A avaliação psicopedagógica visa auxiliar profissionais que compõem as equipes educacionais das escolas possibilitando que estas conheçam melhor seus alunos. Escolhemos abordar o início da escolarização, porque crianças com um bom começo escolar têm maiores chances de se sair bem no seu futuro acadêmico, pois podem se fortalecer como pessoas desde o início. Nossas reflexões apóiam-se na obra de D. W. Winnicott: destacamos as contribuições deste autor para o debate sobre questões que envolvem o desenvolvimento da criança, pois foi um psicanalista que demonstrou a importância das experiências iniciais na constituição do psiquismo, a indissociação dos aspectos intelectuais dos emocionais, assim como a dependência do ambiente para o desenvolvimento humano. O autor reconheceu o importante papel da escola na formação humana e como um contexto privilegiado para o crescimento das crianças, na sociedade atual. Assim, concluímos que uma avaliação psicopedagógica que também considere o amadurecimento emocional da criança, sendo realizada desde o início da escolarização, pode se constituir em um importante apoio para os profissionais da educação infantil na condução de uma prática pedagógica mais eficiente. Em nosso estudo, tivemos como objetivo enriquecer as reflexões a respeito da avaliação psicopedagógica na educação infantil considerando a obra de Winnicott, a bibliografia sobre avaliação psicopedagógica já existente, relatos de professores e a nossa experiência no tema em questão. 

Este estudo se desenvolveu no segundo semestre de 2005 e no primeiro semestre de 2006. Para concretização de nossa proposta fizemos uma pesquisa bibliográfica a respeito de avaliação psicopedagógica qualitativa de crianças em idade de freqüentar a educação infantil, realizamos entrevistas junto ao corpo docente de duas escolas da cidade de Uberlândia-MG, uma pública federal e outra particular, que dispõem de uma equipe psicopedagógica que atende essa faixa etária e, ainda, fizemos observações nas referidas instituições. As entrevistas foram semi-dirigidas, realizadas individualmente com cada professor em ambiente reservado, gravadas em áudio e posteriormente transcritas. Realizamos observações semanais, transcritas ao final de cada uma, totalizando setenta horas. Elegemos conhecer a situação de sala de aula, assim como o recreio, educação física e demais aulas especializadas.

Os dados coletados foram analisados levando em consideração as contribuições da teoria winnicottiana, as demais bibliografias consultadas relativas à avaliação psicopedagógica na educação infantil, assim como a reflexão acerca das categorias organizadas a partir das observações e entrevistas. 

A bibliografia que consultamos nesse trabalho a respeito da educação infantil revelou que estudos sobre avaliação psicopedagógica são escassos, principalmente os destinados aos profissionais que atuam nas equipes de apoio ao professor. Com relação aos aspectos emocionais relacionados à escolarização, não encontramos trabalhos mais sistematizados que possam orientar especificamente o olhar psicopedagógico. No que se refere aos dados obtidos a partir das entrevistas detectamos que os maiores problemas enfrentados pelos professores dizem respeito à relação com a família nesse período de transição da instituição familiar para a escolar. A seguir aparecem aspectos referentes às suas dificuldades na relação com a criança na escola e na condução dos conflitos dos alunos entre si. Observamos que nas escolas investigadas os aspectos propriamente pedagógicos não se destacaram nas entrevistas, nem nas observações: lembramos que as referidas instituições atendem uma clientela economicamente favorecida na sua maioria e os métodos de ensino adotados, embora distintos, são fortemente estabelecidos e apoiados por suas equipes psicopedagógicas. As observações dos alunos evidenciaram que as maiores dificuldades eram as de relacionamento entre as crianças e destas com o professor resultando, em certos casos, na segregação no próprio contexto escolar.

Acreditamos que durante a realização de uma avaliação psicopedagógica é imprescindível contemplar o ensino, assim como diferentes aspectos do desenvolvimento infantil como a construção do número, da leitura e da escrita, dentre outros. Mas, como o nosso interesse neste trabalho é conhecer a respeito do desenvolvimento emocional e avaliação psicopedagógica na educação infantil, priorizamos essas questões, que muito se destacaram em nossa investigação.

Reconhecemos que o fato de o estudo ser realizado por pesquisadores de psicologia, gera reflexões relacionadas tradicionalmente a esse campo de estudo. Apesar disso, não podemos menosprezar os dados que evidenciaram as dificuldades enfrentadas pelos educadores especialmente nas questões referentes ao relacionamento com as famílias e as crianças, num período de transição do ambiente inicial, representado pelo lar, para outro mais amplo, que é a escola. Além disso, percebemos a riqueza no processo de socialização das crianças nessa época, e o prejuízo para o seu crescimento quando suas necessidades não são atendidas, resultando até no isolamento do aluno no contexto escolar. Assim sendo, reconhecemos a importância do amadurecimento emocional ser considerado no processo de escolarização e, portanto, no da avaliação psicopedagógica, desde a educação infantil.