IMPRIMIR VOLTAR
G. Ciências Humanas - 3. Filosofia - 2. Filosofia
o conceito de crítica em marx
Elaine Cristina dos Santos Lima 1
Estevam Alves Moreira Neto 1
(1. Universidade Federal de Alagoas - UFAL)
INTRODUÇÃO:

Fazer a crítica das teorias de outros autores é certamente uma tarefa que acompanha a elaboração filosófica e científica ao longo da história do pensamento ocidental. É, porém, na modernidade que essa tarefa ganha um novo estatuto. Trata-se, com Kant e a partir dele, de estabelecer as possibilidades e os limites do movimento da razão no seu intento de produzir um conhecimento digno desse nome, ou seja, um conhecimento isento de caráter especulativo. Deste modo, a crítica é uma tarefa eminentemente teórica; é o movimento da razão que estabelece os limites e as regras de sua operação. Contudo, o século XIX, com o amadurecimento do ser social coloca outras possibilidades e tarefas. Surge a possibilidade de que a razão se compreenda como algo autônomo, mas como expressão subjetiva do mundo real, objetivo. Cabendo a ela, então, não a tarefa de interpretar o mundo, mas de traduzi-lo sob a forma de idéias e conceitos. Marx é o autor que expressa essa nova relação entre subjetividade e objetividade. Por isso mesmo, o sentido do seu conceito de crítica sofre um giro de um sentido epistemológico para um sentido ontológico. Não se trata, para ele, simplesmente de fazer críticas a outras teorias, mas, antes, de desvendar a lógica de entificação do mundo. Assim já não significará a busca de deficiências de outras teorias, mas a exposição do processo real que dá origem a estes produtos da atividade humana. Em resumo, criticar as teorias é criticar o mundo que deu origem a estas teorias.

METODOLOGIA:

 O exame deste conceito, se ele de fato carrega em si a dimensão que, em princípio lhe atribuímos, implica determinados pressupostos metodológicos. O primeiro dos quais é a busca de sua gênese histórico-social. Vale dizer, a busca de quais foram as condições, possibilidades e exigências existentes na realidade objetiva que lhe deram origem. Isto porque não podemos ignorar que as idéias não são apenas idéias, mas momentos da totalidade social, com funções muito precisas na reprodução do ser social. O segundo é a busca da função social que estas idéias exercem. Exatamente porque as idéias têm funções muito claras na reprodução da totalidade social. Portanto, é preciso perguntar contra quem e contra o que e em favor de quem e de que essas idéias são gestadas. Isto porque, não obstante toda a sua autonomia – que é sempre relativa – as idéias não são inocentes. Explícita ou implicitamente, direta ou indiretamente, com consciência maior ou menor por parte dos seus autores, elas estão profundamente inseridas no processo histórico-social. O terceiro pressuposto é o exame dos textos dos próprios autores, já que tudo o que for afirmado deve estar respaldado por aquilo que foi escrito por eles, buscando apreender o seu sentido mais genuíno.

 

RESULTADOS:

O que fica claro nos ensinamos contidos nos textos marxianos é a fidelidade à integridade processual do objeto em estudo. Não uma fidelidade nascida de uma pura vontade, mas de um método enraizado nas diretrizes da perspectiva da classe trabalhadora e do ato do trabalho. São esses fatores que permitem a Marx desenvolver um novo e revolucionário corpo teórico-prático que permite ao sujeito captar a processualidade do objeto em-si e indicar suas possibilidades de transformação. E tudo isso, desencadeado pela dúvida que passou a assediar nosso autor, ao entrar em contato com as questões relativas aos “interesses materiais”, isto é, de caráter histórico-social. Assim, podemos observar, que o conceito que estamos tratando não é uma forma que o sujeito possui de estabelecer desqualificações ou de um simples desdobramento de um rigoroso estudo sobre um determinado tema. Para Marx, fazer crítica, significa estabelecer o exame da lógica processual do que é histórica e socialmente constituído, ou seja, a apreensão de como as esferas histórico-sociais surgem, suas contradições, seus limites, suas tendências e suas funções na reprodução do ser social, sempre orientado pelo movimento de autoconstrução dos seres humanos. Dessa maneira, podemos constatar que, em Marx, teoria é crítica e crítica é, necessariamente, um tipo de conhecimento que articula ciência e filosofia. De que “na luta contra o estado de coisas, a crítica não é a paixão da cabeça, mas a cabeça da paixão”.

CONCLUSÕES:

Esse estudo vai contra a maré das correntes que advogam uma fratura entre sujeito e objeto que impediria a apreensão do ser-em-si. É dedicado ao resgate da via que indica a possibilidade de conhecer e mudar o mundo radicalmente. Mas, ao contrário de outras propostas, esta reconhece que o mundo possui uma racionalidade objetiva e que a razão, ao desenvolver um sistema categorial adequado, pode reconstruí-lo idealmente em sua totalidade. Assim, fazer crítica é um princípio fundamental para o entendimento, tomada de posição e indicação de como é possível a superação da crise existente, que leva o mundo para um caminho cada vez mais irracional. Marx configura uma formulação teórico-prática superior aos seus antecessores, contemporâneos e aos “pós-modernos”. Os primeiros, em geral, tiveram seus fundamentos, instrumentos e temáticas historicamente exauridas pelo tempo; os segundos, por terem caído na malha alienante-fetichista do capital e da lógica especulativa; enquanto que os últimos, pela sua irracionalidade em resgatar e mascarar pressupostos ontologicamente impressos pelas suas debilitades teórico-práticas. Mas que por reproduzirem os interesses da lógica da exploração, ocupam o front dominante da atividade intelectual. Conclui-se que uma perspectiva que nos fornece os instrumentos para o desenvolvimento de uma crítica que capte a historicidade concreta das relações sociais, é a mais adequada para a discussão e efetivação de um mundo para além do capital.

Instituição de fomento: Universidade Federal de Alagoas
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: Crítica; Marxismo; Ontologia.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006