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D. Ciências da Saúde - 2. Medicina - 7. Saúde Materno-Infantil

DESENVOLVIMENTO DE RESISTÊNCIA A ANTI-RETROVIRAIS ENTRE MULHERES USANDO ESQUEMAS PROFILÁTICOS DURANTE GRAVIDEZ: UMA ANÁLISE PÓS-PARTO

Elisa Meiti Ribeiro Lin 1
Fabiana Maria Kakehasi 2
Unaí Tupinambás 3
Agdemir Waléria Aleixo 4
Silvia Correia Cleto 5
Jorge Andrade Pinto 6
(1. Acadêmica do Curso de Medicina/Faculdade de Medicina(FM) da UFMG; 2. Doutoranda do Curso de Pós Graduação em Pediatria/FM-UFMG; 3. Doutor, Médico Infectologista da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte/PBH; 4. Doutora, Grupo de Aids Materno-Infantil da Faculdade de Medicina da UFMG; 5. Bióloga, Grupo de Aids Materno-Infantil da Faculdade de Medicina da UFMG; 6. Orientador, Professor Adjunto, Doutor do Departamento de Pediatria/FM-UFMG)
INTRODUÇÃO:
O uso de anti-retroviral (ARV) durante gestação diminui significantemente o risco de transmissão vertical do HIV para níveis inferiores a 3%. O efeito protetor da terapia anti-retroviral (TARV) aumenta com a complexidade e a duração do esquema. Recomenda-se assim que toda mulher infectada receba ARV durante a gravidez como parte do tratamento e controle de sua infecção ou como esquema profilático para prevenção da transmissão vertical do HIV. Apesar do benefício do uso materno de ARV na redução das taxas de transmissão vertical do HIV, estudos sobre o impacto do desenvolvimento de resistência a drogas entre mulheres que usaram ARVs profilaticamente durante a gestação ainda são escassos. O objetivo deste trabalho foi determinar o desenvolvimento de vírus com mutações associadas à resistência a terapia em gestantes expostas aos ARVs que suspenderam terapia após o parto.
METODOLOGIA:
Estudo prospectivo conduzido de setembro de 2002 a agosto de 2004 com gestantes infectadas pelo HIV, oligossintomáticas, com contagem de linfócitos T CD4 > 250 células/mm3 e carga viral > 1.000 cópias/mL à admissão. Todas interromperam terapia após o parto na ausência de progressão clínica, imunológica ou virológica. Os dados foram coletados em questionário padronizado: história da infecção pelo HIV, uso de ARV, história obstétrica. O acompanhamento foi realizado em consultas trimestrais durante a gestação, ao parto, seis semanas e seis meses após o parto com exames laboratoriais a cada consulta (contagem de linfócitos T CD4+ e viremia plasmática). Amostras de plasma de 34 mulheres que receberam ARV profilático durante a gravidez estavam disponíveis e foram testadas para identificação da resistência ao HIV em agosto de 2005. O teste de genotipagem foi obtido em dois momentos: antes ou durante o uso de terapia anti-retroviral e seis meses após a interrupção da profilaxia. Amplificou-se a região pol do HIV para o seqüenciamento das enzimas transcriptase reversa (TR) e protease (PR). As seqüências genéticas obtidas foram analisadas no programa Stanford HIV-SEQ (disponível em http://hivdb.stanford.edu), com análise das mutações segundo critérios da International Aids Society (IAS). Dados estatísticos foram feitos no programa SPSS versão 11.0. Aprovação no Comitê de Ética da UFMG com registro ETIC 008/97.
RESULTADOS:

Das 34 mulheres estudadas, em 29 delas foi obtido com sucesso a genotipagem antes/durante e após a interrupção da profilaxia com anti-retroviral. A maioria das mulheres (28/29, 96,6%) apresentava-se com sintomas e com imunodepressão leves a moderados (classificação CDC93 A1 ou A2, mediana de contagem de linfócitos T CD4+ de 550 células/mm3 a admissão). O principal esquema prescrito foi zidovudina (ZDV) + lamivudina (3TC) + nelfinavir (NFV) (65,5%), seguido por ZDV+3TC+ nevirapina (NVP)  (17,2%) e ZDV (17,2%). As medianas de carga viral e da contagem de linfócitos T CD4+ no momento do parto e após o uso de ARV foram de 49 cópias/ml e 525 células/mm3 e, de 9.369 cópias/ml e 464 células/mm3, respectivamente. Nenhuma criança foi infectada. O subtipo B do HIV foi o mais prevalente (72,4%), mas subtipo F (17,4%), D/B (3,4%), D/F (3,4%) e D/B/F (3,4%) foram também encontrados. Dentre as cinco mulheres no regime baseado na nevirapina, nenhuma apresentou evidência de resistência, medida pela mutação K103N ou Y181C. Alta taxa de resistência ao nelfinavir foi observada dentre as mulheres com regime baseado em inibidores de protease (5/19, 26,3%), com as mutações D30N + N88D (1/19), N88S (3/19) e L90M (1/19). Não foi observado desenvolvimento de resistência aos inibidores da transcriptase reversa nucleosídeos.

CONCLUSÕES:
Nesse grupo de mulheres, a exposição aos ARV durante a gestação foi eficiente para impedir a transmissão vertical. Alta taxa de resistência ao nelfinavir observada nesta população deve alertar sobre a escolha de ARV utilizados na gestação e em opções terapêuticas futuras. Recomenda-se o teste de genotipagem para mulheres que foram expostas aos ARVs durante a gestação quando da indicação de tratamento.
Instituição de fomento: CNPq
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: HIV; genotipagem; gestantes.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006