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E. Ciências Agrárias - 5. Medicina Veterinária - 5. Reprodução Animal
O ETANOL ESTIMULA A LIBERAÇÃO DE PROSTAGLANDINA-F2a MAS NÃO CAUSA LUTEÓLISE EM BOVINOS
Flavia Regina Oliveira de Barros 1
Luciana Oliveira Parra Dias 1
David Augusto Fantini 1
Patrícia Helena Miguez 2
Cláudia Maria Bertan 1
Mario Binelli 1
(1. Departamento de Reprodução Animal – FMVZ/USP; 2. Departamento de Farmacologia – IB/UNESP)
INTRODUÇÃO:

O ciclo estral é o período compreendido entre dois estros consecutivos. Na espécie bovina, o ciclo estral dura em média 21 dias. Para que um novo estro ocorra, é necessária a diminuição das concentrações plasmáticas de progesterona (P4) no período que antecede o estro. Para isso, deve ocorrer a luteólise, definida como regressão estrutural e funcional do corpo lúteo (CL). A prostaglandina F2a (PGF2a) é considerada o principal agente luteolítico na espécie bovina. A PGF2a é utilizada amplamente no manejo reprodutivo de fêmeas bovinas, especialmente  em protocolos de sincronização de estros. Sabe-se que o etanol é capaz de influenciar a produção de prostaglandinas em diversas espécies animais. Contudo, informações relacionadas ao efeito do etanol na síntese da PGF2a em bovinos são escassas. Em experimentos preliminares, observou-se um nítido estímulo do etanol na produção da PGFM, o principal metabólito da PGF2a mensurável na circulação. Os objetivos do presente trabalho foram verificar se o etanol possui atividade luteolítica (experimento 1) e estudar a influência do etanol na produção de PGF2a pelo endométrio bovino in vitro (experimento 2).

METODOLOGIA:
Experimento 1: Vacas holandesas cíclicas não lactantes tiveram o ciclo estral sincronizado por protocolo Ovsynch e ovulação (dia 1 do ciclo estral – D1) verificada por ultra-sonografia. No D16 os animais foram implantados com cateter na veia jugular, ranqueados de acordo com pesos vivos e divididos em 3 grupos. No D17, foram coletadas amostras de sangue de cada animal com intervalos de 30 min por 4 h para mensuração das concentrações plasmáticas de PGFM. Na h 2 do experimento, os animais foram agrupados e receberam os seguintes tratamentos: grupo controle (0,05 mL solução salina/kg; IV; n=4), grupo etanol (0,05 mL etanol absoluto/kg; IV; n=5) e grupo PGF2a (150 µg d-cloprostenol; IM; n=4). Para verificar a ocorrência de luteólise, foram coletadas amostras de sangue diárias entre D16 e D20 para mensuração das concentrações plasmáticas de P4. As concentrações plasmáticas de PGFM e P4 foram determinadas por radioimunoensaio (RIE) e analisadas por ANOVA. Experimento 2: Quatro vacas mestiças cíclicas não lactantes foram sincronizadas e abatidas no D17. O endométrio foi dissecado em fluxo laminar e seus fragmentos (50 + 5 mg) do corno contra-lateral ao CL foram cultivados por 3 h em meio de cultura contendo 0; 0,1; 1; 10 ou 100 µL de etanol absoluto/mL de meio HAM F-10. Os explantes endometriais de cada vaca receberam todos tratamentos em triplicata. Foram coletadas amostras na h 0 e 3 do cultivo. As concentrações de PGF2a foram determinadas por RIE e analisados por ANOVA.
RESULTADOS:
Experimento 1: Antes da administração dos tratamentos, as concentrações basais de PGFM foram similares entre os grupos (p>0,1). Após a hora 2, observou-se que houve liberação aguda de PGFM em resposta ao tratamento com etanol, mas não em resposta aos demais tratamentos (interação tratamento por tempo; p<0,05). Contudo, apenas as vacas tratadas com PGF-2a apresentaram luteólise, o que pôde ser verificado pela diminuição das concentrações plasmáticas de P4 entre os dias 18 e 20 do ciclo estral (interação entre tratamento por dia do ciclo estral; p<0,05). Experimento 2: Não se observou efeito de tratamento (p>0,1) ou associação entre a concentração de etanol e produção de PGF2a pelos explantes endometriais [produção de PGF2a (pg/mL/mg de tecido)=10,21 – 0,054 x concentração de etanol (µL/mL de meio HAM) r2=0,04]. Tal ausência de resposta foi observada apesar de terem-se utilizado no experimento 2 concentrações de etanol da mesma ordem de grandeza utilizada no experimento 1.
CONCLUSÕES:
Reportou-se no presente trabalho, pela primeira vez, a produção de PGF2a em bovinos em resposta ao etanol. Embora a PGF2a seja o principal agente luteolítico na espécie bovina, a liberação aguda de PGF2a estimulada pelo etanol não ocasionou a luteólise nestes animais. Como observou-se no experimento 2 que o etanol não causou a produção de PGF2a pelo endométrio, deduz-se que a PGF2a medida em resposta ao etanol não foi de origem uterina mas de outros tecidos e, portanto, foi incapaz de causar luteólise. Conclui-se que o etanol não possui atividade luteolítica em bovinos e, portanto, não pode ser utilizado como ferramenta no controle do ciclo estral de bovinos.
Instituição de fomento: FAPESP
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: etanol; bovinos; PGF2alfa.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006