Este estudo é parte integrante do projeto de pesquisa “Cidades do entorno da Reserva Particular do Patrimônio Natural–SESC Pantanal: caracterização sócio-econômica e dinâmica dos impactos ambientais” e tem por objetivo analisar o processo histórico de urbanização da cidade de Barão de Melgaço-MT, no sentido de compreender os fatores relevantes para a caracterização sócio-econômica da cidade em estudo. São utilizadas como balizas temporais a abertura da navegação a vapor pelo rio Paraguai, em 1870, e o desmembramento do município de Barão de Melgaço do município de Santo Antônio de Leverger, em 1953.

Para a realização deste estudo foram utilizados documentos, relatos, relatórios e obras diversas da historiografia regional que fazem referência à cidade de Barão de Melgaço, seja no período Colonial, Imperial ou na Primeira República, pautando em dois aspectos: a sua ocupação e a urbanização. Foram utilizados documentos de venda e de legitimação de posse ou mesmo de demarcação das terras. Estes documentos fazem parte do acervo documental do Instituto de Terra de Mato Grosso (INTERMAT), e foram produzidos após a proclamação da República. Estes são elucidativos quanto à ocupação, às atividades econômicas, às disposições, à utilização e aos aspectos naturais do terreno ocupado. Também foram utilizados documentos de batismo dos livros de Batismos da “Parochia de Santo Antonio do Rio Abaixo”, hoje Paróquia de Santo Antonio de Leverger.

O povoamento da região onde hoje se localiza Barão de Melgaço - Pantanal Norte - está ligado ao processo de espacialização ocorrido no entorno das minas do Cuiabá, a partir da descoberta de ouro no rio Coxipó, em 1719, e no Córrego da Prainha, em 1722 (o ouro seria o principal motivo da vinda dos luso-americanos). Na segunda metade do século XIX, com o fim da Guerra do Paraguai, em 1870, tem início a navegação a vapor. O início da urbanização ocorre com a doação das terras do rocio do que seria a Freguesia do Melgaço, em 1897, por Antonio Paes de Barros à N.S. das Dores. A doação do rocio visava concentrar uma população que seria utilizada como mão-de-obra disponível para as usinas de açúcar, como braços armados dos coronéis e como eleitores sob a influência da família Paes de Barros. Em 1902, a Vila de Melgaço foi elevada à categoria de sede do Município de Santo Antônio do Rio Abaixo. Na mesma época, Antônio Paes de Barros inicia sua atividade política. Em 1906, ano do assassinato de Antônio Paes de Barros, então Presidente do Estado de Mato Grosso, a sede voltou para a Vila de Santo Antônio do Rio Abaixo. A criação do Município de Barão de Melgaço ocorreu apenas em 1953, sendo desmembrado de Santo Antônio de Leverger (antiga Santo Antônio do Rio Abaixo). No entanto, a década de 1950 vivenciaria a decadência da navegação a vapor e, por conseguinte, das usinas de açúcar; levando a ascendência da pecuária como principal atividade econômica da região pantaneira.

O processo de urbanização de Barão de Melgaço está ligado, portanto, à dinâmica econômica propiciada pela navegação a vapor a partir de 1870 (adensamento populacional, dinamização econômica, modernização dos engenhos, etc.) e às relações políticas conturbadas da Primeira República (1889-1930) – que teve no doador de seu rocio, o coronel Antônio Paes de Barros, sua maior influência política. No entanto, em 1953, a criação do Município de Barão de Melgaço, com sede na cidade de Barão de Melgaço, ocorreu no contexto do crescimento da atividade pecuária na região. Com a decadência da navegação pelo rio Cuiabá a região do Rio Cuiabá Abaixo não seria tão freqüentada como em décadas anteriores, tendo conseqüências econômicas para a região, concorrendo para a diminuição das atividades econômicas das usinas de açúcar.