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A. Ciências Exatas e da Terra - 4. Química - 4. Química de Produtos Naturais
ISOLAMENTO DE METABÓLITOS SECUNDÁRIOS DE CASSIA E AESCHYNOMENE (LEGUMINOSAE), VISANDO A DESCOBERTA DE COMPOSTOS BIOATIVOS.
Fabíola Ribeiro Sampaio Pinto 1
Valéria Regina de Souza Moraes  1
Adauto de Souza Ribeiro  1
Glaucius Oliva  2
Otávio Henrique Thiemann  2
Paulo César de Lima Nogueira  1
(1. Universidade Federal de Sergipe/UFS; 2. Instituto de Física de São Carlos- IFSC/USP )
INTRODUÇÃO:
As plantas são uma fonte importante de produtos naturais biologicamente ativos, muitos dos quais se constituem em modelos para a síntese de um grande número de fármacos. Males como a Doença de Chagas e a Leishmaniose acometem todos os anos, milhares de pessoas, no entanto são doenças negligenciadas, ou seja, ignoradas pelas grandes indústrias farmacêuticas. Isso se explica por elas atingirem majoritariamente as populações menos favorecidas. Desta forma, faz-se necessário o estudo de vegetais que possam vir a ser utilizados no tratamento destas doenças típicas de países do terceiro mundo. Este trabalho objetiva o estudo fitoquímico do caule, folhas, raízes e ramos de uma espécie de Cassia, atualmente reclassificada como Chamaecrista cytisoides (Colladon) H. S. Irwin & Barneby var. blanchetti (Benth) H. S. Irwin & Barneby (sinonímia: Cassia cytisoides Colladon., Cassia glabra Colladon e Cassia venosa Desv.), pertencente à família Leguminosae, e a avaliação de seu potencial farmacológico: atividade tripanocida, leismanicida, antitumoral e/ou inseticida. A atividade tripanocida e leishmanicida ocorrerá com a descoberta de compostos que inibam a ação das enzimas GAPDH (gliceraldeído-3-fosfato desidrogenase) e APRT (adenina-fosforribosil-transferase), que estão diretamente relacionadas ao ciclo de vida do Trypanosoma cruzi e de espécies de Leishmania, responsáveis, respectivamente, pela Doença de Chagas e Leishmaniose.
METODOLOGIA:
Os ensaios bioquímicos frente às enzimas GAPDH e APRT são realizados no Laboratório de Cristalografia de Proteínas, IFSC-USP. A avaliação antitumoral e/ou inseticida é realizada através do bioensaio de Letalidade com Artemia salina segundo a técnica proposta por McLAUGHLIN, 1995 e desenvolvida no laboratório METABIO-UFS. Este teste baseia-se na correlação entre a toxicidade sobre o crustáceo (Artemia salina) e a citotoxicidade sobre células cancerosas do tipo P-388. O levantamento bibliográfico nos sites disponíveis em nossa instituição como WEB OF SCIENCE e PERIÓDICOS CAPES, sobre estudos fitoquímicos de espécies de Cassia, indicou relatos de isolamento de novos alcalóides piperidínicos, hidroxiquinonas e flavonóides, os quais se atribuem ação larvicidal e forte inibição ao crescimento de algumas bactérias, comprovando o potencial farmacológico da planta em análise. Foi relatado o isolamento e a determinação estrutural de cassanos, um grupo relativamente raro de diterpenos cuja ocorrência parece estar limitada a certos subgrupos do interior da família Leguminosae. O estudo fitoquímico de C. cytisoides var. blanchetii está sendo realizado através da preparação de extratos hexânicos, clorofórmicos e metanólicos das partes da planta coletada. O extrato clorofórmico da raiz foi submetido à cromatografia em coluna (CC) em sílica gel 60 e para o acompanhamento da purificação dos metabólitos por coluna utilizou-se cromatografia em camada delgada analítica (CCDA).
RESULTADOS:
Os extratos obtidos da C. cytisoides foram submetidos aos testes enzimáticos frente às enzimas GAPDH e APRT: os extratos hexânicos e clorofórmicos apresentaram atividades menores que 20% enquanto que os extratos metanólicos apresentaram atividades superiores a 60%. O extrato clorofórmico da raiz de C. cytisoides foi submetido à cromatografia em coluna de sílica gel 60 à pressão ambiente. Foram coletadas 1348 frações que, após análise por CCDA foram reunidas fornecendo 83 novas frações, das quais as que apresentaram maiores quantidades de material coletado também foram enviadas para testes enzimáticos. A fração FP6E2, proveniente da coluna cromatográfica do extrato clorofórmico das raízes (FP6), frente à enzima APRT, apresentou excelente atividade no valor de 66,8%. As amostras FP6F2 e FP6H3, também apresentaram valores moderados e mais elevados quando submetidos ao ensaio frente à enzima APRT, sendo de 32,3% e 31,7% respectivamente. Os espectros de RMN 1H do extrato clorofórmico das raízes de C. cytisoides e de algumas amostras desta coluna mostraram sinais característicos de hidrogênios de compostos aromáticos (δH na região de 8,0 a 7,0 ppm), provavelmente hidroxiquinonas, que possuem comprovadas atividades leishmanicidas e tripanocidas. Quanto ao teste de toxicidade frente à Artemia salina aplicado nos extratos dos ramos de C. cytisoides, estes se mostraram inativos, pois o extrato hexânico apresentou 9 larvas mortas e o metanólico 21, de um total de 30 larvas.
CONCLUSÕES:
As atividades pouco significativas obtidas pelos extratos hexânicos e clorofórmicos frente às enzimas (abaixo de 20%) e no Teste de Artemia salina podem, provavelmente, ter relação com o fato de que se tratam de uma mistura complexa de compostos, ocasionando interferências na atividade das substâncias existentes nestes extratos. Contudo, os extratos metanólicos apresentaram excelentes atividades frente às enzimas indicando que a planta em estudo tem potencial para inibir o ciclo de vida do T. cruzi e de espécies de Leishmania. Através da análise em placa cromatográfica resolveu-se estudar o extrato clorofórmico da raiz, pois este apresentou ter um grande número de compostos em uma menor complexidade, facilitando seu estudo. Através da reunião de algumas frações obtidas da cromatografia em coluna, observou-se a possibilidade de separação e purificação dos compostos por Cromatografia em Camada Delgada Preparativa. As amostras da coluna que se mostrarem puras, na análise por CCDA, serão enviadas para o Laboratório de RMN do DQ-UFSCar para identificação de sua estrutura e também serão avaliadas frente à Artemia salina. Considerando o levantamento bibliográfico realizado, sabe-se que espécies de Cassia apresentam várias classes de metabólitos secundários isolados com comprovadas atividades farmacológicas. Portanto, acredita-se no sucesso nas próximas etapas da pesquisa, principalmente porque somos motivados pela pouca atenção dada as doenças ditas do “Terceiro Mundo”.
Instituição de fomento: CNPq
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: Leguminosae; Chamaecrista cytisoides; atividade biológica.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006