi menor (t = 4,83; P < 0,0001; n = 18) do que o número de ataques contra as formigas não-atacadas anteriormente (6,9 ± 2,9). No último bioensaio, 190 operárias foram atacadas, das quais surgiram 137 pupas do parasitóide (uma por hospedeiro) 10,8 ± 1,1 dias (n=137) após o primeiro ataque. Este período corresponde justamente ao período larval desta espécie. Portanto, a pupa formada é resultante do primeiro ataque e os ataques contra formigas atacadas cinco dias antes não resultaram em parasitismo.
CONCLUSÕES:
Fêmeas de Neodohrniphora spp. discriminaram as formigas previamente atacadas por elas próprias ou por outros indivíduos da mesma espécie. Isto ficou claro pelo menor número de ataques em operárias já atacadas do que em operárias que não tinham sofrido ataques. Este comportamento de distinção é semelhante ao exibido por alguns Himenópteros e Tachinídeos parasitóides. No entanto, estes parasitóides não são capazes de discriminar operárias de A. sexdens rubropilosa parasitadas cinco dias antes por outro indivíduo, ou, se discriminam, não evitam o ataque.
Instituição de fomento: Universidade Federal do Tocantins
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: Parasitismo; recorrência de ataque ; parasitóide.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006