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F. Ciências Sociais Aplicadas - 2. Economia - 8. Economias Agrária e dos Recursos Naturais

RELAÇÕES DE GÊNERO NA PRODUÇÃO CAMPONESA DO PANTANAL NORTE DO BRASIL

Greice Caroline Guerro 1
Carlos Alberto Castro 2
(1. Bolsista PIBIC/CNPq, Departamento de Economia/FAECC/UFMT; 2. Professor do Departamento de Economia/FAECC/UFMT)
INTRODUÇÃO:
Este trabalho integra o Programa de Pesquisas Ecológicas de Longa Duração – PELD – através do projeto “Pantanal Norte: Estudos Integrados dos Processos Ecológicos e Sociais com vistas à Conservação da Biodiversidade”, focalizando a dinâmica sócio-ambiental por meio do sub-projeto “A Luta e a Labuta do Homem Pantaneiro: um diagnóstico das formas de trabalho, de uso da terra e a dinâmica econômica dos municípios do Pantanal Norte do Brasil, no período pós 1970”. A área pesquisada corresponde ao Pantanal Norte do Brasil, onde se busca caracterizar a estrutura e dinâmica socioeconômica da população residente em seus municípios e comunidades rurais, do entorno da RPPN/SESC Pantanal, compreendendo sua organização social, as formas de uso da força de trabalho e, em particular, o emprego da mão-de-obra feminina e sua conexão com o meio ambiente, na perspectiva do desenvolvimento sustentado.
METODOLOGIA:
 A metodologia utilizada consiste no levantamento, sistematização e análise dos dados secundários, concernentes à população estudada, oriundos dos Censos Demográficos e Agropecuários do IBGE, a partir de 1970 , para fins de caracterização dos componentes de condição de vida e uso da força de trabalho em nível agregado. A fim de identificar e analisar as relações de gênero no cotidiano do processo de trabalho desta sociedade tradicional, faz-se uso do estudo de caso das famílias representativas e suas respectivas unidades produtivas, das comunidades rurais que compõem o distrito de Joselândia, no município de Barão de Melgaço, tendo na pesquisa participativa o principal instrumento coleta de informações.
RESULTADOS:
A população rural pantaneira -  camponeses e ribeirinhos - em sua organização social local e cultura própria, estabelece um meio de vida peculiar, marcado pela sazonalidade das águas e estreitamente ligado à produção de subsistência. Desenvolveu formas de produção econômica integradas ao meio ambiente onde se situam, deste modo, cooperando com sua preservação.Nos últimos trinta anos, agropecuária, base econômica da região, vem apresentando gradativa perda de dinamismo. Nas comunidades que integram o distrito de Joselândia, geralmente o homem é o responsável pelo trabalho agrícola (roçado), à mulher cabe o cuidado com o espaço casa-quintal, ou seja, o zelo com a casa e o trato dos animais domésticos e pequenas criações. Se necessário, a mulher “ajuda” (não é trabalho) no campo. No entanto, existem funções que são desempenhadas exclusivamente pelo homem: a derrubada da mata e o preparo do solo antes do cultivo, o “trabalho pesado” de rocio. Os trabalhos artesanais como a tecelagem de redes, costuras, fabrico da farinha e de doces são realizados pelas mulheres, em grande parte para a despesa, ou mesmo, gerando renda adicional. Percebe-se, contudo, que os espaços de trabalho não são rigidamente separados, e a precisão -  categoria que relacionada às necessidades de maior intensificação do uso da força de trabalho familiar no processo produtivo – é a definidora da reorganização destes. Ainda que a hierarquia de gênero permaneça, notadamente na classificação dos trabalhos feminino e infantil como “ajuda”, nota-se que em determinadas etapas do ciclo produtivo, o roçado se torna um espaço híbrido, bem como os cuidados com casa em momentos críticos de doença ou em que todos os membros estão envolvidos no “luta” com a terra.
CONCLUSÕES:
A precarização das condições de trabalho do homem, originárias das dificuldades de acesso à terra de trabalho, da própria degradação do meio ambiente, a falta de infra-estrutura agrícola, bem como a desativação das tradicionais fazendas de gado – algumas convertidas em unidades de conservação e de turismo rural – onde grande contingente populacional era empregado, fez com que a renda obtida como o trabalho feminino, ao que tudo indica, se tornasse fundamental na manutenção destas famílias, como que subvencionando a produção masculina. Em algumas propriedades, o trabalho artesanal desenvolvido pelas mulheres é parte essencial da renda familiar. Destarte, denota-se que o trabalho feminino é complementar ao masculino na reprodução social destas comunidades.
Instituição de fomento: CNPq/FAPEMAT/UFMT
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: Pantanal; Relações de Gênero; Trabalho.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006