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F. Ciências Sociais Aplicadas - 1. Gestão e Administração - 1. Administração Geral e Gestão Estratégica
ANÁLISE DA PARTICIPAÇÃO DAS EMPRESAS DE CAPITAL ESTRANGEIRO ENTRE AS 100 MAIORES EMPRESAS DO SUL DO BRASIL NO PERÍODO DE 2000 A 2004
Viviane Ceratti Leseux 1
Douglas Wegner 1
(1. Universidade de Santa Cruz do Sul - UNISC)
INTRODUÇÃO:

Nas últimas décadas a maioria dos países passou por um processo de abertura e internacionalização de sua economia. Para algumas nações essa abertura permitiu a importação de produtos a preços competitivos e a exportação dos produtos locais gerando renda e desenvolvimento. Em outros casos, a entrada de concorrentes estrangeiros causou sérios problemas à indústria local, pouco competitiva e acostumada a um ambiente protecionista. As críticas ao processo de abertura da economia brasileira baseiam-se principalmente no fato de que as empresas de capital estrangeiro são mais eficientes e melhor geridas que as empresas de capital nacional e estatal. Pressupõe-se que tais empresas têm acesso a melhores tecnologias de produção e gestão, levando-as a um desempenho melhor do que suas concorrentes brasileiras. Em uma visão pessimista haveria um avanço cada vez maior das empresas de capital estrangeiro sobre as empresas nacionais.

Com base nessas considerações, o estudo teve como objetivo fazer uma análise das cem maiores empresas do Sul do Brasil, identificando as características e a evolução das empresas de capital estrangeiro nesse grupo entre 2000 e 2004, em comparação com as empresas de capital brasileiro privado e estatal. Partiu-se da hipótese de que houve crescimento das empresas de capital estrangeiro dentro do grupo no período pesquisado, bem como essas empresas obtiveram resultados financeiros mais consistentes que as demais.

METODOLOGIA:

O trabalho consistiu em uma pesquisa descritiva, caracterizada por Cervo e Bervian (2002) como aquela que observa, registra, analisa e correlaciona fatos e fenômenos sem manipulá-los. Realizou-se um levantamento de informações econômicas sobre as cem maiores empresas do Sul do Brasil no período compreendido entre  os anos 2000 e 2004, tomando como referência o Anuário Exame Melhores e Maiores (Editora Abril). As empresas da lista foram divididas em grupos, de acordo com seu controle acionário (brasileiro privado, brasileiro estatal ou estrangeiro), para avaliação da participação de cada grupo no conjunto de empresas da lista. Também foram analisadas informações relativas à margem de lucro líquido sobre as vendas (MLL) e rentabilidade sobre o patrimônio líquido (ROE) das empresas da lista, buscando comparar os resultados de cada grupo. A MLL pode ser obtida dividindo-se o lucro líquido pelo valor total das vendas, ao passo que o ROE é calculado dividindo-se o lucro líquido pelo patrimônio líquido da empresa (GITMAN, 2004). O ROE é um indicador de excelência da empresa, pois refere-se à capacidade da empresa de remunerar o capital investido pelos seus acionistas. A comparação das informações relativas a cada ano da pesquisa (2000 – 2004) permitiu avaliar o crescimento da participação das empresas de capital estrangeiro no Sul do Brasil, bem como identificar a margem de lucro e a rentabilidade de cada grupo de empresas, respondendo ao problema de pesquisa proposto.

RESULTADOS:

A maioria das 100 maiores empresas do Sul do Brasil concentra-se no Rio Grande do Sul (47% em 2000 e em 2004), com destaque para o crescimento do número de empresas instaladas no Paraná (31% em 2000 e 37% em 2004). Em relação ao seu controle acionário, no ano 2000 havia 63 empresas de capital brasileiro privado entre as maiores, 30 empresas de capital estrangeiro e apenas 7 empresas de capital brasileiro estatal. Em 2004, esses grupos consistiam, respectivamente, de 64, 29 e 7 empresas. Em nenhum momento houve mudanças significativas em relação à participação das empresas estrangeiras no grupo pesquisado.

Na análise da MLL, no ano 2000, as empresas estatais apresentavam o melhor indicador (média de 6,41%) contra 2,46% das empresas de capital brasileiro privado e 0,65% das empresas de capital estrangeiro. Em 2004, as empresas de controle brasileiro estatal continuavam com a melhor MLL (8,53%) contra 7,68% das empresas de capital privado e 4,19% das empresas de capital estrangeiro. Uma hipótese para o resultado é o fato de que as empresas estatais, em sua maioria, atuam em setores com pouca ou nenhuma concorrência, podendo aplicar uma margem maior.

Quanto ao ROE, o melhor desempenho ao longo dos cinco anos pesquisados alternou-se entre os grupos de empresas de capital nacional estatal e privado. As empresas de capital estrangeiro tiveram ROE de 1,5% em 2000 e 13% em 2004, ano em que as empresas de controle acionário brasileiro privado atingiram índice de 24,58%.

CONCLUSÕES:

Os resultados demonstram que não houve crescimento na participação das empresas estrangeiras no grupo das 100 maiores empresas do Sul do Brasil entre 2000 e 2004. Da mesma forma, a partir da análise da MLL e do ROE de cada grupo de empresas, verificou-se que não há superioridade das empresas de controle estrangeiro em nenhum destes indicadores. Pelo contrário, na análise do ROE, observou-se que as empresas de capital brasileiro privado obtiveram resultados mais consistentes do que as empresas de controle estrangeiro em todos os anos pesquisados.

É possível que tenham ocorrido mudanças significativas na composição do grupo de empresas antes do período pesquisado, ao longo da década de 1990, quando houve maior liberalização econômica no Brasil e muitos grupos estrangeiros vieram se estabelecer ou adquiriram empresas locais. Entretanto, tais informações não eram publicadas pelo Anuário Exame Melhores e Maiores naquela época, dificultando a análise.

Como sugestão para novas pesquisas, destaca-se a necessidade de ampliar a série histórica para comparação, abrangendo um período de tempo superior ao utilizado neste estudo. Isso permitirá analisar mais detalhadamente os efeitos do processo de abertura econômica sobre as empresas da região Sul do país. Outra sugestão é utilizar outras fontes de dados para comparar com as informações do Anuário Exame Maiores e Melhores, tais como anuários produzidos pela Gazeta Mercantil e Revista Amanhã.

Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: Internacionalização econômica; Competitividade; Índices financeiros.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006