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G. Ciências Humanas - 2. Arqueologia - 2. Arqueologia Pré-Histórica

CONFECÇÃO DA COLEÇÃO OSTEOLÓGICA DE REFERÊNCIA (MASTOFAUNA E ICTIOFAUNA) PARA APLICAÇÃO EM ESTUDOS ZOOARQUEOLÓGICOS EM MATO GROSSO DO SUL

Silvia Hoshi Kawamoto 1
Mírian Liza Alves Forancelli Pacheco 2
Gilson Rodolfo Martins 1
(1. UFMS; 2. USP)
INTRODUÇÃO:
Durante escavações arqueológicas realizadas nos sítios arqueológicos de Mato Grosso do Sul são resgatados vestígios orgânicos. Relevantes na definição das atividades econômicas/ culturais que o homem desenvolveu nos sítios, a arqueofauna proporciona a reconstrução de um quadro mais completo dos costumes e do ambiente pretéritos. Contudo, para identificação do material faunístico obtido, torna-se necessária a constituição de uma coleção osteológica de referência composta de esqueletos da fauna atual utilizados para comparação com a arqueofauna. As análises anatômicas e taxonômicas proporcionam o desenvolvimento de temas importantes em Arqueologia, como, por exemplo, o estabelecimento dos tipos de animais utilizados na dieta alimentar das populações pré-históricas, a determinação e o estudo da tecnologia empregada na caça e mesmo, a delimitação das áreas de captação de recursos. O estudo do material faunístico permite, ainda, analisar as condições ecológicas que prevaleceram na região durante a época de ocupação das populações pré-históricas e/ou pré-coloniais que aí se estabeleceram. Isto posto, o presente trabalho teve por objetivo ampliar a coleção osteológica de referência já existente no Laboratório de Pesquisas Arqueológicas, através da aquisição de novas espécies de mamíferos e peixes.
METODOLOGIA:
Os esqueletos utilizados em estudos zooarqueológicos devem estar desarticulados e livres de tecidos. Portanto, a metodologia do presente trabalho foi adaptada para a utilização de mamíferos atropelados. Coletas quinzenais ao longo da rodovia BR – 262 de Campo Grande à Corumbá, MS e espécimes cedidos pelo Centro de Reabilitação de Animais Silvestres (CRAS) permitiram o aumento das amostras. Peixes também foram coletados com o auxílio de peneiras e redes, além da compra e da obtenção de material através de parcerias com outras pesquisas em andamento. O material coletado foi identificado, fotografado, mensurado e conservado em caixas térmicas com gelo para o transporte. No laboratório, os animais foram descongelados e submetidos à retirada das vísceras e dos músculos. Para a retirada total de tecidos e articulações, os animais foram fervidos em um recipiente contendo peróxido de hidrogênio 5-15%. O tempo de fervura dependeu do porte do animal ou da parte anatômica fervida. Em seguida, a limpeza foi complementada com uma lavagem em água corrente e o material deixado em local seco. O acondicionamento fez-se através da identificação numérica da posição anatômica. Cada osso do esqueleto desarticulado recebeu o número de tombo do exemplar, com tinta permanente (Nankim). Depois de numerados, os ossos foram acondicionados em caixas de plástico.
RESULTADOS:
Visando à expansão do material disponível para estudos comparativos, alguns exemplares da ictiofauna sul-matogrossense foram incluídos na coleção osteológica de referência do Laboratório de Pesquisas Arqueológicas da UFMS. Representantes da mastofauna, como o veado-mateiro (Mazama americana) e a cutia (Dasyprocta agouti), também estão presentes na coleção que agora soma 15 novas espécies de mamíferos às 24 já existentes e 6 espécies de peixes, além de espécies de aves (n=22), répteis (n=6) e uma coleção conquiliológica desenvolvidas em um trabalho paralelo. Este material fornecerá subsídios à pesquisa para identificação do material faunístico proveniente dos sítios arqueológicos da região, além de auxiliar pesquisas futuras.
CONCLUSÕES:
Devido à técnica de maceração química desenvolvida no Laboratório de Pesquisas Arqueológicas da UFMS (fervura de carcaças em peróxido de hidrogênio 15%), o número de esqueletos desarticulados (n= 72), superou as expectativas previstas na medida em que reduziu o tempo de preparo por maceração manual. A nova metodologia de maceração e os exemplares da coleção possibilitarão, futuramente, a elaboração de um manual direcionado à confecção de esqueletos desarticulados. Os novos componentes faunísticos complementaram o acervo zooarqueológico do Laboratório de Pesquisas Arqueológicas e servirão de subsídios para outros estudos de anatomia comparada (além do que foi e continuará sendo realizado com o sítio Maracaju-1) com vestígios arqueofaunisticos provenientes de sítios arqueológicos de Mato Grosso do Sul. A anatomia comparada demonstra-se insuficiente como metodologia para estudo de contextos zooculturais pretéritos e tafonômicos. O alto grau de fragmentação dos vestígios faunísticos resgatados do sítio arqueológico Maracaju-1 (bem como de outros sítios) remete à relevância de trabalhos experimentais aplicados à osteologia (cozimento, queima, ação da água etc).
Instituição de fomento: CNPq/PIBIC
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: Coleção Osteológica de Referência; Zooarqueologia de Mato Grosso do Sul; Vestígios Faunísticos.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006