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G. Ciências Humanas - 1. Antropologia - 4. Antropologia Rural
TRATO COM A TERRA E LIDA COM O GADO: SABERES E FAZERES DOS CAMPONESES PANTANEIROS.

José Antônio Moreira 1
Sueli Pereira Castro 1
(1. Departamento Sociologia e Ciência Política / ICHS / UFMT)
INTRODUÇÃO:
O presente estudo integra o projeto “Modos de vida: ribeirinhos e camponeses do Pantanal Norte Mato-grossense” CNPQ/PELD/UFMT, vem sendo desenvolvido no Núcleo de Estudos Rurais e Urbanos (NERU), e visa identificar bem como caracterizar a unidade produtiva, camponesa e ribeirinha, no horizonte das estratégias produtivas da população tradicional do Pantanal mato-grossense, mais especificamente a comunidade de São Pedro, distrito de Joselândia, município de Barão de Melgaço, estado de Mato Grosso. A condição social do grupo estudado é marcada pela sazonalidade das estações climáticas, pois estas influenciam decisivamente o ritmo de suas vidas, fazendo com que as práticas produtivas sejam realizadas de acordo com uma característica peculiar da região: a alternância de períodos de cheia e seca. De modo que, somente a partir da dinâmica dos contextos temporais e espaciais é possível pensar as categorias sociais utilizadas por este grupo como referenciadoras de seus sistemas de ação. Para elaboração desta pesquisa tomamos como referência estudos antropológicos (Woortmann, E. & Woortmann, K., 1997; Woortmann E., 1983; Almeida, 2005) concernentes à perspectiva teórica que discute a questão da dissolução e reprodução do campesinato, privilegiando o saber autônomo que o camponês possui, pois a partir desta perspectiva o saber representa a dimensão fundamental para a reprodução tanto da prática produtiva como do sistema social.
METODOLOGIA:
Este trabalho é de natureza etnográfica, pois se propõe a realizar uma pesquisa preocupada com uma descrição mais atenta da realidade local, privilegiando as categorias sociais de que se valem o grupo social estudado. Dentre as atividades desenvolvidas foram realizadas: revisão bibliográfica referente à temática campesinato e estudos sócio-ambientais, além do trabalho de campo que possibilitou a observação das atividades produtivas e do saber sobre o ambiente e seu manejo, que viabilizam a reprodução deste grupo social, objeto de nossa pesquisa, foram utilizados como técnica de pesquisa, entrevistas gravadas e caderno de campo para anotações. Na revisão de literatura a categoria campesinato constituiu-se um eixo norteador para entendermos a população de São Pedro, na medida em que sua reprodução social, na esfera da produção de bens econômicos possui as seguintes  características: economia de subsistência, visto que, a produção reserva-se primordialmente ao sustento da própria família; prática da policultura e criação de animais (em pequena escala), pois o camponês é em primeiro lugar um consumidor de seus próprios produtos; trabalho familiar, já que a família forma uma unidade social de trabalho e exploração da propriedade; e simbólicos em que a forma de organização social é dada pelos laços de parentesco e vizinhança. Assim, as atividades foram desenvolvidas sempre em concomitância, na medida em que o conhecimento se consolida na forma dialógica entre teoria e prática.
RESULTADOS:
Sobre o processo de ocupação, os povos indígenas são reconhecidamente os primeiros habitantes da região. A re-ocupação da área estudada, executada por luso-brasileiros, ocorreu a partir das margens do Rio Cuiabá. Este povoamento se desenvolveu a partir da doação de cartas de sesmarias na segunda metade do século XVIII, posteriormente as terras sofreram e continuam sofrendo um processo de divisão através de herança, o que é evidenciado pela forte relação de parentesco existente na comunidade. Esse processo segundo Iadanza (1993) acabou por possibilitar a existência da comunidade, a utilização comunal da terra e os vínculos de parentesco e vizinhança que se estabeleceram. A ocupação da terra deu-se em consonância com o ambiente físico encontrado, por conseguinte as atividades produtivas locais foram estabelecidas de acordo com o tempo e o espaço proporcionado pelo ambiente, ou seja, de acordo com a alternância de períodos de cheia e seca, intervaladas pela vazante e enchente. O espaço está correlacionado com a sua temporalidade, além disso, as terras manejadas para os diversos cultivos e criações não são contíguas, mas fazem parte de um conjunto articulado. O trabalho de campo aponta para a necessidade de compreensão das unidades produtivas e o manejo dos recursos naturais em um sistema mais complexo que a forma parcelar de ocupação da terra. Estas formas diferenciadas da unidade produtiva camponesa são apontadas, também, em outros estudos como o de Woortmann (1983).
CONCLUSÕES:
Nesta dinâmica de inundações periódicas alteram-se as condições do ambiente e, por conseguinte, forjaram-se estratégias especificas para reprodução material da vida camponesa. O camponês, como já levantado por Almeida (2005), estabelece suas estratégias na escolha de variedades a serem adotadas, conservadas ou abandonadas, levando em consideração sua matriz cultural, a realidade social do grupo familiar, as imposições do mundo envolvente, pois a expansão do capitalismo impõe pressões externas ao campesinato, sendo que este não é passivo a estas novas situações e, finalmente, a condição ambiental da propriedade. As pesquisas antropológicas com esta perspectiva compartilham o seguinte preceito: os projetos de modernização têm de estar em sintonia com os princípios das populações camponesas.
Instituição de fomento: CNPq/PELD
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: Populações Tradicionais; Estudo Sócio-ambiental; Pantanal Norte Mato-grossense.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006