IMPRIMIR VOLTAR
H. Artes, Letras e Lingüística - 3. Literatura - 6. Literatura
CANTIGAS DE AMIGO GALEGO PORTUGUESAS: O QUADRO LÍRICO E SUA INFLUÊNCIA NOS ESTADOS SENTIMENTAIS DO EU-LÍRICO
Josilene Moreira Silveira 1, 2, 4
Clarice Zamonaro Cortez 1, 3, 4
(1. Departamento de Letras; 2. Graduanda; 3. Orientadora; 4. UEM)
INTRODUÇÃO:

Os textos literários mais antigos em língua portuguesa são composições coligidas em Cancioneiros realizados em fins do século XIII e XIV, reunindo textos poéticos galego-portugueses. Esse gênero literário era anteriormente sustentado pela voz, atualizada pelo canto e pela recitação, num movimento que se denominou Trovadorismo, contemporâneo à formação da nacionalidade portuguesa. Nessa cultura trovadoresca encontram-se as cantigas de amigo, autóctones, que registram a existência de um lirismo muito antigo no norte da Península Ibérica, as cantigas de mulher pertencentes ao lirismo moçarábico. Portugal foi um dos poucos países que conservaram essa tradição, no entanto, esse movimento operou uma curiosa transformação, pois o trovador fingiu-se de donzela enamorada e expressou a vivência amorosa feminina, da mulher do povo e dos ambientes populares. Gênero impregnado de realismo, os textos revelam desde as alegrias do namoro às tristezas provenientes do abandono. Deste modo, nosso objetivo, ao traçar o perfil do quadro lírico nas cantigas, é investigar sua simbologia e propor uma leitura poética desse quadro lírico, tendo em vista a sua influência nos estados sentimentais do eu-lírico.

METODOLOGIA:

Em nossa metodologia procuramos realizar a contextualização histórica da Idade Média, enfatizando a medievalidade portuguesa, incluindo-se a sua cultura, filosofia, arte e literatura, informações que compõem a cultura trovadoresca. Apoiamo-nos na Estética da Recepção, no que diz respeito ao efeito do texto sobre o leitor, principalmente nas propostas de Jauss e Iser, cuja ênfase recai na dupla tarefa do leitor diante do texto: a “compreensão fruidora” e a “fruição compreensiva”. Foram pesquisadas as teses que tentam explicar a origem das cantigas, percurso traçado para o estudo do lirismo galego-português, num corpus selecionado, composto de cantigas de amigo, da coletânea de J.J. Nunes (1943). Spina (1971) propõe uma classificação dessas cantigas por cenários, na qual encontramos as modalidades: pastorelas, barcarolas, albas, romarias e bailias e que fundamentam também este estudo.

RESULTADOS:

Constatamos que nessas cantigas existe uma afinidade “mágica” entre as pessoas e tudo que parece mover-se por uma força interna como as águas dos rios e das fontes, as ondas do mar, as flores da avelaneira, os cervos do monte e a luz da alva. Nas cantigas em que aparecem esses quadros líricos, a contemplação da natureza suscita no eu-lírico a emoção amorosa, a saudade e o desejo de conquista. O mundo exterior participa das alegrias, tristezas e ansiedades da moça, refletindo seu estado de espírito: enamorada, triste, ou saudosa e feliz.

CONCLUSÕES:

Concluímos, assim, que o cenário influencia os estados amoroso da amiga, tornando-se cúmplice e tão confidente quanto a mãe e as amigas. Neste gênero lírico até mesmo o tempo é medido pelas alvas que interceptam as noites dos amantes.  Há também o pôr-do-sol que não pode encontrar as moças fora de casa, pois existem cervos (imagem bíblica do amante) nas fontes e as ondas do mar que submergem as que transgridem a lei do recolhimento noturno. As mulheres aparecem sempre fixadas em seu tempo parado, lavando seus cabelos na fonte, indo ao santuário, a perpetuar os dias repetitivos da mulher à espera do regresse e do arrependimento do homem

Instituição de fomento: PIBIC/CNPQ
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: Cantigas de amigo; Quadro lírico; Sentimentos do eu-lírico.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006