No Brasil dos anos 70, em meio ao descaso e repressão militar do governo (primeiro setor) e da indiferença social da área privada (segundo setor), começava a ser mais difundido o terceiro setor. Este setor é caracterizado pela atividade das associações civis organizadas, sem fins lucrativos, com ações que visavam o atendimento das necessidades coletivas, bem como difundiam os princípios de solidariedade, igualdade e cidadania (HUDSON, 1999).

Nas décadas de 80 e 90, este movimento de ajuda ganhou força, com a atuação de organizações não-governamentais (ONGs), fundações, cooperativas e associações civis, em diversas áreas da sociedade, como educação, saúde, ecologia, assistência a idosos, mulheres e menores, entre outras.

Atualmente, as organizações de terceiro setor são importantes para compreender a natureza de um fenômeno que não tem suas bases na esfera estatal, mas possui uma história, valores e modos de atuação originais, mostrando a inovação e ousadia dessas entidades que se preocupam com o bem comum da sociedade.

Para o desenvolvimento do estudo foi proposto a busca de especificidades, descrição de ações e subjetividade, e desse modo, a pesquisa qualitativa na abordagem de um estudo de multi-casos foi adotada. Este método de procedimento foi ao encontro dos objetivos e proporcionou o uso de fontes que apontassem a configuração da gestão em organizações do terceiro setor em Uberlândia (YIN, 2004).

Por meio da pesquisa de Valadão Jr e Pires (2005) foi possível o levantamento das instituições não governamentais da cidade de Uberlândia e a partir deste estudo realizou-se a seleção da amostra tendo como critério que o objetivo da organização fosse: assistência e promoção social. Dentre estas entidades, foram escolhidas as que atuavam no campo da educação de crianças e adolescentes, e por fim, aquelas que possuíam um vínculo religioso.

Os casos ficaram limitados a um número restrito de cinco instituições com princípios cristãos (evangélicos, católicos e espíritas), o que pode apresentar características que impossibilitem generalizações maiores a outros tipos de instituições, mas que podem oferecer transferibilidade de experiências a outras organizações do terceiro setor.

Dessa maneira, por meio da reflexão bibliográfica e da análise de documentos, entrevistas e observação direta, este estudo verificou o modo de gestão, por intermédio da análise de quatro categorias: a profissionalização, a gestão, a religião e a educação dentro das instituições escolhidas.

Sobre a profissionalização, pode-se afirmar que com o crescimento do número de entidades consideradas de terceiro setor, aumenta também a quantidade de pessoas no mercado de trabalho. Nas entidades pesquisadas é empregada uma média de três funcionários por instituição.

Por possuir os valores comunitários e de objetivo social, o terceiro setor distingui-se da burocracia e hierarquia do Estado e do mundo individualista do mercado. As ferramentas de gestão, categorizadas dentro do planejamento, organização, direção e controle, devem ser utilizadas de acordo com a visão e as características de cada organização. Desse modo, esta gestão social e participativa precisa ser aperfeiçoada dentro das entidades para que se estabeleça um planejamento que se adapte ao seu contexto organizacional.

A religião justifica e forma a ideologia, o modo de vivência do homem e as normas adotadas como certas pela sociedade. Assim, foi possível observar que além da religião desempenhar papel fundamental na história da sociedade contemporânea, ela também influencia no surgimento de movimentos sociais para a promoção do bem-estar comum. Em relação à educação, alguns valores do terceiro setor como a benevolência, a caridade, a solidariedade, o trabalho conjunto, as negociações e a participação coletiva, quando aprendido pelas crianças e adolescentes podem transformar o futuro econômico e social de muitos países, que terão seus governos e valores atrelados a uma ideologia mais justa e igualitária.

A gestão das instituições sem fins lucrativos com cunho religioso de assistência social à criança e adolescente está diretamente atrelada aos fatores analisados (profissionalização, gestão, religião e educação), sendo possível realizar algumas considerações relevantes como: a abertura do terceiro setor para a profissionalização e capacitação individual, onde as instituições servem de base para o plano de carreira de seus funcionários/voluntários; a ausência de análise comunitária dos modelos administrativos adotados por estas organizações, implantando-os, muitas vezes, de acordo com a visão empresarial; a existência da propagação dos princípios solidários e de bem-estar comum para os jovens; e a necessidade da criação de redes entre as entidades que possuam a mesma área de atuação, para a realização de um trabalho efetivo e conjunto.

No entanto, verificou-se ainda, a necessidade de um processo de conscientização e reflexão da sociedade sobre os problemas ocorridos nestas organizações e suas possíveis soluções para que ocorra a difusão dos conceitos das organizações do terceiro setor. Particularmente, os resultados encontrados dentro das instituições indicam que é preciso a formulação de modelos de gestão voltados às suas realidades e aos pressupostos do terceiro setor, tendo devido cuidado ao transferir as ferramentas da administração de empresas para estas organizações, tal como buscando agregar os valores sociais e religiosos que as modelam.