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G. Ciências Humanas - 1. Antropologia - 5. Antropologia Urbana
LÁ E CÁ: MIGRAÇÕES RURAIS E AS (RE)SIGNIFICAÇÕES DE IDENTIDADES E ESPACIALIDADES
Daniela Fernandes da Silva 1
Sueli Pereira Castro 1
(1. Departamento de Sociologia e Ciência Política/ICHS/UFMT)
INTRODUÇÃO:

Esta pesquisa está inserida no projeto “Modos de vida: ribeirinhos e camponeses do Pantanal Norte Mato-grossense”. Objetivando compreender as estratégias de reprodução social das populações tradicionais pantaneiras, mais especificamente do distrito de Joselândia, localizado no município de Barão de Melgaço, esta pesquisa tem como foco privilegiado de investigação os grupos familiares que migraram para Cuiabá, mas cuja identidade e reprodução mantêm-se vinculadas a uma família extensa, moradora nas comunidades que compõem aquele distrito. Busca-se compreender como os critérios de pertencimento e de construção dos espaços sociais são mantidos e ao mesmo tempo (re)significados no contexto urbano, pois estes migrantes concentram-se em determinados bairros de Cuiabá. Na literatura sobre as migrações rurais, de modo geral, destacam-se duas vertentes para a explicação sobre este processo: 1) a migração rural-urbana se insere dentro do processo produtivo capitalista como resultantes da mercantilização das terras e da mecanização do trabalho no campo, suas determinações encontram-se, portanto, na estrutura; 2) estes processos migratórios devem ser analisados dentro da perspectiva da racionalização da ação de migrar, como estratégias individuais dos agentes. Buscando superar está dicotomia macro ou micro, optamos por pensar este processo dentro da ótica de Bourdieu, com a noção de habitus. Ela  nos permite compreender a trajetória do grupo familiar extenso não só em seu tempo presente, mas intercalando, através da memória do grupo, as trajetórias de seus antepassados. Assim, pode-se apreender a historicidade das estratégias que o grupo focado utiliza como condição de sua reprodução social.

METODOLOGIA:
O trabalho de natureza etnográfica, no caso, permite apreender os habitus do grupo pesquisado.  Em um primeiro momento da pesquisa, contemplou-se a revisão da literatura sobre a temática e dos dados e trabalhos já realizados sobre a localidade. Em um segundo momento por indicações da parentela de Joselândia, foram realizados os primeiros contatos com os familiares que vieram morar na Grande Cuiabá (Cuiabá-Várzea Grande), e estão concentrados em alguns bairros da Grande Cuiabá. A pesquisa agora se encontra na fase das entrevistas, buscando a “história de vida” destes agentes sociais.
RESULTADOS:
Os dados coletados nos apontam para um processo histórico de vinculação campo-cidade de forma continuada (três gerações), o que permite problematizar a idéia do isolamento destas populações tradicionais, assim, como compreender as formas de sociabilidades imbricadas no processo de migração rural-urbana, em que a família extensa tem um papel significativo. No passado o contato com a grande cidade era realizado através de montaria a cavalo, com objetivo de conduzir o gado para abastecer os açougues das regiões ao entorno do rio Cuiabá, incluindo a própria capital Cuiabá, Várzea Grande e a região do Porto. São nestes locais em que se encontram concentradas os que migraram de Joselândia para a grande cidade. Mas, além do contato por motivos econômicos, a pesquisa aponta que a saúde e a educação foram também motivos para se buscar apoio na cidade. Este apoio é estabelecido pelos laços de parentesco e de vizinhança. Cabe sempre aos parentes e conhecidos da cidade receber e ajudar os “da terra”. Muitas vezes, a inserção desta população rural na cidade, se coloca desde a infância, tanto para meninas como meninos. Mas a vinda para Cuiabá naquela idade, não implicou em morar-se definitivamente na cidade. Todos voltaram. É em outro momento da vida que a migração se efetivou.  Mas, esta migração não implicou a ruptura com as “origens”. Os homens que migraram ainda mantêm vínculos estreitos com a terra: plantio da roça, criação de gado e atualmente o arrendamento de pastos, pois a terra de herança permanece sob o uso e domínio da família extensa, possibilitando inclusive o retorno à comunidade aos que se aposentam através do trabalho exercido na Grande Cuiabá.
CONCLUSÕES:
Assim, verificamos que a manutenção do domínio sob a terra ancestral e a busca por outros recursos de trabalho são condições que não se excluem, são complementares, pois uma se torna condição para a existência da outra. O cultivo da roça, a criação de gado e o arrendamento do pasto são estratégias de se manterem na cidade ou manter os filhos. O trabalho assalariado na cidade ou o pequeno comércio são também condições estratégicas para não perderem a terra por falta de recursos para mantê-la. As mulheres solteiras com seus trabalhos, geralmente como domésticas, ao enviarem seus salários para “ajudar” a família, também viabilizam a continuidade da manutenção da “terrinha” pela família extensa. São elas, as mulheres, entre o grupo estudado, as que têm conseguido maiores anos de escolaridade e se constituem como mediadoras, ou melhor dizendo, como tradutoras dos códigos destes dois universos, que mais que excludentes são complementares para o modo de vida das populações tradicionais.
Instituição de fomento: CNPq / PELD
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: Migrações; identidade; Pantanal.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006