Esta pesquisa teve como objetivo, em um primeiro momento, analisar a situação pela qual passava a Alemanha no período entre o final do século XIX e os anos 30 do século XX, quando o Nazismo chega ao poder em um contexto de práticas nacionalistas de caráter racistas e militaristas. Num segundo momento, é proposto analisar a concepção que o Nazismo fazia da arte e como se deu sua utilização política. Deste modo, apresentamos o cinema com especial atenção, tendo como foco de análise do filme O Triunfo da Vontade.

Buscamos assim compreender de que modo se articulavam as relações entre o cinema e a política nazista, propondo um detalhamento analítico do filme em questão, buscando estabelecer quais as implicações estéticas do regime Nazista na sua produção cinematográfica, especialmente em relação ao filme de Leni Riefenstahl.

Esta pesquisa torna-se relevante no sentido em que busca aprofundar a utilização do cinema como objeto de pesquisa na ciência das Relações Internacionais, apontando assim novos caminhos que nos ajudem na compreensão da realidade internacional com a qual nos deparamos, possibilitando que a “realidade” de hoje possa também ser observada, interpretada e reinterpretada através do referencial cinematográfico.

O método utilizado para o desenvolvimento da pesquisa constituiu-se na articulação da bibliografia com a revisão crítica desta, articulada ainda à análise crítica do filme O Triunfo da Vontade, particularizando a estrutura do filme, como posicionamento de câmera, montagem de imagens e de som, bem como a análise crítica de documentários a respeito do tema.

Levamos em conta principalmente as concepções de Carl Schimitt sobre a dicotomia amigo-inimigo, confrontando-a com análise fílmica pormenorizada da obra O Triunfo da Vontade.

Os resultados desta pesquisa indicam a importância da compreensão do contexto europeu que cobre o período do final do século XIX aos anos 30 do século XX, constituindo discussão fundamental para o entendimento mais detalhado do momento de incorporação da propaganda, e do cinema, em particular, como meio de divulgação do “ideal” nazista.

Deste modo, o cinema age apenas como parte integrante de um aparelho Estatal que se pretende totalitário, e tem como objetivo tornar-se hegemônico nesta sociedade, penetrando em toda e qualquer forma de relação humana. O Estado Nazista auto-afirma sua imagem dentro desta sociedade, e se utiliza do cinema como um meio para a construção desta imagem. Neste Sentido, o filme O Triunfo da Vontade é articulado pelo Nazismo na direção da construção de uma  “estetização” da política, de modo a refletir suas concepções de mundo e suas relações de poder, promovendo assim o que chamamos de uma geopolítica cinematográfica.

A pesquisa concluiu que o cinema foi utilizado pelo regime nazista com o objetivo de se construir uma estética própria, baseada nos fundamentos filosóficos e políticos do partido. Desta maneira, os realizadores do filme tinham um compromisso com a realização, no campo do cinema, das concepções nazistas de política, estética e poder.

Nesse sentido, a idéia de uma cinematografia geopolítica aponta para os objetivos do filme enquanto um objeto de ação política realizada pelo Estado nazista: as ações apontadas no filme exigem uma realização no “concreto”, ou seja, na realidade nacional (a instituição do Estado totalitário e a constituição de um “inimigo” comum) e internacional (a Guerra e a preparação para a Guerra, com objetivo de tornar a Alemanha um Estado “Imperial”).

O filme, desta maneira, age dialeticamente com o Estado Alemão: ao mesmo tempo em que este justifica as ações do Estado, o Estado Nazista justifica a realização do filme, que tem, em seu caráter oficial, sua legitimidade.

Concluímos, por fim, que as formas de expressão artística podem nos oferecer muitas pistas sobre as implicações da realidade internacional para a expressão cultural. Devido à sua proporção, o cinema torna-se fundamental para a compreensão das relações internacionais, pois, devido à sua difusão em caráter global, suas imagens, seus discursos e suas idéias têm diferentes impactos em diferentes sociedades.