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H. Artes, Letras e Lingüística - 3. Literatura - 5. Teoria Literária

A PRODUÇÃO DE SENTIDO PELO LEITOR INICIANTE EM NARRATIVAS VERBO-VISUAIS

Flávia Brocchetto Ramos  1
Neiva Senaide Petry Panozzo  2
Taciana Zanolla  3
(1. Departamento de Letras / UCS; 2. Departamento de Educação e Ciências Humanas / UCS-CARVI; 3. Acadêmica do Curso de Letras e Bolsista BIC FAPERGS / UCS )
INTRODUÇÃO:
O processo contemporâneo de produção cultural utiliza-se de diferentes linguagens, apropriando-se das mesmas, combinando-as e modificando-as, a fim de gerar novas competências para dar conta da emergência do universo simbólico na sociedade atual. Essa tendência manifesta-se também na literatura infantil. Embora palavra e imagem tenham sido exploradas pelo gênero desde sua origem, no século XVII, as obras literárias direcionadas ao público infantil, atualmente, têm apresentado uma interação crescente entre as linguagens. Diante disso, o projeto “A produção de sentido e a interação texto-leitor na literatura infantil” investigou o sincretismo discursivo de linguagens em textos literários infantis, na presença de palavra e visualidade, a fim de construir referenciais que contribuam para a formação de leitores hábeis. Buscou-se identificar os modos de constituição do significado em narrativas verbo-visuais infantis selecionadas, investigando  as formas de junção de visualidade e palavra e a possível geração de uma nova textualidade na constituição de significados. Além disso, analisou-se a relação de alunos de terceira série do ensino fundamental com esses textos, em situação de leitura, tendo como referenciais a teoria da recepção (ISER, 1996) e o estatuto de literatura infantil (ZILBERMAN, 1985). Neste trabalho, apresentamos uma síntese dos resultados obtidos durante a investigação, realizada na UCS, no período de março de 2003 a fevereiro de 2006.
METODOLOGIA:
Em um primeiro momento, foi realizada a revisão teórica sobre leitura e literatura infantil. A seguir, foram analisados diversos textos literários dirigidos ao público mirim, a partir do referencial adotado. Entre as obras, foram selecionadas quatro – Indo não sei aonde buscar não sei o quê, de Angela Lago (2000), Ah, Cambaxirra, se eu pudesse..., de Ana Maria Machado (2003), Todo cuidado é pouco!, de Roger Mello (1999) e Exercícios de ser criança, de Manoel de Barros (1999) – , apresentadas para leitura a alunos de terceira série do ensino fundamental, durante a realização de entrevistas episódicas. Essa modalidade de entrevista individual foi adaptada de uma das propostas presentes em Pesquisa qualitativa com imagem, texto e som (BAUER, GASKELL, 2003). Ao todo, foram realizadas cinqüenta e sete entrevistas, que constituíram material de análise do processo de construção de sentido pelos alunos frente à interação com palavra, visualidade e entre essas linguagens. O estudo desse material indicou que as crianças interagem com palavra e visualidade para a atribuição de significado, mas geralmente ignoram possibilidades de significação do texto sincrético. A partir das observações, oferecemos um curso sobre leitura de narrativas verbo-visuais a docentes da rede pública caxiense, a fim de divulgar os resultados obtidos e investigar os modos de leitura dos professores.
RESULTADOS:
A análise textual como geração de discursos tem como ponto de partida a constituição do texto como um todo, com relações internas e extra-textuais, independente da história de sua criação. O conceito chave é a significação, e seus modos de construção sincrética são apreendidos pela articulação existente entre as diversas linguagens constituidoras do texto e pelos contrastes gerais no nível da manifestação do texto. Através do estudo dos textos de literatura infantil, constatou-se a ocorrência de sincretismo entre o verbal e o visual. Na análise das entrevistas, foram identificadas competências variáveis de leitura nos sujeitos participantes da pesquisa. Constatou-se que existem potencialidades semânticas nas narrativas infantis, mas a maioria dos entrevistados tratou os textos de forma intuitiva, apenas em busca de uma mensagem. As entrevistas realizadas apontam que predominam idéias subjetivas e preconcebidas nas significações atribuídas pelas crianças. Essas atitudes advêm, possivelmente, da influência do meio adulto (professor e família), pois houve semelhança entre leituras dos alunos entrevistados e dos docentes que participaram do curso.
CONCLUSÕES:
As lacunas na competência de leitura de textos de literatura infantil, observadas nos sujeitos desta investigação, sejam educandos ou educadores, sinalizam que o tratamento dado à literatura infantil e à leitura na escola não tem sido eficaz para a formação de leitores competentes. Um caminho fundamental para a transformação desse quadro é a formação de professores, de forma a instrumentalizá-los para perceber os sentidos inerentes à complexidade da narrativa literária, constituída pela palavra e visualidade. Se a obra for considerada na sua totalidade, o leitor será desafiado a atuar como co-autor do texto, podendo vivenciar a fruição estética de obras literárias de cunho emancipatório. Nesse sentido, as propostas de leitura de narrativas infantis contemporâneas, construídas ao longo desta investigação, podem servir como subsídio pedagógico na formação do leitor. Os resultados da pesquisa oferecem embasamento teórico para o trabalho com a obra literária infantil, pois, ao descrever os constituintes do texto, oferecem elementos fundamentais para a mediação de leitura.
Instituição de fomento: FAPERGS
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: Literatura infantil; Narrativas verbo-visuais; Leitura.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006