Esse trabalho é um estudo da relação existente entre uma instituição de ensino superior, a Universidade de Fortaleza, e seu entorno, constituído por uma comunidade de baixa renda, também chamada favela do Dendê. O trabalho insere-se no tema da responsabilidade social e da necessidade de uma maior integração entre universidade e comunidade. É também um estudo da viabilidade de um programa de gestão e educação ambientais com a participação de uma equipe acadêmica interdisciplinar e de agentes comunitários, na busca de se melhorar as condições de sustentabilidade da comunidade do Dendê. Pesquisas sucessivas indicam que práticas de educação ambiental, conjugadas com a participação de integrantes da comunidade geram um forte comprometimento pessoal para a realização de trabalhos sociais. Dentro desta perspectiva, o projeto desenvolveu uma metodologia de intensa interação com representantes da comunidade, a fim de estabelecer as principais prioridades por eles estabelecidas para o meio ambiente. O resultado foi a constituição de várias frentes de trabalho que estão sendo desenvolvidas com grande sucesso no Dendê, desde saúde, programas de educação, de resgate cultural e de apoio ao empreendedorismo. Assim, foram realizadas várias frentes de trabalho. É um exemplo vivo de transformação de conteúdos e propostas em sentido pedagógico. Pelas análises realizadas, o projeto tem contribuído para o resgate da cidadania e auto-estima da comunidade.

 

O primeiro passo da pesquisa foi  avaliar a carência de conscientização ambiental na comunidade. Para tanto procurou entrevistar lideranças comunitárias, bem como fazer um levantamento de toda a área para o conhecimento pormenorizado do ambiente. Vários encontros onde a comunidade do Dendê propôs ações efetivas, expondo situações do seu cotidiano, identificando graves problemas existentes a fim de se iniciar o trabalho de conscientização na comunidade. O segundo passo examinou exemplos de programas integrados de gestão ambiental realizados por outras universidades em áreas similares. O resultado foi a constituição de um programa constituído de frentes de trabalho organizado em comum acordo com as lideranças comunitárias. Estas frentes foram:

1ª Frente de Trabalho: Criação de uma cultura de conservação em áreas reflorestadas, através de esclarecimento da população local da importância da cobertura vegetal;

2ª Frente de Trabalho: Atividades de atuação direta na comunidade através da realização de teatros infantis e mobilização das escolas locais em atividades práticas de monitoramento ambiental, sensibilizando estudantes e moradores, para a necessidade de preservação das condições ambientais em que vivem;

3ª Frente de Trabalho: Atividades de estímulo a coleta seletiva de lixo e sua reciclagem.

4ª frente de trabalho: atividades para resgate das tradições culturais dos habitantes da comunidade.

Semelhante programa foi desenvolvido na Universidade Federal de Minas Gerais (Estação Ecológica), unidade em que são realizadas atividades de pesquisa, ensino e extensão da UFMG, onde se busca oferecer aos participantes do programa uma visão holística do tema ecológico, integrando dois projetos daquela Universidade: o Projeto Caminhadas Ecológicas (PCE) e o Projeto Vida. Tal projeto, ainda que conhecido e famoso, não tem a mesma dimensão que as atuações isoladas da Unifor em seu relacionamento com o Dendê.

 Foi proposto pelos membros reunidos, a criação de uma cartilha mostrando a realidade da comunidade e no decorrer fossem apresentados resultados de dados coletados  quanto às ações da Universidade e das diversas Associações da Comunidade. Há a necessidade que estas ações ejam melhor conhecidas. Há um entusiasmo latente nos membros da comunidade para tomarem nas próprias mãos o encaminhamento das soluções para os problemas encontrados no Dendê, conforme se depreendeu das reuniões e dos debates ocorridos. Esta é uma constatação importante, já que em linha com tantos educadores atuais que tem tratado do assunto, como Paulo Freire, Genebaldo Dias e outros que advogam o resgate da cidadania. Não há dúvida de que um programa de educação ambiental, bem orientado é um caminho eficaz para o resgate da cidadania.

 

O estudo iniciado para se verificar a possibilidade de desenvolver um programam de EA e gestão ambiental na comunidade do Dendê, mostra uma idéia acertada e um programa urgente para a Universidade. Com efeito, na época em que a Administração Científica está voltada para os programas de gestão ambiental com ênfase em responsabilidade social, as intenções contínuas da Unifor na comunidade deverão seguir uma lógica global já amplamente estudada em gestão ambiental.

A proposta de se implantar o trabalho de extensão nessa comunidade contribuirá para dar maior efetividade ao extensivo trabalho que a Universidade de Fortaleza realiza junto a essa comunidade. O trabalho de EA dará maior visibilidade aos novos parâmetros da moderna administração universitária, no tocante a responsabilidade sócio-ambiental, aumento dos valores éticos para que um melhor entrosamento universidade/comunidade se acentue. Esta comunidade estando capacitada melhora acintosamente o exercício da cidadania oferecendo maior possibilidade de enfrentar desafios e a realidade social que se encontra. Não importando o âmbito em que determinado programa de gestão ambiental esteja inserido, o importante é que nele exista a possibilidade de cumprir compromissos sociais, informar, conscientizar, convocar, questionar, denunciar, sensibilizar e construir mudanças de hábitos dos moradores, uma passagem da razão à solidariedade baseada numa nova ética sócio-ambiental.

Instituição de fomento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

Trabalho de Iniciação Científica