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H. Artes, Letras e Lingüística - 1. Artes - 8. Teatro e Ópera
DRAMATURGIA E TEATRO: MITO, HISTÓRIA E RECRIAÇÃO
Larissa Miranda Júlio 1
Luiz Humberto Martins Arantes 1
(1. Departamento de Música e Artes Cênicas/ DEMAC-UFU)
INTRODUÇÃO:

A presente pesquisa, fomentada por um ano pela FAPEMIG, iniciou-se com o estudo de três obras dramatúgicas de momentos históricos diferentes. A primeira, que se passa na Grécia Antiga, é Antígone, de Sófocles. As outras duas são do ciclo Marta, a Árvore e o Relógio, de Jorge Andrade e se passam, uma ao fim do séc. XVIII, As Confrarias e outra em meados de 1842, Pedreira das Almas.

A análise comparativa destes três textos foi feita com foco em suas personagens femininas, percebendo de quais maneiras suas atitudes se aproximavam ou se distanciavam, através de um arquétipo feminino comum a elas.

Desta forma, Jorge Andrade reconstitui em Marta, Mariana e Urbana (personagens daqueles textos), atos que foram antes praticados por Antígone; assim como Sófocles construiu esta ultima, mesmo que inconscientemente, por conhecer o mito da Mãe-Terra que concede e retoma a vida, da terra que é o útero para onde toda a existência deve retornar.

Assim, como uma marca ou imagem, essas personagens puderam ser retiradas dos textos originais e transpassadas para um novo e único texto, na linguagem do teatro de bonecos. Nele, a representação arquetípica de Marta, Antígone e Mariana, é reforçada ao poder ser moldada concretamente, esculpida em forma de bonecos manipuláveis para teatro.
METODOLOGIA:

O presente projeto foi dividindo simbolicamente em três partes: uma teórica, uma que pertence a um limiar da teoria/prática e uma de caráter prático. A parte inicial efetivou-se com um primeiro estudo bibliográfico, revisado com ajuda do orientador e o posterior fichamento com análise crítica voltada aos interesses da pesquisa dos textos mais importantes encontrados.

O próximo passo, então, foi a criação textual de um roteiro dramatúrgico acompanhado de leituras e apreciação sobre mitologia, história e teatro de bonecos, sobrepondo estes temas no momento da criação e ainda se descrevendo o processo desta escrita.

Na terceira parte, foi iniciado o processo de construção do boneco dentro de suas necessidades físicas que seriam utilizadas futuramente em sua manipulação: neste momento deu-se início a uma oficina de construção da marionete, com duração de um semestre e apenas uma aluna. Para tanto, foi aproveitado um espaço na faculdade onde puderam ser utilizados, sem prejudicar o local, materiais de marcenaria. Durante todo esse processo da oficina, foram feitos planos e relatórios de aulas e cobrado um relatório da aluna para um enriquecimento do trabalho. Neste momento, como nos demais, a figura do orientador ajudou a esclarecer os caminhos a serem tomados a partir das dificuldades encontradas.
RESULTADOS:

O percorrer deste processo trouxe diversas possibilidades de descobertas, culminando em investigações novas e repentinas. Conquistou-se com um aprofundamento do estudo teórico, da busca pela leitura crítica e do aprendizado em relacionar estas leituras entre si, obtendo uma capacidade de apropriação de textos para a criação de outros como uma forma de escrita própria; incluindo a criação de três monólogos e uma peça de teatro de bonecos.

Conseguiu-se também uma satisfatória capacidade de transcorrer da teoria para a prática, voltando sempre àquela primeira para dar bases à criação de uma Oficina de Teatro de Bonecos.

A última conquista obtida pela pesquisadora foi a construção de um dos bonecos que atuaria no texto escrito por ela.

CONCLUSÕES:

Com a análise dos dramas de Sófocles e Jorge Andrade, foi possível notar como seus temas recorrem no tempo e como a reconstrução de um texto é um processo de valoração do assunto do roteiro original e de sua apropriação. A assimilação da idéia da feminilidade arquetípica foi moldada e investigada e o entendimento de mito foi elaborado como “aquilo que fica de uma história”, como um acontecimento excessivo capaz de ser acolhido pela mente. Ao atualizar o mito, foram compostos três monólogos. Uma vez prontos, a necessidade da visualização das personagens trouxe uma percepção maior de suas características, e, através do teatro de formas animadas, facilitou a imaginação a conseguir fazer com que tais personagens dialogassem entre si. Foi então construída a peça intitulada Paz de Madeira, onde se explora a união dos símbolos, dos arquétipos femininos buscados até então.

A construção concreta de uma dessas personagens foi a oportunidade de articular uma comunicação entre teoria e prática numa Oficina de Construção de Bonecos. Esta personagem final, Marta, foi a ponte com o problema inicial da pesquisa, qual seja: a percepção do arquétipo feminino. Nela ele se tornou concreto, uma escultura capaz de ter vida, uma ligação do espiritual do ator com a matéria física, corpórea, unindo mito e história, feminilidade e atualidade, estudo e técnica prática, teoria e empirismo, a dramaturgia e sua concretude.
Instituição de fomento: FAPEMIG
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: Jorge Andrade; Mitologia; Teatro de Bonecos.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006