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G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 12. Psicologia
HISTÓRIA DE VIDA: FAMÍLIAS OUVINTES DE ADOLESCENTES SURDOS
Fabíola Zeni Papini 1
Cláudia Bisol 2
Carla Beatris Valentini 3
(1. Acadêmica de Psicologia da Universidade de Caxias do Sul; 2. Prof. Ms. Departamento de Psicologia da Universidade de Caxias do Sul; 3. Prof. Dra. do Departamento de Informática da Universidade de Caxias do Sul)
INTRODUÇÃO:

 O projeto Navis – História de Vida: Famílias Ouvintes de Adolescentes Surdos – tem como objetivo compreender, através da história de vida das famílias, o contexto de desenvolvimento de adolescentes surdos filhos de pais ouvintes. O presente projeto integra-se à pesquisa chamada CONSENSU – Narrativas de Adolescentes Surdos: O Ambiente Multimídia e a Construção de Sentido. Esta pesquisa tem como objetivo estudar as narrativas de adolescentes surdos filhos de pais ouvintes para compreender algumas questões que esta diferença sensorial propõe sobre a construção da subjetividade e do conhecimento. Ouvir as famílias significa compreender a teia de significados que as envolve, já que cada membro pode trazer versões diferentes sobre os acontecimentos, a partir de sua constituição subjetiva. Esses adolescentes e suas famílias são atravessados por duas línguas e duas culturas, pela marca da diferença e pelos sentidos então construídos. Constitui-se um complexo jogo de identificações no qual estão de um lado a língua e a cultura dos surdos, e de outro a língua e cultura dos ouvintes. Assim, conhecer a história de vida das famílias, através do relato dos pais, torna-se um importante instrumento de apoio e compreensão das relações que o surdo compartilha no seio familiar.

METODOLOGIA:

O delineamento metodológico utilizado é o estudo de caso múltiplo proposto por Yin (2001), já que buscamos identificar o mesmo fenômeno (histórias de vida de famílias atravessadas pela surdez) sob condições singulares, considerando o contexto altamente pertinente ao estudo. Foram realizadas uma entrevista narrativa e uma semi-estruturada com cada família dos quatro adolescentes surdos, em suas residências, com um tempo médio de 1hora e 30minutos. Os adolescentes têm 13, 14, 15 e 16 anos, utilizam a Língua de Sinais (LIBRAS) como principal forma de comunicação, cursam as 6ª e 7ª séries do ensino fundamental e são provenientes de famílias ouvintes. A entrevista narrativa buscou encorajar e estimular os informantes a contar a história de momentos importantes da sua vida e do contexto social. A entrevista semi-estruturada foi utilizada para aprofundar algumas questões consideradas relevantes segundo a análise da entrevista narrativa. As entrevistas foram gravadas e transcritas. Os dados coletados de cada família foram organizados em quatro colunas, que correspondem às questões norteadoras deste projeto, isto é, a história de vida do surdo na família, as representações que a família constrói sobre a surdez, a comunicação da família com o filho surdo e os aspectos econômicos, sociais e culturais.

RESULTADOS:
A partir da análise dos dados foi possível identificar que o período de descoberta da surdez variou entre 1 ano e 2 meses e 3 anos, sendo que em duas famílias a desconfiança da surdez não surgiu dos pais, mas de familiares. Dois destes adolescentes apresentam surdez congênita, enquanto outros dois tiveram, provavelmente, perda auditiva decorrente de medicação ototóxica. O “choque” dos pais ao tomarem conhecimento do diagnóstico, as dúvidas sobre como se comunicar e a revolta foram sentimentos vivenciados. Através da orientação de profissionais da área médica e educacional, facilitou-se o processo de aceitação e adaptação. Observa-se que a Língua de Sinais pode se tornar um elemento integrador da família, no momento em que os pais elaboram as dificuldades iniciais e percebem que através da língua é possível compartilhar símbolos e sentidos às experiências. O contrário também é observado, tendo como conseqüência um distanciamento nas interações e um desinvestimento da família na comunicação com o filho. Porém, as famílias entrevistadas pouco problematizam essas questões. Dos pais entrevistados, o membro que mais interage com o filho surdo, utilizando a língua de sinais, é a mãe. Somente em uma família o pai freqüentou, por algum tempo, as aulas de LIBRAS. Este dado é relevante à medida em que aponta para uma dinâmica que se estabelece nessas famílias ouvintes, nas quais um dos pais se encarrega mais do que o outro dos cuidados com o filho.
CONCLUSÕES:
Os períodos conflitivos e os sentimentos vivenciados na busca pela aceitação da surdez do filho, se não superados, podem comprometer as interações, prejudicando as trocas afetivas e o desenvolvimento lingüístico e emocional do surdo. O diagnóstico tardio da surdez também pode prejudicar a imersão do surdo na sua língua natural. Para que se crie um ambiente favorável para o desenvolvimento é preciso que os pais aprendam a decodificar, memorizar e internalizar esta nova língua. Incidem sobre este aspecto outros elementos, tais como as atividades profissionais da família, o grau de escolaridade e a classe social. As condições socio-econômicas também afetam significativamente as interações entre seus membros, sendo que as famílias com nível mais baixo apresentam sobrecarga de responsabilidades, principalmente nas mães. Quanto maior for a qualidade das interações e a fluência da família em LIBRAS, maior a possibilidade de um desenvolvimento integral dos filhos. Nesse contexto, uma compreensão maior sobre a surdez ocorre com a entrada na escola especial para surdos.
Instituição de fomento: FAPERGS
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: história de vida; famílias ouvintes; surdez.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006