O presente projeto estudou convergências entre as concepções de Corporeidade e Gênero, tomando-as como referencial teórico tendo em vista a área da Educação Física, Esporte e Lazer. A desnaturalização das desigualdades de gênero foi elemento significativo das descobertas. O objetivo desta pesquisa foi contribuir para a discussão de paradigmas que permitissem enfrentar alguns dos atuais questionamentos acerca das relações sociais de poder que estruturam o cotidiano de vida e de produção do conhecimento. O projeto constituiu-se prioritariamente em pesquisa bibliográfica, leituras e análise crítica das relações de poder e suas conseqüências para a produção de conhecimento e alteração de práticas cristalizadas na área da Educação Física. Constatou-se que Gênero e Corporeidade tem sido discutido em diversas áreas, no entanto na Educação Física a produção é relativamente pequena. No caso específico dessa pesquisa o prisma de análise foi o de perguntar pelas relações estabelecidas entre homens e mulheres na área da Educação Física, do Esporte e do Lazer, considerando que as diferenças de sexo muitas vezes são convertidas socialmente em processos de desigualdades subordinando ou excluindo mulheres e homens de suas práticas. O processo de educação organiza-se como uma construção social e corporal dos sujeitos, o que implica valores, conhecimentos, posturas consideradas "apropriadas" a cada sexo, desconsiderando a realidade plural das masculinidades e feminilidades vividas atualmente.

A metodologia utilizada foi a de pesquisa bibliográfica, composta pelos seguintes passos: levantamento bibliográfico do material produzido nos últimos 15 anos sobre Gênero e Educação, Gênero e Educação Física, Corporeidade e Motricidade Humana, seleção de textos para a leitura e fichamento de alguns artigos ou capítulos considerados relevantes. O levantamento bibliográfico inicial correspondeu aos temas-chave: Gênero, Corporeidade, Lazer-Gênero, Esporte-Gênero, Educação-Gênero. Além do acervo da UNIMEP foram pesquisados o de outras universidades como UNICAMP, UNIJUÌ, USP e UNESP. Na metodologia prevista de pesquisa bibliográfica foram usadas as técnicas de análise textual de interpretativa com a finalidade de iniciar a produção de artigos que veiculassem alguns dos resultados do processo. Foram realizadas discussões coletivas para melhor aprofundamento das categorias teóricas.

O levantamento bibliográfico previsto no projeto foi bastante extenso, após registro do acervo, procedemos a leitura para compreender esse novo conceito e posteriormente estabelecer suas relações com a área da Educação Física. Há dúvidas que todavia persistem mas, outros aspectos tornam-se mais evidentes. O importante, é que muitas práticas na área da Educação Física, Esporte e Lazer passaram a ser percebidas de modo mais crítico. Tornou-se claro que a diferença de gênero não é simplesmente o fato biológico de ser homem e ser mulher. Gênero significa uma construção social, um modo de agir e estar no mundo que condiciona as atitudes e a produção de conhecimento científico. As descobertas incentivaram ao aprofundando da temática, tornando-se alvo do trabalho de conclusão de curso. Entre os resultados para a área da Educação Física estão os de: contribuir para desvelar a desigualdade de oportunidades entre os sexos; acabar com as dominações simbólicas e hierárquicas entre homens e mulheres; reconhecer que a sensibilidade e a racionalidade são elementos importantes na prática da Educação Física; resgatar a auto-estima das mulheres para a atividade física e participação em esportes redimensionado a participação dos homens; possibilitar aos alunos de ambos os sexos entenderem as diferenças sem torná-las parâmetro para a subordinação de um em relação ao outro; identificar processos de discriminação e re-discutir as práticas da Educação Física, Lazer e Esportes.

A maior dificuldade encontrada foi desnaturalizar o que antes parecia natural, principalmente no Esporte e Lazer. Ao questionar a realidade iniciaram-se as dúvidas sobre as próprias relações e sobre mitos acerca do corpo. Percebeu-se que cada gesto, cada postura tem marcas de subordinação e dominação de uns sobre outros. Muitas vezes essas construções rotulam e definem a corporeidade tendo um padrão muito rígido para o feminino e o masculino. Arrebentar a cadeia de condicionamentos que se vai transmitindo de geração a geração não é tarefa fácil, no entanto, existem movimentos históricos em que tais operações podem acontecer e por meio da pesquisa pudemos demonstrar que certas diferenças não estão apenas no aspecto biológico, mas social, científico e político. Os estudos de Gênero permitem revisões profundas em certas questões controversas na área de conhecimento da Educação Física, do Esporte e do Lazer, criando condições favoráveis à re-construção das percepções acerca das masculinidades e feminilidades favorecendo processos de superação das desigualdades entre os sexos. Desse modo, os estudos de Corporeidade e Gênero demonstram que certas realidades que aparentam ser naturais, não passam de construções histórico-culturais cristalizadas, que respondem a algum interesse e precisam ser tratadas como construções sociais passíveis de mudanças. A pesquisa foi muito importante para identificar a falta desse debate em minha formação acadêmica e descobrir meus próprios preconceitos.