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G. Ciências Humanas - 5. História - 1. História da Cultura

IDENTIDADE CULTURAL/REGIONAL E NEO-COMUNITARISMO: O CASO DE SANTA CRUZ DO SUL

Priscila Maria Weber  1
Mozart Linhares da Silva 1
(1. Universidade de Santa Cruz do Sul / UNISC)
INTRODUÇÃO:

Os movimentos migratórios descentralizam o sujeito moderno que está fortemente vinculado à tradição nacional e as suas fronteiras identitárias demarcadas pelo essencialismo romântico do século XIX, conceito fundamental para a construção das identidades nacionais. O objeto de pesquisa do projeto, focaliza esta relação entre descentração identitária  do Estado-nação e o fenômeno do neo-comunitarismo.

Identidade cultural regional e neo-comunitarismo estão amplamente relacionados com globalização e localismo, características do mundo contemporâneo e diaspórico.

Baseando-se na concepção de identidade enquanto narrativa, que articulamos diversos níveis simbólicos de “comunidade/nação/etnia imaginada”, considerando tal definição, afim de explorar a dimensão fluida de identidade e os discursos a respeito de vários estudiosos, para somente então contornar com êxito os essencialismos.

A investigação teórica do objeto, pretende como estudo de caso, analisar a Região do Vale do Rio Pardo, principalmente em Santa Cruz do Sul, cidade de imigração alemã com forte presença de narrativas de pertencimento étnico/cultural. Este cenário permite problematizar as estratégias de produção étnica/cultural que caracteriza o comunitarismo na região. Sendo assim, os recursos pedagógicos da identidade cultural como imprensa e datas festivas da comunidade são enfocadas a partir da análise do discurso, o que possibilita analisar os enunciados da identidade comunitária e os processos de alteridade.

METODOLOGIA:

Entende-se por esta metodologia não a interpretação da linguagem, da estrutura gramatical ou das palavras, em que pese estes elementos interessarem ao analista do discurso, mas, sobretudo, a possibilidade da análise da palavra ou palavras em movimento. Conforme Eni P. Orlandi, a palavra discurso, etimologicamente, “tem em si a idéia de curso, de percurso, de correr por, de movimento” (2003, p. 15). Assim é que através da análise do discurso se está interessado na observação “do homem falando” (Orlandi, 2003, p15). 

O discurso é entendido em sua dimensão histórica, pois está relacionado com a dinâmica de sua repercussão e comunicabilidade o que coloca o sujeito histórico em sua ordem. Este sujeito não é pensado como autor do discurso, mas como função-autor (Foucault, 2001) contextualizado historicamente e lingüisticamente, portanto. A partir do entendimento da identidade como uma construção inacabada e sobretudo relacional, imbricada, portanto, com a diferença em contextos históricos específicos, entende-se que a análise de discurso enquanto método, possibilita o entendimento das dinâmicas de construção das chamadas narrativas identitárias. Estas qualificam a “comunidade imaginada” e municiam sua capacidade de homogeneizar a “identidade cultural” frente à alteridade. A identidade, entendida como um conjunto de elementos simbólicos articulados por um discurso de pertencimento ganha densidade justamente em sua possibilidade narrativa.

RESULTADOS:

A pesquisa até o momento tem apontado para um discurso identitário que pode ser caracterizado como essencialistas, ou seja, a identidade étnica/cultural da região trabalha com referenciais naturalizados e fixos, baseados em narrativas épicas do imigrante e do pertencimento étnico. Isso implica no tratamento da alteridade como deslocamento da identidade cultural, o que fica evidenciado nos processos de invisibilidade do chamado “Outro”, no caso específico, dos afros-descendentes e Lusos-brasileiros.

O discurso germânico na região faz eco às narrativas do romantismo do século XIX, período de unificação da Alemanha cujos postulados de pensadores como Herder, chamavam a atenção para a idéia de “gênio nacional de cada povo” posicionando-se contra o universalismo iluminista que consideravam empobrecedor. Isso baseou o discurso que seria empregado na Alemanha com o intuito de ressaltar o orgulho étnico e cultural. Repetições de signos, mitificações da história enquanto lastro político e memorial, manipulações da imprensa e rígida educação escolar, foram estratégicos no processo de formação do sentimento de pertencimento nacional.

No caso de regiões colonizadas por alemães, como Santa Cruz do Sul, as análises apontam para tradução do discurso romântico, evidente na exaltação de valores como limpeza, ética do trabalho, associativismo, educação superior e empreendedorismo.

CONCLUSÕES:

Três categorias foram fundamentais para o desenvolvimento desta pesquisa: identidade cultural, globalização e neo-comunitarismo, estas articuladas, permitem o entendimento das estratégias que as narrativas identitárias assumem na criação da “comunidade imaginada” de Santa Cruz do Sul. As narrativas de fundo étnico e racial são pecebidas de forma revigorada a partir dos anos 1970, quando do enfraquecimento do resguardo das questões raciais em função do genocídio étnico no contexto da guerra. A (re)etnização do discurso identitário está relacionado ainda a globalização e seus fantasmas homogeneizadores o que propiciou a criação de comunidades defensivas, que percebem suas identidades ameaçadas frente aos processos homogeneizadores bem como do enfraquecimento do Estado-nação. Nesse sentido, os “Outros” são percebidos como sujeitos que rasuram a Identidade, sujeitos agregados mas não pertencentes.

Nas entrevistas com os docentes bem como nos questionários aplicados ficou evidente a legitimação de narrativas identitárias homogeneizadoras e excludentes, sobretudo no caso dos afros-descendentes, considerados forasteiros e inferiores na comunidade regional

 

Instituição de fomento: Fundação de Amparo à Pesquisa do Rio Grande do Sul
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: Identidade Cultural; Comunitarismo; Essencialismo.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006