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F. Ciências Sociais Aplicadas - 2. Economia - 1. Crescimento, Flutuações e Planejamento Econômico
IDENTIFICANDO O COMPORTAMENTO RACIONAL NO PROCESSO DE FORMAÇÃO DAS EXPECTATIVAS DIANTE DA CONJUNTURA ECONÔMICA: UM ESTUDO PRELIMINAR COM DOIS GRUPOS DE RESIDENTES DO ABC, NO PERÍODO DE 1998 A 2004

  

Lucélio de Souza Lima  1
Fabrícia Helena de Souza  2
Luana Ferreira de Moraes 3
Marlene Cardia Laviola  4
Francisco Rózsa Funcia 5
(1. Graduando/Ciências Econômicas/Universidade Municipal de São Caetano do Sul– IMES; 2. Graduanda/Ciências Econômicas/Universidade Municipal de São Caetano do Sul– IMES; 3. Graduanda/Ciências Econômicas/Universidade Municipal de São Caetano do Sul– IMES; 4. Professora Mestre/Ciências Econômicas/Universidade Municipal de S.C.S - IMES ; 5. Professor Mestre/Ciências Econômicas/Universidade Municipal de S.C.S - IMES)
INTRODUÇÃO:

O estudo insere-se como produto de “iniciação científica” do curso de economia  que visa de modo descritivo e exploratório, estudar o processo de formação das expectativas sobre as condições de vida no Brasil e a situação econômica das famílias de residentes do ABC, a partir do relato de entrevistados da Pesquisa Sócio-Econômica do ABC (INPES-IMES), entre março de 1998 a março de 2004.

            Objetiva-se especificamente testar a hipótese simplificadora de comportamento racional no processo de formação das expectativas, em dois grupos de entrevistados, que se distinguem por manifestações, diametralmente opostas – totalmente pessimista ou totalmente otimista – diante de um mesmo cenário da conjuntura econômica.

Assume-se como referência a Teoria das Expectativas Racionais, a qual admite que o comportamento racional na formação das expectativas ocorre quando os agentes econômicos, a partir de uma aposta probabilística, baseada no uso eficaz da informação “não olham apenas o cenário passado, mas também o presente e incorporam uma visão de futuro” em seus julgamentos sobre a economia. Diante desse modelo teórico, a ocorrência de comportamento racional pode ser aceita mesmo quando são formadas expectativas distintas, diante de um mesmo cenário econômico, desde que os agentes econômicos, submetidos a uma mesma oferta de informações, apresentem diferenças significativas nas condições de “acesso à informação” e de “eficiência no uso da informação”.

METODOLOGIA:

A construção dos grupos para análise foi realizada a partir da coleta das percepções e expectativas econômicas dos entrevistados na Pesquisa Sócio-Econômica do ABC, realizada pelo Instituto de Pesquisa da Universidade Municipal de São Caetano do Sul – IMES. As categorias originais foram recodificadas, passando a constituir uma “variável criada”, na medida em que era fundamental capturar os posicionamentos de forma mais concentrada em torno dos extremos “pessimistas” e “otimistas”.

Na composição da amostra dos “pessimistas” foram considerados os entrevistados que responderam coincidentemente “vai piorar” para todas as quatro questões formuladas, envolvendo tanto as condições de vida no país como da família. Para o grupo dos “otimistas”, adotou-se idêntico procedimento, reunindo os que declararam “vai melhorar”. Com isso, tentou-se atenuar a possibilidade de interferência de outras variáveis, adotando uma relação estável entre as manifestações sobre o País e a família.

A identificação do comportamento racional no processo de formação das expectativas foi feita a partir dos indícios de “acesso à informação” (tomando por base a declaração dos entrevistados sobre seus hábitos de leitura e sua preferência pela programação informativa na TV), de “eficiência no uso das informações” e de “condicionamento pela memória recente” (derivados de dois cenários estilizados construídos a partir das informações das atas do Comitê de Política Monetária do Banco Central do Brasil).

RESULTADOS:

1) Os grupos “otimistas” e “pessimistas”, entre si, são heterogêneos em termos de “acesso à informação”, de tal forma que, entre os otimistas é maior a proporção com acesso freqüente ou esporádico à informação. Note-se, porém que essa circunstância nem sempre se verifica para a maioria do grupo.

2) Os grupos “otimistas” e “pessimistas”, entre si, não apresentam clara heterogeneidade, em termos de “uso eficiente das informações”, considerando o pequeno diferencial entre os grupos no tocante à aderência ao cenário corrente, bem como a baixa representatividade do contingente “otimista”.

3) Há indícios de condicionamento pela memória recente, dada a predominância de aderência dos julgamentos dos entrevistados ao cenário recente.

4) O experimento revelou a existência de distinção no perfil caracterizador dos dois grupos analisados, considerando-se a consistência de certas tendências que pareceram predominar no exame comparativo das observações.

5) Os grupos, aparentemente, tendem a distinguir-se por: características pessoais (idade, sexo, posição na família); pela presença de ocupação com carteira assinada; pela renda familiar; pela presença de desempregados na família; pela satisfação com a qualidade de vida oferecida pelos municípios em que residem e, principalmente, pela avaliação negativa dos governos.

CONCLUSÕES:

 

Este estudo que tinha como o objeto contribuir de forma exploratória, para a discussão do processo de formação das expectativas de residentes do ABC, sobre as condições de vida no Brasil e a situação econômica de suas famílias, alcançou seu objetivo, com relação à verificação da hipótese simplificadora do comportamento racional entre os agentes econômicos entrevistados ouvidos no período de março de 1998 a março de 2004. A aceitação da presença de comportamento racional subordinava-se exclusivamente à comprovação da existência de indícios de que os grupos “otimistas” e pessimistas”, frente a um mesmo cenário da conjuntura econômica do País, pudessem ser considerados heterogêneos em termos de condições “de acesso” e “de uso eficiente das informações”, desde que houvessem evidências, ainda que preliminares, de que os julgamentos dos entrevistados sobre o futuro estavam condicionados pela memória recente. 

A associação dos elementos caracterizadores dos grupos com o processo de formação das expectativas merece ser mais investigada, em especial, no tocante ao eventual papel exercido pela avaliação do governo federal na formação dos julgamentos da condição de vida no País e das condições econômicas das famílias residentes no ABC.

É oportuno alertar que os resultados obtidos limitam-se aos casos analisados e não podem ser inferidos para o conjunto dos residentes do ABC, dado o tamanho pouco significativo das amostras investigadas.

 

Instituição de fomento: Universidade Municipal de São Caetano do Sul – IMES
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: Expectativas racionais; Perfil das famílias do ABC Paulista; Condições de vida no país.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006